Como utilizar as novas tecnologias educacionais?
Novas tecnologias? Na área educacional estamos sempre atrás do ‘como’: como ensinar? Como promover debates instigantes na sala de aula que estejam afinados com as demandas sociais de nosso tempo? De que modo nos permite (re)aprender? E como incentivar a produção de conhecimento no espaço da escola por meio das tecnologias educacionais?
Sabemos que para todas essas indagações não há uma resposta única e absoluta. É no partilhar de nossas práticas que vamos, juntos, pensando em possíveis caminhos e, por isso, o diálogo entre docentes e discentes é tão importante, ainda mais quando o assunto é tecnologia.
E o que seria uma aprendizagem significativa? Os sentidos e significados do aprender acabam tendo uma dimensão pessoal que nem sempre conseguimos, como professores, alcançar em sua plenitude.
As subjetividades dos nossos estudantes misturam-se com as nossas expectativas e com as nossas concepções de ‘ensino’, ‘aprendizagem’, ‘escola’, ‘avaliação’, ‘currículo’ e tudo o mais que envolve a prática educacional.
Aprendizagem significativa por meio das novas tecnologias educacionais
Para respondermos sem rodeios à pergunta do título deste artigo, podemos afirmar que a promoção da aprendizagem significativa está vinculada à capacidade de tocar, ou seja, é aquela que consegue provocar no estudante o contato com a dimensão sensível do existir para transformar a si mesmo e ao mundo que o rodeia via conhecimento.
A aprendizagem significativa é, em grande medida, o criar a partir do simples, tornando-o complexo. É uma tentativa de resposta ao mundo a partir do encontro de pessoas, saberes, sabores e sonhos, ainda que nem sempre tenhamos consciência desse processo. Mas o que muda quando inserimos as tecnologias digitais nessa discussão?
Temos que pensar a favor do que elas têm sido mobilizadas nas práticas escolares (COSTA, 2021). O digital que pode ser trabalhado como potencializador da criatividade e da coletividade é o mesmo que pode ferir reforçando estereótipos; portanto, é no uso crítico e consciente que vai residir o sentido humano que queremos e, justamente por isso, nossa atuação docente é fundamental.
A aprendizagem significativa por meio das tecnologias é aquela em que o digital esteja plenamente em sintonia com uma sociedade democrática, plural e que valorize o outro na sua especificidade, incluindo e não excluindo. É aquela em que o verbo ‘esperançar’, que nos dizia Paulo Freire, passa a fazer todo sentido e não deixa nossas utopias se perderem.
PNLD 2021 – Objeto 1: Acesse a obra “Da Escola Para o Mundo – Linguagens e suas Tecnologias“.
Usando o digital para enriquecer a aprendizagem significativa
A pesquisadora Caroline Pacievitch (2020) comenta que criar utopias se assemelha a estarmos em uma sala fechada e, repentinamente, alguém abrir todas as janelas, bagunçando as ideias e as fazendo circular. Para ela, a utopia nos faz fugir das teleologias, das linearidades, permitindo-nos escapar das determinações.
É um convite a pensarmos fora das contingências, arriscando-nos a dar saltos no tempo, produzir e não meramente reagir. A utopia não é o reino do impossível, afirma, o que corrobora a nossa ideia de que as tecnologias educacionais podem e devem estar atreladas a dimensão sensível para ousarmos, criarmos conjuntamente, mobilizando, na prática, um saber em rede em que a presença de um afete e seja afetada pela presença do outro.
O digital pode ser o espaço-tempo da esperança na construção da aprendizagem significativa. Para que esse deslocamento se materialize em nosso dia a dia do fazer docente é necessário nos alimentarmos não apenas das leituras de nossas áreas de conhecimento específicas, mas também do fazer poético, do lúdico, da natureza, daquilo que nos preenche como seres integrais.
A poesia e a leveza do brincar provocam novas formulações mentais, corporais e sentimentais, sendo que, em tempos pandêmicos, várias dessas práticas têm sido partilhadas via tecnologia.
Leia também: Amorosidade e tecnologia como parceiras na educação.
Questões reflexivas para entender a aprendizagem
Lanço aqui algumas perguntas: qual foi a última vez que você brincou? Qual foi a última poesia que você leu? Como foi a experiência que você teve nos últimos dias com os sons da natureza, mesmo que pelos aplicativos do seu celular? Você ouviu os sons do seu próprio corpo?
E nas redes sociais: do que você tem se nutrido? Que tipo de postagens você costuma fazer? Será que nossos alunos param para pensar naquilo que postam e naquilo que consomem nesse universo digital? Podemos orientá-los nesse processo? Mesmo que essas questões nos deixem sem respostas, pensar sobre elas já é um primeiro passo.
A aprendizagem significativa tem relação direta com a experiência de cada um de nós, com o quanto nos permitimos reinventar com e sem o uso das tecnologias hoje presentes no cenário educacional, fato que necessita de pausas, de reflexões, de desacelerações, ou seja, tem ligação com o processo de autoconhecimento, considerado a oitava competência geral da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Importante salientar que a cultura digital também é uma competência geral destacada no documento, a quinta delas.
Conclusão sobre novas tecnologias
Se estamos a pensar sobre aprendizagens na dimensão cognitiva e socioemocional, não podemos deixar de mencionar que precisamos rever as práticas avaliativas empregadas nas escolas, investindo, conforme nos aponta Martins (2020), na diversificação dos instrumentos que empregamos para tal fim.
Em diálogo com o autor, reforçamos que a aprendizagem significativa e a avaliação democrática serão aquelas em que sejam permitidas e incentivadas a criação de uma narrativa autoral por parte dos discentes, valorizando seus talentos, habilidades, imaginações e bagagens de vida construídas ao longo de todo seu percurso na escola e fora dela.
Quantos alunos nossos conseguem fazer isso de forma brilhante por meio de podcasts, sites, games, memes, e outras linguagens que o universo digital nos brinda? Precisamos estar abertos a essas formas de ensinar, aprender e construir conhecimento. Sermos aprendizes da nossa própria prática, permitindo-nos aprender com nossas crianças e jovens, continua sendo um caminho promissor.
Referências
BRASIL. MEC. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, 2018.
COSTA, Marcella Albaine Farias da. Ensino de História e historiografia escolar digital. Curitiba: CRV, 2021.
MARTINS, Marcus Leonardo Bomfim. Avaliação democrática das aprendizagens históricas: desafios à Didática da História. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.36, 2020.
PACIEVITCH, Caroline. Sonhar desperto: formação docente e utopias políticas-educacionais. Webinário do LAEH, 5 out. 2020. 72 min. Live. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3ibhIKWV47c Acesso em 13 abr. 2021.
RATIER, Rodrigo. O que Paulo Freire ensina sobre esperança em 2021.Uol. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/rodrigo-ratier/2021/01/04/o-que-paulo-freire-ensina-sobre-esperanca-em-2021.htm Acesso em 13 abr. 2021.
Marcella Albaine
Pós-doutoranda em Educação pela UFRGS. Doutora em História pela UNIRIO. Mestre em Educação pela UFRJ. Especialista em Tecnologias da Informação Aplicadas à Educação pela UFRJ. Graduada em História (bacharelado e licenciatura) também pela UFRJ. Para contato com a autora, acesse: https://marcellaalbaine.wixsite.com/ensino