Qual a importância do ensino da Arte na escola?
Material de divulgação das editoras Ática, Saraiva e Scipione.
Não constitui documento oficial a respeito do PNLD.
A Arte representa um importante componente curricular no Ensino Básico brasileiro. O aprofundamento dessa disciplina é uma forma de formar cidadãos mais justos e emocionalmente preparados para a vida em conjunto.
Convidamos a autora de livros didáticos e paradidáticos Beá Meira para falar sobre a relevância de se ensinar Arte nas escolas. Além disso, a coautora da coleção Mosaico Arte adentra na questão da Arte dentro da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Antes de ler o texto escrito pela autora, conheça alguns detalhes sobre sua coleção Mosaico Arte, aprovada no PNLD 2020:
A importância do ensino da arte na formação cidadã
A arte é um campo de conhecimento transdisciplinar, algumas vezes coletivo, de investigação e experimentação e que tem a potência para transformar o mundo.
Isto quer dizer que, no campo da arte, é possível criar novos conhecimentos, integrando saberes, através de processos criativos, do pensamento crítico, por meio de experimentos, reflexões e ações.
A arte é também um campo do conhecimento que instaura de forma contínua um processo de comunicação com a sociedade, por meio de exposições, shows, festas, espetáculos, festivais, filmes, publicações e encontros que provocam emoções, trocas de saberes e afetos.
O Brasil é um país reconhecido mundialmente por sua diversidade cultural e uma sofisticada produção estética, que emerge de sua população mestiça.
Encontramos esta potência em todas as dimensões da sociedade; nas culturas de matrizes ancestrais indígena e africana, nas culturas sertanejas, ribeirinhas, caipiras e caiçaras e na cultura urbana que se estabelece a partir dos fluxos de migração europeia e asiática no início do século XX.
Nesse momento histórico, os artistas e intelectuais brasileiros elaboraram uma estética de ruptura com a cultura eurocêntrica ao propor o manifesto antropofágico, que germinou a geração da década de 1970, com artistas como:
- Caetano Veloso,
- Gilberto Gil,
- Ligia Clark,
- Hélio Oiticica,
- Augusto Boal,
- José Celso Martinez Correia,
- Glauber Rocha,
- Entre muitos outros, que contribuíram com proposições artísticas na cena mundial e expandiram radicalmente o que hoje chamamos de arte.
No entanto, grandes segmentos da população brasileira, muitos professores de arte inclusive, não reconhecem o valor extraordinário da cultura autóctone.
Isto é, da cultura local, regional, urbana ou rural, que acontece no imenso e diverso território brasileiro.
Quer aproveitar para conhecer um pouco mais sobre a coleção Mosaico Arte? Confira uma conversa com os autores da obra aprovada no PNLD 2020:
A Arte como prática educativa e reconhecimento da cultura
Toda esta complexidade da arte não se dá de forma espontânea, arte se ensina estudando e praticando com dedicação, seja em processos geracionais familiares ou comunitários, seja na escola, no museu, na igreja, ou nas instituições de educação não formal.
O processo de ensino e aprendizagem é intrínseco no campo da arte, alguns artistas, inclusive, consideram a própria produção artística como uma prática educativa, na medida em que podem ser concebidas em processos colaborativos a partir de intensas trocas e negociações ou que promovam a participação do público.
Deste modo o ensino de Arte na escola torna-se fundamental para a formação de um cidadão que possa conhecer melhor a si mesmo, reconhecer sua cultura e a do outro, e estar preparado para dialogar com indivíduos e grupos com diferentes cosmovisões e provenientes de variados contextos históricos, sociais e territoriais.
A BNCC, Base Nacional Comum Curricular, documento que desde 2017 define as aprendizagens essenciais que todos os estudantes do país devem desenvolver ao longo das etapas da Educação Básica, propõe a articulação de seis dimensões do conhecimento que estão ligadas às experiências com todas as linguagens artísticas na escola, possibilitando o processo de ensino e aprendizagem em Arte. São elas:
Criação
Esta dimensão é talvez a mais conhecida e associada ao ensino de arte. Ela está relacionada aos processos que envolvem o fazer artístico, tais como inquietações, desafios e decisões. Importante reforçar que se aprende a ser criativo em ambientes onde há liberdade de expressão e em que somos estimulados a experimentar o inesperado.
Operar os processos criativos prepara as crianças e os jovens para inventar novos mundos. Por esta razão as pessoas criativas serão cada vez mais valorizadas no século XXI.
Crítica
Esta dimensão está presente no trabalho de pesquisadores, críticos, curadores e de educadores que estudam as manifestações artísticas e culturais.
Refere-se à articulação do pensamento à ação artística.
Envolve a capacidade de formular discursos e conceitos através da linguagem verbal, a partir da vivência ou estudo de produções nas linguagens:
- visuais,
- audiovisuais,
- corporais,
- E musicais, podendo envolver aspectos estéticos, políticos, históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais.
Estesia
Esta dimensão está relacionada à ativação dos sentidos e da percepção, a estesia refere-se à experiência sensível dos sujeitos em relação ao espaço, ao tempo, ao som, aos cheiros, aos sabores, às imagens, ao movimento, ao próprio corpo e aos diferentes materiais.
Trata-se de desenvolver uma forma de conhecimento do mundo e de si mesmo a partir da vivência de experiências, aumentando com isso a sensibilidade, de modo a desenvolver uma percepção cada vez mais apurada às mudanças sutis do mundo externo e do nosso corpo.
Com o aumento da interação dos seres humanos com as máquinas e a limitação das crianças e jovens em espaços urbanos confinados, a necessidade de desenvolver a dimensão da estesia se torna um desafio urgente.
Expressão
Esta dimensão refere-se à capacidade de exteriorizar as subjetividades por meio das linguagens e procedimentos artísticos de forma pessoal ou coletiva.
Para expressar ideias, sentimentos e afetos com eficiência é preciso experimentar seguidas vezes os elementos constitutivos, os vocabulários específicos, as materialidades de cada linguagem artística. Dominar a linguagem significa adquirir uma contínua consciência e autonomia na forma de expressão.
Fruição
Esta dimensão refere-se ao deleite e estranhamento que os sujeitos vivenciam em interações com a arte. O ensino de arte deve promover a ampliação do repertório estético do estudante ao proporcionar uma relação com produções artísticas e culturais oriundas das mais diversas épocas, lugares e grupos sociais.
Através da fruição de manifestações de contextos culturais variados o estudante é levado a valorizar a diversidade estética e reconhecer os saberes, crenças e visões de mundo diversos, tornando-se um agente na construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Reflexão
Esta dimensão está relacionada à atitude de analisar, interpretar e construir argumentos. Refere-se ao processo de construir hipóteses sobre as fruições, as experiências e os processos criativos, artísticos e culturais.
É a atitude de perceber, analisar e interpretar a vivência com a obra de arte, seja como espectador ou como criador. Ao trabalhar com a dimensão da reflexão é importante problematizar as narrativas eurocêntricas e questionar as estruturas de poder estabelecidas pela colonização, além de colocar em debate as diversas categorizações da arte tais como artesanato, arte popular, design, etc.
Conclusão
Ao ativar processos que mobilizem essas seis dimensões, o ensino de Arte estará contribuindo para formação de um cidadão que conhece a si mesmo, reconhece a cultura do outro, que está preparado para convivência social, para atuar no espaço público, e também pronto para enfrentar a crise ambiental planetária com sensibilidade e criatividade.
O grande desafio hoje dos educadores é promover possibilidade para o estudante de trabalhar junto, conviver, garantindo um espaço de liberdade dentro das escolas. E através da arte podemos implementar metodologias e práticas que transformem o modo como agimos em sociedade, construindo, quem sabe, um amanhã mais solidário e humano.
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