Mapas e uso da linguagem cartográfica
Todos os dias, uma profusão de “memes” circula pela internet, provocando uma comunicação extremamente direta e instantânea com linguagem única. Entretanto, a ideia de que hoje crianças e jovens possuem maior conhecimento sobre o mundo é, no mínimo, parcial.
Conectar-se ao mundo, “assistir” ao mundo, diz mais sobre dispersão do que compreensão da realidade. Assim, cabe indagar: como “enxergar” o mundo que nos cerca? Como ler o mundo de fato e se apropriar da linguagem dos mapas, já que eles, assim como os “memes”, comunicam fenômenos, como síntese ou como prospecção de futuro?
Para que os mapas deixem o “lugar da estranheza e do mistério”, é preciso esclarecer qual a sua finalidade, apropriar-se de sua linguagem e incorporar elementos da alfabetização, sobretudo, do letramento a partir da “leitura do mundo” que parte da compreensão do objeto de estudo por meio da observação e da reflexão.
Nesse sentido, sugere-se observar e refletir sobre o próprio corpo (suas dimensões, limites e deslocamentos) como ponto de partida e sobre o lugar (espaço de vivência) como ponto de ampliação/reverberação de novos conhecimentos sobre outros lugares e fenômenos.
Para ler um mapa é preciso fazer um mapa e, por mais simples que seja, é necessário dar sentido à sua representação com atividades compatíveis com o desenvolvimento cognitivo da criança e estimulantes à sua imaginação e criatividade.
Como o aluno toma consciência da noção espacial?
Segundo Piaget, a aquisição das noções espaciais da criança ocorre em etapas ligadas ao desenvolvimento psíquico e motor. A função simbólica surge por volta dos dois anos e a criança já é capaz de representar uma ideia ou objeto.
Na idade do pensamento concreto (7 a 10 anos), ela necessita agir para conseguir construir conceitos e edificar conhecimentos. No estágio operatório formal (a partir dos 12 anos), o indivíduo começa a raciocinar lógica e sistematicamente. Numa perspectiva de foco na interação com o meio, ocorre o aprimoramento da linguagem e, consequentemente, da capacidade de representação e abstração.
Assim, ao ver o seu corpo contornado/desenhado, o aluno toma consciência do papel de mapeador que elabora uma representação sem perder as características de forma e tamanho, além de incorporar a visão vertical, que é o mesmo ponto de vista dos mapas.
É possível também “medir” objetos com dedos, palmos, pés ou um barbante esticado e depois dobrado, inserindo essas medidas não convencionais em um sistema de quadrículas, garantindo as equivalências.
Ao elaborar seus desenhos ou mapas mentais, a criança percebe a necessidade de incluir elementos indicativos de lugares ou caminhos. Nessa etapa, o uso de símbolos (legenda) evita o excesso de informações sobrepostas, unificam e simplificam a leitura do mapa.
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Boas estratégias de ensino
Fileiras de mesas e cadeiras escolares estão à disposição para estabelecer um sistema de coordenadas com a criação de jogos do tipo “caça ao tesouro”.
Posteriormente, abstrai-se esse sistema transferindo-o para outro terreno, porém esférico: o globo terrestre. Outra convenção geográfica diz respeito ao sistema de localização e orientação que sempre esteve ligado à memorização dos pontos cardeais e colaterais.
A observação do movimento aparente do Sol por dias sucessivos, ou as representações em forma de desenhos ou maquetes já seriam suficientes para despertar a curiosidade e promover a resolução de problemas ligados às abstrações envolvidas na dimensão gigantesca dos movimentos dos astros.
As diferentes formas de relevo são apresentadas a partir de uma escala de cores, o que indica diferenças de altitude.
Uma maquete com placas de isopor sobrepostas simula as diferenças altimétricas do terreno e demonstra, de maneira tridimensional, o que posteriormente poderá ser compreendido pela representação bidimensional de desenhos e mapas.
Conclusão
Assim, os principais elementos cartográficos tratam da relação real/representação, visão vertical dos objetos e espaços, uso de medidas não convencionais com redução proporcional e sistema de equivalência, sistemas de códigos e coordenadas, orientação e localização do indivíduo no espaço e a representação das formas de relevo.
Mapas codificam inúmeras informações que se encontram muitas vezes sobrepostas e sua leitura, sem uma preparação adequada, sempre gerará desconfortos.
A habilidade de leitura e interpretação de mapas será facilitada quando o leitor (decodificador) se colocar na posição de mapeador (codificador). Trata-se de um processo alfabetizador com foco no saber fazer e no fazer reflexivo. Fazer mapas é o caminho para ler mapas.
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Adriana Domingues Gomes