O ensino de química pelo viés da BNCC
Apesar das individualidades de cada professor de química, nós temos uma trajetória semelhante. Todos passamos pela educação básica, em que, normalmente, estudamos a disciplina de química no ensino médio e seguimos para o ensino superior focado especificamente nesse componente curricular.
Assim, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) nos traz um grande desafio ao integrar as disciplinas de química, física e biologia dentro da área das Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
Os princípios da BNCC
A BNCC define o conjunto das aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica, a fim de assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que envolvem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para resolver as demandas do cotidiano.
Desse modo, a base tem como objetivo final a redução da desigualdade ainda presente na educação do país. Para isso, além de uma mudança nos currículos, a base influencia na formação inicial e continuada dos educadores, já que é necessária uma adequação a essa nova forma de ensino.
Ciências da natureza na BNCC
Ao longo do ensino fundamental, a área de Ciências da Natureza constrói a base do letramento científico, desenvolvendo a capacidade do aluno de compreender e de interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), além de transformá-lo.
Já no Ensino Médio, essa área recebe um complemento ao ser chamada de Ciências da Natureza e Suas Tecnologias.
Assim, por meio de um olhar articulado da biologia, da física e da química, definem-se competências e habilidades que permitem a ampliação e a sistematização das aprendizagens desenvolvidas no ensino fundamental.
Ciências da natureza e suas tecnologias
No Ensino Médio, o fazer científico envolve a elaboração, a interpretação e a aplicação de modelos explicativos para fenômenos naturais e sistemas tecnológicos.
Assim, a BNCC propõe um aprofundamento em duas temáticas: Matéria e Energia; Vida, Terra e Cosmos (junção de Vida e Evolução e Terra e Universo do ensino fundamental).
Dentro dessas temáticas estão inseridas as disciplinas de química, física e biologia, não mais de maneira fragmentada, mas sim interligadas.
Em Matéria e Energia, por exemplo, podem ser realizadas previsões sobre a condutibilidade elétrica e térmica de materiais, onde são utilizados conceitos da química e da física.
Ou ainda em Vida, Terra e Cosmos pode-se relacionar os ciclos biogeoquímicos ao metabolismo dos seres vivos, explorando conceitos da química e da biologia.
Dessa maneira, são estabelecidas três competências específicas para essa área, em que, dentro de cada uma delas, encontram-se habilidades a serem desenvolvidas em sala de aula.
Vale ressaltar que, no interior de cada habilidade, não há qualquer menção das disciplinas de física, química e biologia de modo segregado, e sim a referência às ciências da natureza.
Leia também: O ensino de física pelo viés da BNCC.
O desafio do ensino de química
Conhecendo mais sobre os princípios da BNCC e como ela está estruturada, voltamos ao desafio do ensino de química dentro dessa perspectiva.
A fragmentação das áreas dos conhecimentos em disciplinas, e ainda de temas dentro de uma mesma disciplina, dificultam o alcance das competências e das habilidades da BNCC.
Costumamos dividir a química em: química geral, química inorgânica, química orgânica e físico-química, tratando esses conteúdos isoladamente na sala de aula.
Assim, o primeiro desafio a ser superado é o tratamento dos conteúdos, dentro da nossa própria disciplina, de maneira interligada a partir de situações cotidianas ou fenômenos específicos. Entretanto, precisamos também de um trabalho cooperativo dos professores de Ciências da Natureza no planejamento e na execução dos planos de ensino.
Dessa forma, a organização por áreas não exclui as disciplinas e suas especificidades, mas fortalece suas relações.
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular em pdf. Brasília-DF: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 06 abr. 2021.
Clara Andrade Togores
Licenciada em Química pela Universidades de São Paulo (USP)