PNLD literário 2023: o que é um conto e dicas de obras
O que é um conto? Sabe que é um gênero democrático, acessível a todos os leitores. Seja você um leitor assíduo ou apenas um curioso em busca de boas histórias, o conto tem algo a oferecer. Com sua variedade de temas e estilos, ele se adapta a todos os gostos e preferências. Neste artigo, vamos explorar o universo dos contos, desde os clássicos da literatura universal até as obras contemporâneas que estão revolucionando o gênero.
O que é o gênero conto?
O conto é um gênero literário praticamente onipresentes ao longo de toda a educação básica, pois dependendo da complexidade do enredo e das temáticas abordadas, é possível trabalhar com esse tipo de texto desde o início da alfabetização até o final do ensino médio. Geralmente, o conto é definido como “um texto narrativo de curta extensão”, o que significa dizer que, ao contrário de uma novela ou romance, seus elementos e etapas precisam ser apresentados e desenvolvidos de maneira mais concisa.
Na concisão típica dos contos, ainda teremos os elementos tradicionais do texto narrativo, como um enredo composto por narrador, personagens, espaço e tempo. Só que tais elementos contarão com uma maior desenvoltura do(a) autor(a) para que sejam apresentados de modo satisfatório no curto espaço disponível. Nem sempre há, por exemplo, como esmiuçar a descrição dos ambientes em que se passa a história ou elaborar longas digressões sobre alguma característica dos personagens.
Etapas da Narrativa
O mesmo ocorre com as etapas da narrativa. Contextualização, conflito, clímax e desfecho precisam ser desenvolvidos de modo dinâmico, com atenção para que o leitor não sinta que está acompanhando uma história meramente superficial ou acelerada.
Ainda assim, a brevidade dos contos não os torna menos capazes de surpreender os leitores, uma vez que temos diversos exemplos de autores(as) que souberam, em poucas palavras, produzir obras que se tornaram grandes clássicos da literatura.
No campo nacional, temos a vasta produção de Machado de Assis, que, como poucos, soube traçar um retrato do Brasil do século XIX, com narrativas provocativas, bem-humoradas e instigantes; temos também a produção incontornável de Clarice Lispector, com contos que desafiam o leitor em reflexões que vão do cotidiano ao transcendental em poucos parágrafos; sem contar as obras de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Lygia Fagundes Telles, Lima Barreto, Nélida Piñon, Rubem Fonseca, dentre tantos outros, só para ficarmos naqueles(as) já consagrados(as) pela crítica especializada e pelo público.
Característica do gênero conto: flexibilidade
Outra forte característica do conto é sua flexibilidade para se adequar a todo e qualquer tipo de tema. Em parte, justamente, por essa qualidade é que temos contos espalhados por todas as etapas da escolaridade. Há os contos de fadas, muito presentes nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com suas narrativas fantásticas envolvendo mundo encantados e personagens fabulosos; há os contos de terror e mistério, que fazem muito sucesso com os mais jovens em um momento intermediário da educação básica; além dos contos de ficção científica que costumam cativar os leitores adolescentes, até chegarmos, com os leitores do ensino médio, aos contos mais realistas e psicológicos, com ênfase na exploração da subjetividade dos personagens e na narração de eventos mais verossímeis que dialogam com questões sociais relevantes.
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Se de todos esses caminhos, pensarmos apenas no trajeto percorrido pelos estudantes do Ensino Fundamental, já conseguimos vislumbrar algumas possibilidades de atividades bem produtivas que podem ser feitas a partir da leitura coletiva de contos em sala de aula.
O que é leitura por antecipação?
A leitura por antecipação, por exemplo, é uma prática comum e que costuma dar muito certo na mediação de textos literários. O(a) docente pode selecionar um conto que contenha algumas reviravoltas e, conforme a história for sendo contada, ir selecionando momentos de pausa na leitura para que os alunos compartilhem oralmente suas hipóteses para o desfecho e justifiquem com passagens do texto suas ideias. Essa prática é importante no processo de letramento, pois estimula a concentração do estudante e o motiva na prática de argumentação.
Outra atividade corriqueira e muito eficaz é incentivar a produção literária dos estudantes a partir de algum tema geral ou de uma passagem específica de um conto lido em sala. Como dito anteriormente, contos de terror e mistério costumam fazer sucesso entre os leitores mais jovens, logo o(a) professor(a) pode propor que a turma produza contos nessa temática, que posteriormente serão lidos e avaliados coletivamente pela turma; ou ainda, sugerir que os alunos criem um conto que continue alguma história lida por todos. Após as produções, pode ser, igualmente, sugerida uma roda de leitura e de avaliação coletiva, para que todos compartilhem suas impressões sobre as novas histórias e decidam qual foi mais criativa.
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A leitura e estudo dos contos permitem, também, que os estudantes se transportem para diferentes contextos históricos do país, refletindo sobre realidades distantes ou questões permanentes. Como eram representados temas como as famílias, as mulheres, a população negra, a infância, o trabalho e o Brasil nos contos do início do século XX? Que características descritas nessas narrativas clássicas foram modificadas e quais permanecem? O que essas possíveis permanências nos dizem sobre nossa sociedade atual? Todas essas questões podem motivar o estudo da história brasileira a partir da leitura de contos, o que permitiria um projeto interdisciplinar muito proveitoso para todos os envolvidos.
Conclusão
Com base em tudo o que vimos até aqui, podemos afirmar que o gênero conto oferece grandes possibilidades, tanto para introduzir os alunos mais jovens ao mundo da leitura, quanto para expandir o conhecimento dos estudantes em etapas mais avançadas de escolaridade, possibilidades essas enriquecidas pela linguagem literária, que pode elaborar poeticamente todo tipo de tema, nos desafiando e surpreendendo a cada nova releitura.
DICA DE ESPECIALISTA
Por Kamil Giglio
Olívia e os indígenas
Em “Olívia e os indígenas”, a autora Betty Mindlin mistura realidade e ficção para apresentar uma aventura de uma temporada de férias com a sua neta Olívia, em uma aldeia indígena na floresta amazônica. O conto chama a atenção para os encontros de diferentes visões de mundo e jeitos de ser: de um lado, uma visão de mundo urbana, na qual a menina está mergulhada, e, do outro, as visões indígenas, com as quais ela está entrando em contato. O livro oferece a possibilidade de trabalhar a valorização da diversidade histórico-cultural do nosso país, atendendo o que se é exigido na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), e é possível aprofundar-se no tema, promovendo brincadeiras, descobrindo alimentos (mandioca, batata doce, carambola, pitanga etc.), fazendo pinturas e esculturas, ou cantando músicas das diversas culturas que contribuíram para a formação da cultura brasileira. Dicas de recursos para auxiliar no planejamento das aulas:
- Livro “Jogos e culturas indígenas: possibilidades para a educação intercultural na escola”, publicado pela EdUFMT (2010).
- Planos de aula sobre músicas e cultura sonora indígena: 1. Conhecendo a música indígena, 2. Cultura sonora indígena, 3. O canto indígena, 4. Sonorizando um conto indígena, e 5. Compartilhando a cultura sonora indígena.
- Acervo cultural (tecidos, cerâmica, instrumentos musicais, adornos etc.) de povos indígenas brasileiros – Museu Nacional dos Povos Indígenas
- Dicionário de Línguas Indígenas do Brasil com apoio de mapa, áudios com a pronúncia e dicionário ilustrado.
Minicurrículos
Diego Domingues
Graduado em Letras Português – Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com Especialização em Educação de Jovens e Adultos pela mesma instituição e Especialização em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/FFP); e Doutor em Linguística Aplicada pela UFRJ. Atualmente, é professor de Língua Portuguesa e Literatura em turmas do Ensino Médio do Colégio Pedro II e integrante do grupo Práticas de Letramentos no Ensino de Línguas e Literaturas (PLELL).
Kamil Giglio
Doutor e mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC/Brasil – Hochschule RheinMain/Alemanha). Professor de Ensino Superior (instituições nacionais e internacionais) com ampla experiência na formação de professores da rede básica de educação pública brasileira. Possui experiência em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com projetos nacionais e internacionais (União europeia, África e América do Sul) e trabalha, atualmente, no Núcleo de Produção de Conteúdo e Formação das editoras Ática, Saraiva e Scipione para a rede pública.