Ciência: Novas formas de divulgação do conhecimento científico
Ciência. O que seria isso? Ah, será que é aquela disciplina da escola em que aprendemos sobre fórmulas, que engloba Física, Química e Biologia? Será que qualquer experiência pessoal pode ser chamada de algo “científico”? E desenvolver o conhecimento científico?
Ou, ainda, uma pessoa, individualmente, sem qualquer contribuição de pares, pode fazer ciência? Bom, o tema deste texto trata das formas de divulgação da ciência, mas, para fins de esclarecimento, decidi iniciá-lo tocando nesses pontos tão importantes.
Vamos ver o que a Wikipédia traz quando buscamos a definição do termo “ciência”:
Ciência (do latim scientia, traduzido por “conhecimento”) refere-se a qualquer conhecimento ou prática sistemática. Em sentido estrito, a ciência refere-se ao sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas.
Vemos um início de definição bastante superficial, mas que traz a citação ao “método científico” e ao “corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas”. Aliás, será que podemos confiar nas informações trazidas pela própria Wikipédia? Há nela informação científica confiável? Vamos levar essa discussão aos comentários, após leitura integral do texto!
Os resultados de pesquisas científicas
Atualmente, temos visto muitos questionamentos a respeito do que seria “ciência”, sempre colocando estudos experimentais, individuais, como científicos.
Porém, não se faz ciência com achismos. Apesar de estudos científicos sempre se basearem em experimentos para serem validados ou refutados, são diversas as características que lhes dão credibilidade, como extensão da pesquisa, métodos utilizados, hipóteses levantadas e analisadas minuciosamente, revisão de pares competentes etc.
Ao observar um fenômeno, deve ser encontrado nele uma constância, que possibilite sua reprodução a partir de procedimentos metodológicos iguais e imparciais. Ou seja, se há variabilidade muito extensa nos resultados dessa análise, o procedimento não pode ser considerado científico (lembro que esta é uma definição bastante resumida sobre ciência).
Leia também: Negacionismo científico e educação em ciências na escola.
Como podemos perceber, sempre haverá um rigor para que cheguemos a resultados verdadeiramente científicos, diferentemente de quando “ouvimos dizer” que determinado processo funcionou em casos específicos; de quando diversos “cientistas” tentam validar procedimentos que, quando reproduzidos em larga escala, falharam; ou de quando condições específicas são manipuladas ou criadas para que determinados procedimentos funcionem.
A ciência existe justamente para padronizar a análise de fenômenos e descrevê-los com seriedade e com a percepção de não apenas um ou dois analistas, mas de toda uma comunidade científica comprometida em realizá-la, corrigindo erros, refazendo caminhos, gerando novas hipóteses e encontrando resultados constantes e seguros.
Construindo o pensamento científico
Tendo feito essas observações bem simplificadas sobre a ciência, já que o tema é bastante extenso, você, leitor(a), há de se perguntar: “e sobre o tema principal do texto, você não vai falar?” Ué, o tema é “ciência”, já começamos a falar sobre ele desde a primeira linha deste artigo.
Mas, eu te entendo, pois você veio atraído pelo título, que menciona as novas formas de divulgação do conhecimento científico. Chegaremos lá, pode ter certeza. Estou apenas alicerçando nossas discussões, para que cada tijolo seja colocado de forma segura e não seja derrubado facilmente.
Leia também: Experimentos na escola: seu papel de educar para a ciência.
Por falar nisso, essa é uma ideia que tem tudo a ver com a construção do conhecimento científico. Cada pesquisador, com muito rigor, vai acrescentando seu tijolo, que, juntando-se aos demais, de diversos outros pesquisadores, vão edificando uma construção sólida e confiável.
Claro que, conforme novas descobertas são feitas, um ou outro tijolo é substituído, mas a estrutura se mantém firme, por isso a necessidade de uma grande atenção para o todo, não apenas para uma parte individual, específica.
Como você estuda atualmente?
Avançando em nosso texto, gostaria que pensasse em como você tem estudado atualmente. Não só estudado, mas se informado de maneira geral. Por livros, artigos científicos, redes sociais, TV? Parece que ontem eu tinha de ir até a biblioteca da minha cidade para fazer uma “pesquisa” para a escola…
Essa é uma reflexão importante, ainda mais quando comparamos o momento atual com o que vivemos há algumas décadas, por exemplo. Hoje, as informações se disseminam muito mais rapidamente, ganham proporções inimagináveis, derrubando barreiras espaciais e alcançando um número enorme de pessoas em todo o mundo.
Obviamente, esse grande alcance também traz consequências negativas para as discussões científicas. Na verdade, muitas discussões não científicas tentam se disfarçar de ciência, mesmo com dados modificados, falseados, descontextualizados.
Mas e as novas formas de divulgação do conhecimento científico?
Retomando, então, o questionamento feito anteriormente sobre nosso acesso às pesquisas, podemos trazer algumas novas formas de divulgação do conhecimento científico (algumas nem são tão novas assim…).
Toda prática social, para sobreviver, precisa se reproduzir (criar seus seguidores) e ter uma função social. Assim, a ciência precisa formar seus adeptos e garantir junto aos outros grupos uma função social. Essas demandas geram a necessidade de se difundirem os conhecimentos científicos produzidos. (GOUVÊA, 2009, p. 333-4)
A citação de Gouvêa é importante pois, mesmo pertencendo a um trabalho publicado em 2009, mostra que, desde sempre, a divulgação das descobertas científicas e a repercussão causada por elas é essencial para o avanço da ciência.
A internet e o acesso cada vez mais amplo às redes sociais potencializam, assim, tal alcance. Muitos pesquisadores já vêm, desde o advento da internet 2.0 (que nos permitiu inserir dados, não apenas recebê-los), desenvolvendo páginas virtuais para divulgar suas pesquisas.
Muitos desses blogs conseguem um grande alcance, facilitando a troca entre pesquisadores no mundo inteiro e alavancando o avanço da ciência. Este texto, mesmo, que você está lendo, está abrigado no site E-docente, que reúne diversos outros textos, de assuntos diversificados.
Repositórios digitais
Seguindo a mesma linha, universidades mantêm, ainda, sites que reúnem diversos tipos de materiais científicos, os chamados “repositórios digitais”, que servem como uma espécie de biblioteca digital, abrigando produções da própria instituição e de outras entidades parceiras.
Nos repositórios, encontramos diversos tipos de mídia, desde textos a fotos, vídeos, jogos e outros objetos educacionais. A seguir, alguns exemplos de repositórios digitais:
- Repositório digital Huet, do Instituto Nacional de Educação de Surdos: http://repositorio.ines.gov.br/ilustra/;
- Repositório multidisciplinar do Scielo: https://data.scielo.org/;
- Repositório institucional da Universidade Federal Fluminense: https://app.uff.br/riuff/.
Revistas científicas digitais
Outra forma de divulgação que vem crescendo nas últimas décadas são as revistas científicas digitais. Tais textos, antes divulgados apenas na forma impressa, ganharam o meio digital e também passaram a ser mais facilmente acessados. Porém, principalmente levando em conta o novo público que se apresenta, será que essas revistas não precisam ser reinventadas?
Digo isso porque, apesar de vermos uma evolução no que diz respeito ao meio em que são divulgadas, não vemos muitas mudanças em seus conteúdos. Em sua grande maioria, ainda são textos verbais, com formato estático, que não exploram toda a multimodalidade característica do mundo conectado e interativo em que vivemos.
É como se ainda estivessem sendo produzidas para serem impressas. Uma das causas dessa dificuldade em atualizar seu formato talvez seja a necessidade de seguir as normas rígidas de classificação dessas edições, já que suas instituições pontuam de acordo com o cumprimento de tais critérios.
Que tal, como pesquisadores, começarmos a pensar em uma renovação verdadeira desse gênero acadêmico? Será que é possível avançar na forma, mantendo o rigor científico no conteúdo? Também espero a extensão dessa discussão nos comentários.
Vejamos alguns exemplos de revistas científicas:
- Revista Espaço, do Instituto Nacional de Educação de Surdos: https://www.ines.gov.br/seer/index.php/revista-espaco/index;
- Site que reúne as diversas revistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro: https://revistas.ufrj.br/;
- Site que reúne as diversas revistas da Universidade Federal do Pernambuco: https://periodicos.ufpe.br/revistas/.
Youtube como forma de divulgação científica
Tal renovação proposta pode ser pensada a partir de outras formas de divulgação do conhecimento científico, como os vídeos gravados no Youtube por pesquisadores e cientistas.
Cada vez mais, pesquisas são divulgadas em canais da plataforma, na maior parte das vezes, de maneira didática e com linguagem acessível, diferentemente de muitas divulgações acadêmicas de tempos atrás (e do atual também). Dessa maneira, vemos uma maior aproximação entre a academia e o público em geral. Seguem exemplos:
- Canal Leandro Zayd: https://www.youtube.com/user/leandrozaydvlog/videos;
- Canal Minuto ciência: https://www.youtube.com/user/MinutoCiencia;
- Canal Xadrez verbal: https://www.youtube.com/user/xadrezverbal;
- Canal Boteco Behavorista: https://www.youtube.com/user/felipefrog.
Lives educacionais
Por falar em Youtube, é visível como as chamadas lives ganharam espaço com a chegada da pandemia. Universidades do Brasil e do mundo estenderam as discussões, antes restritas a grupos de pesquisa e pesquisadores locais, a todas as pessoas que desejarem se informar sobre os temas ali discutidos.
Além da possibilidade de participarem on-line, os membros da reunião podem acessar os vídeos no dia e hora que quiserem, já que são reunidos na plataforma e ficam ali disponíveis. Aqui estão alguns exemplos:
- Canal E-docente:https://www.youtube.com/channel/UCrs3IHA1gtF64XV4jTj-OsQ;
- Canal Português L2, do Instituto Nacional de Educação de Surdos: https://www.youtube.com/channel/UCFZbSL9O7VlNEoXpnu1sGaw/featured;
- Canal Puc Goiás: https://www.youtube.com/user/PUCGOIAS/videos.
Twitter como forma de divulgação do saber científico
O instagram e o twitter também são redes sociais que vêm sendo exploradas por novos cientistas para divulgação de seu trabalho, visando a um maior alcance de suas pesquisas.
Vejamos um trecho de uma reportagem que trata desse tipo de divulgação, em que é destacada a participação ativa de uma cientista no Instagram:
A conta de Samantha no Instagram (@Science.Sam) tem mais de 25 mil seguidores. Ali, a “science storyteller” compartilha o cotidiano na pesquisa e divulgação de ciência. Num post com mais de mil likes, mostra foto de 2002 da revista Nature com cérebros de diferentes animais, seguido de uma divertida descrição sobre a morfologia do sistema nervoso das planárias e um mini-vídeo de seu processo de regeneração. Em seguida, instiga o engajamento dos seguidores sugerindo que também compartilhem qual cérebro acham o mais cool.
(PETROPOULEAS, 2018)
Outras contas que servem como exemplo de como essas redes sociais podem ser bem exploradas para discussões acadêmicas:
- Perfil coisa_de_cientista: https://www.instagram.com/coisa_de_cientista/;
- Perfil Portal pesquisadores: https://www.instagram.com/portalpesquisadores/;
- Perfil Átila Iamarino: https://twitter.com/oatila;
- Perfil Instituto Serrapilheira: https://twitter.com/iserrapilheira.
Leia também: Ciências em alta: como levar as notícias para a sala de aula.
Podcast: ouvindo e aprendendo sobre ciência
O podcast é outra ferramenta que ganhou bastante espaço nos últimos anos. A facilidade de acesso, a qualquer hora, em qualquer lugar, até mesmo enquanto fazemos um exercício físico (tão necessário durante a quarentena) são facilitadores no acesso a discussões relevantes sobre diversos assuntos científicos. Seguem exemplos:
- Canal Luz no fim da quarentena:
https://piaui.folha.uol.com.br/radio-piaui/luz-no-fim-da-quarentena/; - Canal Jornal da USP: https://jornal.usp.br/podcasts/;
- Canal Linguística Vulgar: https://open.spotify.com/episode/11EykDOxpz1
EnqqdzfXL0v.
A demanda por cursos online sobre conhecimento científico
Além das ferramentas já citadas, a pandemia também fez com que aumentasse a procura por cursos na internet, tanto os tradicionais, de graduação, pós-graduação, extensão, como os chamados cursos livres. Universidades de todo o mundo passaram a liberar gratuitamente cursos em diversas áreas, contribuindo para que as pessoas, em sua maioria, reclusas, pudessem preencher seu tempo com atividades úteis e enriquecedoras.
No campo dos chamados cursos livres, abertos, estão os chamados MOOCs (Massive open online courses), que são projetados para que os alunos(as) possam acessar seus conteúdos sem a necessidade de interação com mediadores, por isso a ideia de se formarem turmas massivas, com número indefinido de participantes.
Tal modalidade exige autonomia e maturidade de seus estudantes, mas traz a grande vantagem de não exigir escolaridade mínima nem qualquer formação específica para acesso a seus cursos. Vejam alguns exemplos:
- Lúmina – Educação para todos – UFRGS: https://lumina.ufrgs.br/;
- Ivy League Online Courses:
https://www.classcentral.com/collection/ivy-league-moocs. (site que reúne cursos livres de diversas universidades pelo mundo, como: Yale, Columbia, Princeton, Harvard, etc).
O acesso às informações confiáveis para o conhecimento científico
Percebemos que são variados os caminhos, mas todos facilmente acessíveis na palma de nossas mãos, já que os smartphones se tornaram quase que uma extensão de nossos corpos.
Essa facilidade contribui na busca da tão sonhada aproximação entre a teoria das universidades e a prática da sala de aula (seja física ou virtual), além de nos ajudar a entender melhor os fenômenos da vida real. É urgente que nossos alunos(as) também tenham acesso facilitado a materiais de qualidade na grande rede, já que estamos todos conectados.
Vale a leitura do artigo “O que é idade mídia e quais são as suas reflexões” https://azure.pnld.develop.edocente.com.br/blog/educacao/o-que-e-a-idade-midia-e-quais-sao-as-suas-reflexoes/.
Leia também: Aplicativos para o ensino de ciências e biologia.
Porém, como saber se as informações contidas em todos esses ambientes listados neste artigo são confiáveis e, realmente, tratam de ciência, não de achismos? Vale ler a seção “O papel da escola para supervisionar as fontes de informação”, no endereço https://azure.pnld.develop.edocente.com.br/blog/educacao/a-importancia-do-uso-das-redes-sociais-no-ensino-de-lingua-portuguesa/, aqui mesmo, neste blog.
Alguns passos são listados para essa verificação. Além disso, precisamos ter atenção a diversos pontos, como os que foram destacados no início deste texto a respeito do que é a ciência, de fato.
Conclusão
Sempre que escrevo um texto para este blog, tenho dificuldade em finalizá-lo. São tantos assuntos interessantes, tantos caminhos a seguir, tantas coisas a serem ditas… Mas fico feliz de ter este espaço, para que mantenhamos e estimulemos novas discussões sobre a ciência.
Seja na Wikipédia, nos blogs como este, nos repositórios, nas revistas científicas, no Youtube, nos podcasts, no Instagram, no Twitter ou nos cursos livres, precisamos estar atentos às referências, às bases que sustentam as discussões ali contidas.
As experiências listadas partem apenas de impressões pessoais ou estão alicerçadas por pesquisas sérias? Até mesmo quando pensamos nas inovações, como aquelas a que a pandemia nos levou; ou nas transgressões, também tão necessárias para a evolução humana, precisamos partir de um ponto sólido, consolidado, caso contrário, nossa construção não se manterá de pé e facilmente ruirá frente ao primeiro teste, ao primeiro questionamento.
E o questionamento é a principal liga que une os tijolos nas edificações científicas.
Referências bibliográficas
BATISTA, Claudinea de Araújo. O que é a idade mídia e quais são as suas reflexões? E-docente. 18 jun. 2021. Disponível em:
https://azure.pnld.develop.edocente.com.br/blog/educacao/o-que-e-a-idade-midia-e-quais-sao-as-suas-reflexoes/. Acesso em: 23 jun. 2021.
CIÊNCIA. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia. Acesso em 23 jun. 2021.
GOUVÊA, Guaracira. A cultura material e a divulgação científica. In: GRANATO, Marcus; RANGEL, Marcio (orgs.). Cultura material e patrimônio da ciência e tecnologia. Museu de Astronomia e Ciências afins – MAST, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: http://www.mast.br/images/pdf/publicacoes_do_mast/cultura_material_e_patrimonio_da_ciencia_e_tecnologia.pdf. Acesso em 23 jun. 2021.
PETROPOULEAS, Suzana et al. Redes sociais, o novo locus da ciência. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/06/26/redes-sociais-o-novo-locus-da-ciencia. Labjor, Jornal da Unicamp, 2018. Acesso em 23. Jun. 2021.
RIBEIRO, Tiago da Silva. A importância do uso das redes sociais no ensino de língua portuguesa. E-docente. 10 jun. 2021. Disponível em: https://azure.pnld.develop.edocente.com.br/blog/educacao/o-que-e-a-idade-midia-e-quais-sao-as-suas-reflexoes/. Acesso em: 23 jun. 2021.
Mini currículo
Tiago da Silva Ribeiro é professor do Magistério Superior no Instituto Nacional de Educação de Surdos nas disciplinas de Língua Portuguesa e Tecnologias da informação e comunicação. Tem experiência em turmas do ensino fundamental e médio, além de já ter atuado na modalidade on-line como mediador, orientador de trabalhos finais de curso, desenhista educacional, professor-autor e coordenador de curso. Seu Doutorado em Letras é pela PUC-Rio e teve como tema de trabalho o Internetês.
Recentemente, organizou, junto à professora Tania Chalhub, o livro “Reflexões de um mundo em pandemia: educação, comunicação e acessibilidade”, disponível gratuitamente no site da Editora Ayvu, no link:
https://4c940ada-a8f2-4241-ab73-4171a11a5dc8.usrfiles.com/ugd/4c940a_7dd2bd65b600437aa48cd765d9bec7b4.pdf.