pensamento computacional ensino

O avanço tecnológico das últimas décadas tem alterado a maneira como socializamos, interagimos e adquirimos informação. A influência da tecnologia tem moldado a maneira como construímos conhecimento, especialmente com o pensamento computacional.

Nesse contexto, para acompanhar o ritmo de mudanças pelo qual o mundo atravessa, torna-se urgente, no cenário educacional, buscar promover ações que proporcionem aspectos que envolvem o uso da tecnologia no processo de aprendizagem e na formação de uma postura cidadã.

Devido à complexidade do mundo contemporâneo, a transversalidade e o desenvolvimento de competências que estimulem o estudante a desenvolver um papel mais autônomo e protagonista tornam-se fundamentais para desenvolver soluções para os problemas que emergem.

Nesse sentido, torna-se necessário incentivar uma postura avaliativa e crítica sobre o papel das tecnologias na sociedade, na economia, na cultura e nos estilos de vida, buscando analisar os processos que permitem aperfeiçoar a capacidade de resolução de problemas, como é o caso do pensamento computacional.

Ao falar sobre pensamento computacional, a primeira coisa que nos vem à mente é o uso de tecnologia moderna, algo complexo que envolve linguagens de programação indecifráveis para a maioria de nós, não é mesmo? Contudo, o pensamento computacional não é um “bicho de sete cabeças” e não exige necessariamente o uso de computadores e de tecnologias.

Convido você a conhecer um pouco mais sobre esse tema!

O que é pensamento computacional?

Para Liukas (2015), o pensamento computacional está relacionado ao pensar nos problemas da mesma maneira como um computador, usando as técnicas e procedimentos para buscar uma solução.

Ou seja, tal ação demanda a capacidade criativa, crítica e estratégica do uso dos fundamentos da computação, com a finalidade de identificar e resolver problemas de maneira individual ou colaborativa, de qualquer área de conhecimento, por meio de uma sequência de etapas que se executa tanto por pessoas como por uma máquina (BRACKAMANN, 2017).

Portanto, entende-se o pensamento computacional como uma abordagem usada para identificação e solução de problemas, que incentiva a sistematização e o uso de conceitos básicos da computação.

As atividades desenvolvidas nessa perspectiva têm como finalidade contribuir para a construção do pensamento lógico e para o desenvolvimento de diferentes habilidades, divididas nos seguintes 4 pilares:

1. Decomposição:

Está relacionada à habilidade de dividir um problema em pequenas partes, no intuito de solucioná-lo mais facilmente, tendo em vista que trabalhar um fragmento do problema de cada vez facilita a solução do problema, permitindo ainda maior atenção a cada etapa. 

O desenvolvimento dessa habilidade é perceptível no comportamento dos estudantes, pois a decomposição auxilia na diminuição da ansiedade e do medo frente aos desafios, uma vez que os estudantes conseguem encontrar as respostas de cada parte do problema com mais confiança e rapidez, enquanto seguem um passo a passo para a solução do problema em questão.

2. Reconhecimento de padrões:

Busca identificar aspectos comuns e tendências de comportamento, fazendo uso da observação atenta ao evento, para reconhecer padrões e similaridades. Essa habilidade permite a construção de soluções para problemas, usando diferentes perspectivas pelos estudantes.

3. Abstração:

Essa habilidade propõe a identificação e a análise dos elementos que são considerados relevantes, evitando que a prioridade esteja em elementos que podem ser ignorados.

Essa estratégia permite que a solução seja válida para outros contextos. Pois, ao filtrar e classificar os dados mais relevantes para a resolução dos problemas, os estudantes tornam-se capazes de desenvolver uma análise mais crítica, assertiva e contextualizada (autonomia).

4. Pensamento algorítmico:

Refere-se à criação de um grupo de regras para a solução de problemas, definindo as etapas e possíveis soluções para alcançar um objetivo específico para qualquer problema. Essa habilidade incita o desenvolvimento da criatividade pelos estudantes, pois estimula a criação de soluções mais eficazes (autonomia).

Em outras palavras, o pensamento computacional fornece uma base para a solução de problemas no mundo real, transformando-os em algo capaz de ser compreendido. Focando, para isso, em cada uma de suas fases, a fim de lidar com as incertezas que muitas vezes os cercam.

No contexto da educação atual, o pensamento computacional contribui para a adaptação da sala de aula, uma vez que torna os estudantes mais aptos para lidar com as ferramentas e as linguagens da cultura digital.

Nesse sentido, a inclusão da abordagem do pensamento computacional na escola, de acordo com Brackmann (2020), pode ser realizado por meio de atividades alquimétricas, computação desplugada e computação plugada.

Alquimétricos e Computação Desplugada

Muitas habilidades podem ser trabalhadas com atividades desplugadas, ou seja, que não exigem o uso do computador e da internet, podendo ser realizadas, inclusive, por pessoas sem conhecimentos profundos de computação ou robótica. Sendo assim, é possível trabalhar com reconhecimento de padrões, realizando uma atividade com blocos de madeira coloridos, por exemplo.

Nesse sentido, um alquimétrico, de acordo com Brackmann (2020), é um material didático que pode ser criado pelos próprios estudantes, usando materiais acessíveis, como os recicláveis, por exemplo. O termo conjuga os conceitos de métrica (medida-exato-técnico) e alquimia (mutante-mágico-transformador).

Para facilitar o entendimento sobre sua aplicação, os docentes podem usar diferentes estratégias já desenvolvidas, como o AlgoCards (disponível em: http://www.computacional.com.br/AlgoCardsECO-POR.pdf). É possível também acessar uma videoaula sobre o tema, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bX7w-JrC9mA

Confira abaixo alguns exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas dentro dessa proposta. Todas elas estão disponíveis no endereço (http://www.computacional.com.br/#atividades):

1) Algo Labirinto

2) Algo Zumbi

3) Algo Ritmo

4) Tetris

5) Controle remoto

6) Estacionamento Algorítmico

Essas atividades desplugadas propõem a substituição da aula expositiva por atividades práticas que envolvem movimentação, uso de cartões, recortar, dobrar, colar, desenhar, pintar, resolver enigmas etc.

Nelas, os estudantes trabalham individualmente ou em grupos para aprender conceitos do pensamento computacional. Assim como promovem a descoberta, a identificação de problemas e o desenvolvimento de uma solução, para visualizar sua aplicação prática.

Computação Plugada

Para as instituições que possuem acesso facilitado aos recursos tecnológicos, a computação plugada pode ser uma excelente alternativa para complementar as atividades desplugadas, de acordo com Brackmann (2020).

Nelas, o docente e os estudantes podem usar os recursos digitais disponíveis na internet para apresentar soluções que já envolvem o uso da linguagem computacional e a consequente explicitação gráfica da solução desenvolvida. Tais atividades podem ser desenvolvidas por meio do Scratch e Code.org, por exemplo.

A importância do pensamento computacional no mundo moderno

O mundo do trabalho e a cidadania envolvem o desenvolvimento contínuo de soluções para os problemas que surgem no decorrer do tempo. Tais soluções podem estar voltadas para o uso mais consciente da água até a criação de serviços de entrega de alimentos que facilitam a rotina da vida moderna.

Em comum, todas as atividades do mundo moderno demandam características que envolvem o pensamento computacional. Com a sobrecarga de informação gerada pela internet, tornou-se crucial desenvolver a capacidade de analisar e pensar nos problemas de modo criativo.

Ou seja, realizar um planejamento e fazer a previsão baseadas em padrões de generalização ou abstração. 

Por exemplo, ao projetar a jornada do cliente para um e-commerce de varejo, estamos envolvendo a capacidade de decompor um problema em seus componentes. Neste caso, usando técnicas de decomposição e construindo uma sequência de etapas para resolver o problema usando o pensamento algorítmico.

Se você ficou curioso e quiser saber mais sobre o pensamento computacional, convido você a conhecer o Guia do Porgramaê, uma iniciativa da Fundação Telefônica Vivo que combina teoria e prática para a construção de uma metodologia, com exemplos de escolas que já fazem uso dela e com orientações para a formação docente.

Caso tenha alguma dúvida, sugestão ou crítica, deixe o seu comentário abaixo e nos ajude a construir uma educação em conjunto!

Leia também: Dicas de atividades para alunos sem acesso à internet.

Referências Bibliográficas

BRACKMANN, C. P. Desenvolvimento do Pensamento Computacional através de Atividades Desplugadas na Educação Básica. 2017. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil, 2017. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/172208. Acesso em: 29 Out. 2020

BRACKMANN, C. P. Pensamento Computacional Brasil. 2020. Disponível em: http://www.computacional.com.br/ Acesso em: 29 10 2020.

LIUKAS, L. Hello Ruby: adventures in coding. Feiwel & Friends, 2015.

Kamil Giglio

Assessor Pedagógico das Editoras Ática, Saraiva e Scipione