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Como planejar a volta às aulas pós-pandemia?

19 de janeiro de 2022
E-docente

Na situação social atual, com elevado percentual da vacinação no Brasil, o controle pandêmico envolvendo protocolos e uso de máscara permitiu que adaptássemos a nossa rotina pedagógica para o retorno às aulas presenciais. 

O cenário anterior provocado pelo novo coronavírus, com o fechamento inédito das escolas e o isolamento social, nos fez realizar adaptações de forma rápida para uma nova concepção de educação, com a organização emergencial do ensino remoto.

Essa mudança impactou todos os estudantes, famílias, professores e equipes pedagógicas nos aspectos que envolvem o emocional, a aprendizagem e o agravamento nacional e mundial da desigualdade para o desempenho educacional.

Estamos com a comunidade escolar repleta de dificuldades para gerenciar a carga horária dos dois anos letivos vivenciados com pouca ou até nenhuma atividade pedagógica, além da necessidade urgente dos alunos retornarem a rotina presencial nas escolas. 

O fato é que são mais de 5,5 milhões de estudantes no Brasil que não tiveram atividades escolares e outros muitos que tiveram pouco contato com essas atividades pela falta de acesso à internet.

Essa situação contribui para a perda do vínculo com a escola e, consequentemente, para o aumento da exclusão escolar, como apontam os dados dos relatórios da União das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). 

Os desafios inerentes na volta às aulas

Com esse misto de dificuldades e necessidades, existem os sentimentos de todos os envolvidos que, podemos afirmar, com toda a certeza, não faltou vontade de reestruturar o planejamento para o retorno às aulas, porém tudo dependia das orientações sanitárias globais e do cuidado coletivo, para todos os envolvidos nessa nunca antes pensada situação no ensino.  

Diante disso, torna-se fundamental pensarmos na efetivação de um planejamento que consolide as ações pedagógicas de forma gerenciada. Dessa forma, evidenciamos a relação direta entre teoria e prática, que aqui está representada pela tríade da avaliação, planejamento e intermediação

Essa organização facilitará para o professor a criação de estratégias, que são as ações planejadas, que são de forma a favorecer a aprendizagem dos alunos e a identificar o que precisamos melhorar em cada criança e grupo escolar. 

Nesse contexto, é necessário praticar, com maior ênfase, o ensino ajustado, que estabelece o reconhecimento do que cada criança aprendeu ao longo do ensino remoto e o que ela ainda precisa aprender para a continuidade dos estudos presenciais, de forma a buscar garantir a equidade na relação ensino-aprendizagem de todos. 

A partir disso, alguns conceitos são fundamentais e precisam novamente de uma definição nessa construção da qualidade do planejamento no retorno ao ensino presencial, são eles: engajamento, organização escolar e dinâmica das aulas.

Para tanto, vamos apresentar estratégias práticas para compor esse planejamento realizando associações das ações educativas que são significativas para as crianças e para o trabalho pedagógico docente sistemático. 

Como elaborar o planejamento do retorno às aulas coletivas de forma eficaz?

Estamos tratando de como o retorno coletivo às aulas, com a totalidade dos estudantes em sala, de forma presencial nas unidades escolares, pode ser melhor planejada nas nossas escolas.

Isso requer pensar na organização com maior ênfase para um ambiente organizado e limpo, com crianças vivenciando uma estruturada comunicação visual de alertas e uma escola que apresenta atrativos de maior ênfase na capacidade de engajamento para o aprendizado. 

São tarefas de difíceis construções sem a realização de uma reflexão sobre o objetivo de cada situação posta no “pós-pandemia”.

Assim, precisamos redefinir alguns conceitos e refletir sobre alguns elementos que podem contribuir na elaboração do planejamento eficaz para todos os estudantes presentes no espaço escolar. Vejamos a seguir.

Redefinição de conceitos

Na conjuntura do engajamento para o ensino presencial, cabe montar núcleos de estudantes responsáveis por áreas do conhecimento que as próprias crianças apresentam como dificuldades específicas pessoais sentidas no momento do ensino remoto.

Cada núcleo terá o papel de dialogar e pensar sobre como as aulas podem ajudar na continuidade dos estudos. 

A grande capacidade de liderança das crianças será para desenvolvimento reflexivo dos conteúdos dos dois anos, com o professor apresentando os conteúdos e construindo coletivamente a ação dos núcleos que irão atuar em diferentes momentos no grupo classe.

O importante é que o núcleo tenha no máximo três crianças para dar voz a todos os envolvidos.

Nessa ideia, existem duas estratégias de organização escolar que se caracterizam como organização escolar geral e organização escolar pedagógica. Ambas estão incluídas numa visão macro de educação e precisa estabelecer a prioridade do ensino sistemático significativo para a criança. 

O primeiro diz respeito à organização escolar física e modificada para a escola que retoma o ensino presencial e que convive com a pandemia.

Essa organização vai desde uma mudança de estrutura que mantenha o maior distanciamento entre as pessoas e elementos de limpeza sempre à vista de todos, até a elaboração de orientações lúdicas que garantam o aprendizado de como conviver com o outro para a proteção coletiva. A escola não poderá falhar nos critérios rígidos de limpeza e de orientação para todos da comunidade escolar. 

Organização escolar pedagógica

Além disso, teremos a necessidade da organização escolar pedagógica que conduz a gestão do ensino, no que se refere aos conteúdos que precisam ser estudados e progressivamente selecionados para ter uma dinâmica de organização que favoreça sempre a necessidade real do grupo de crianças. 

Para isso, é importante fazer agrupamentos por necessidade de aprendizado, partindo da integração das áreas, com destaque para os elementos de ação autônoma da criança como leitura, interpretação de problemas e realização de situações em que o estudante apresente aquilo que realmente aprendeu para a comunidade escolar.

A dinâmica das aulas

Por fim, temos a dinâmica das aulas. Nesse caso, refere-se exclusivamente a metodologias criativas e ao uso de metodologias ativas favorecendo a efetivação da educação híbrida como uma prática educativa efetiva nas escolas.

Falamos em híbrido permanente por destacarmos que os elementos do uso sistemático das tecnologias e das metodologias ativas para todas as crianças precisam estar planejados para a vivência em qualquer situação social e educativa que, porventura, possa acontecer nos próximos anos. A escola precisa estar preparada para todas as situações sem que isso prejudique a sua rotina. 

Portanto, essa rotina de aprendizado e superação, que hoje está relacionada com as aulas remotas, passa para uma transformação conceitual e prática do ensino presencial como híbrido permanente, que favoreça as ações a curto, médio e longo período de atuação docente. Esse é o novo contexto educacional que precisamos construir e consolidar a partir de um planejamento coletivo. 

Cinco elementos que irão contribuir para elaboração do planejamento eficaz da volta às aulas

Os elementos são as ações que contribuirão de forma efetiva na prática que valoriza para a gestão do ensino e para a gestão da avaliação no contexto “pós-pandemia”. Planejamento do ensino sistemático é a melhor organização didática e pedagógica para esse momento de ajustes pedagógicos do retorno ao ensino presencial de forma coletiva. 

Cada elemento aqui mencionado servirá de contribuição para uma prática cuidadosa e organizada a partir do currículo nacional estabelecido no país. Os elementos são: escuta ativa, diagnóstico inicial, avaliação diária, atividades ajustadas e grupos de aprendizagem. Vejamos a seguir esses elementos:

1) Escuta atenta

A escuta atenta nada mais é do que realizar aquilo que é mais importante para um momento posterior à situação emergencial de pandemia que é ouvir as crianças e seus sentimentos. De tudo o que aconteceu, como foi esse momento e quais são as expectativas no retorno presencial coletivo. Todo o direcionamento prático levará em conta esses relatos, e cada criança será acolhida no seu momento emocional.

2) Diagnóstico inicial 

Levantamento de todos os objetivos, competências e/ou habilidades, além dos conteúdos referentes aos anos de 2020 e 2021. Na sequência, deverá ser ajustado tendo em vista o que precisa ser trabalhado para 2022 de forma relacionada aos anos de 2020 e 2021. 

Assim, é preciso elaborar a lista de conteúdos e ações metodológicas que estarão direcionadas para o objetivo macro das competências, habilidades e/ou direitos que devem ser trabalhados ao longo do ano de 2022. É Importante ter um instrumento (avaliação diagnóstica), elaborado a partir do retrato da turma, para ser realizado de forma inicial, medial e final do ano letivo.

3) Avaliação diária 

Diariamente, o professor precisa diagnosticar a aprendizagem do grupo e das crianças individualmente. Aparentemente pode parecer difícil, mas cabe à gestão da avaliação contribuir com o sucesso dessa prática. 

Inicialmente, o professor terá as duas perspectivas evidentes, ou seja, o que a criança realiza com autonomia individualmente e o que a criança realiza com autonomia no grupo, ou seja, o que ela consegue fazer sem ajuda do professor, mas no apoio do grupo e o que faz sem ajuda do professor de forma individual. 

A atenção do professor se volta para os grupos de estudantes com aprendizagens próximas e cada criança deverá realizar a sua autoavaliação no final de cada aula, com uma mensagem, palavra ou explicação sobre o que aprendeu no dia.

4) Atividades ajustadas 

As atividades ajustadas serão elaboradas como passo seguinte da intermediação-planejada da ação pedagógica, ou seja, o professor irá construir atividades direcionadas à superação das lacunas apresentadas pelas crianças. 

Elaborar uma lista das principais lacunas apresentadas nos quatro subgrupos da turma e, no mínimo, realizar três tipos de atividades simples, mas com estímulos diversificados que irão servir para as sistematizações necessárias. Não se esqueça de proporcionar muita leitura, escrita e resolução de problemas matemáticos significativos para o contexto do grupo de crianças.

5) Grupos de aprendizagem

Os grupos de aprendizagem são criados a partir das crianças que estão com necessidades de aprendizagem próximas e contribuirá para o professor montar os circuitos referentes às metodologias ativas. 

Assim, a partir do reagrupamento das crianças em três ou quatro grupos, o professor montará a atividade de cada grupo e as crianças serão levadas a circular pelos grupos com desafios estabelecidos e, assim, construir os conhecimentos de forma significativa com ou sem a intermediação docente.

Reflexão importante nessa volta às aulas

O principal desafio para o planejamento do retorno às aulas presenciais com a totalidade das crianças é assegurar aprendizagem de qualidade para todos os alunos em suas localidades. 

Com a compreensão de que não tem sido fácil, mesmo antes do fechamento das escolas, ofertar uma educação que diminua as profundas desigualdades em que o Brasil está inserido. Foi com a pandemia que se apresentou o agravamento nessa desigualdade de oportunidades educacionais. 

O que se apresenta aos sistemas de ensino e ao trabalho nas escolas é articulação de um ótimo planejamento, que desenvolva uma gestão do ensino e uma gestão da avaliação, com aproveitamento do tempo pedagógico e para a qualidade da educação. 

Esse trabalho deve ser organizado a serviço da educação e por meio de políticas públicas de efetivação e de continuidades das ações que uma educação híbrida, a partir de um diagnóstico real, possa apresentar objetivos para desenvolver ações específicas, contribuindo e se preparando para a educação em qualquer circunstância, e realizadas de forma planejada. 

Para todos os envolvidos nesse planejamento, o importante é manter situações presenciais e outras a distância, como carga horária a garantir, ou mesmo, a complementar no processo de ensino-aprendizagem. 

Referências 

OLIVEIRA, R. A. J. Saberes e práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores nos contextos escolares no Brasil e na França: gestão da avaliação através da intermediação-planejada no ciclo de alfabetização. 412 f. : Il Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019. 

__________. Análise estatística implicativa e coesitiva do perfil docente e do desenvolvimento profissional no ensino da leitura e da escrita. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.7.n.9. set. 2021. ISSN -2675 –3375 https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/2163/850

Renata Araújo Jatobá de Oliveira 

Pesquisadora de Pós-doutoramento em Educação pela Universidade de Lisboa (Portugal). Doutora em Ciências da Educação pela Université Lumière Lyon 2 (França). Doutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE – Brasil). Especialista em Éducation Pédagogique et Culture(s) de l’Altérité pela Université Claude Bernard Lyon 1 (França). Consultora educacional com os Programas Alfagestar (@alfagestar) e Criative-Lar (@criativelar).

Palestrante com atuação no grupo PapoEduca (@papo_educa). Trabalha com formação de professores envolvendo Prática Pedagógica, Alfabetização Sistemática, Heterogeneidade e Gestão do Ensino da Leitura e da Escrita, Consciência Fonológica na Educação Infantil, Didática e Metodologias do Ensino com Aulas Remotas, Educação Híbrida, entre outras temáticas. Pesquisa sobre Educação e Linguagem. Autora de materiais didáticos para Educação Infantil e Ciclo de Alfabetização.

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