Como a Literatura aparece na BNCC?
Material de divulgação das editoras Ática, Saraiva e Scipione.
Não constitui documento oficial a respeito do PNLD.
Apesar de não ser delimitada como um componente curricular especifico, a Literatura está presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A cientificidade e a importância dos estudos de Literatura aparecem em vários aspectos do documento que determina o essencial para o Ensino Básico brasileiro.
O texto literário é de grande importância dentro da BNCC, principalmente no ensino de Língua Portuguesa em todos os segmentos de ensino. Porém, ela se manifesta apenas nas aulas de português: a Literatura aparece em várias outras disciplinas, como Arte e até mesmo Geografia.
Neste artigo, entenda como a Base fundamenta os estudos literários dentro das escolas e veja quais são os principais conceitos para implementar a Literatura da BNCC na prática escolar.
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Entenda o que é BNCC e quais seus principais objetivos
A Base Nacional Comum Curricular é um documento que define as aprendizagens fundamentais para a formação do estudante do Ensino Básico, que inclui da Educação Infantil ao Ensino Médio.
A proposta representa uma continuidade de alguns outros documentos: os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Matriz de Referência do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O objetivo do documento envolve o estabelecimento de uma educação igualitária em todo o território nacional, pautado na qualidade e nas demandas de pesquisa e mercado atuais.
Por possuir um caráter normativo, a Base busca apresentar, no modelo de competências e habilidades, o que deve ser desenvolvido dentro de todas as escolas de Ensino Básico no Brasil. Além das competências e habilidades, a divisão dos conhecimentos em cinco grandes áreas também representa um outro elemento de estruturação do documento.
A educação literária nas competências da BNCC
A Literatura na BNCC já se manifesta no direcionamento do documento: as 10 competências gerais da Educação Básica. A terceira competência, que diz respeito ao repertório cultural, envolve o lugar da escola enquanto lugar propício para as manifestações artísticas:
Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
Na escola, os alunos podem conhecer literaturas de várias regiões do Brasil, de outros países e de outras épocas. O professor, ao comentar, discutir e indicar obras literárias, apregoa a importância e valor da leitura para a formação humana.
Enquanto ciência, a Literatura representa uma forma de elucidação de conceitos, funcionando como um confronto ao senso comum.
Se tratando da Literatura na BNCC, o documento é norteado principalmente pelo papel da disciplina na vida das pessoas. Por conta desse fator, há um destaque quanto à adequação das práticas literárias que vão além dos muros da escola.
Em várias habilidades da Base, a Literatura associa-se à prática digital (vlog e blog, por exemplo), além da importância de se considerar as temáticas atuais e de interesse comum para as crianças e os adolescentes.
Ligada a posição e escolha por parte dos educadores, tem-se a fruição, importantíssima na BNCC. O ato de fruir, no documento, “refere-se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e à abertura para se sensibilizar durante a participação em práticas artísticas e culturais”.
A reflexão, promovida pelas fruições, envolve a construção de argumentos e ponderações. Ou seja, o fruidor, enquanto escritor ou leitor, é capaz de analisar e interpretar as diversas manifestações culturais.
A formação de leitores-fruidores alicerçada na BNCC
A Literatura na BNCC envolve, principalmente, a formação dos chamados leitores-fruidores. Essa edificação pode ser vista como o principal objetivo da Base no ensino da arte e ciência literária.
A seguir, veja como a formação do leitor literário acaba se direcionando em cada um dos segmentos:
Educação Infantil e o começo da formação do leitor
Na BNCC, o ensino de crianças pequenas baseia-se em campos de experiências. Neles, há a definição dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de cada ano. A Literatura aparece de maneira mais forte no campo de experiência denominado Escuta, fala, pensamento e imaginação.
Até os seis anos de idade, o ensino de Literatura é pautado na Literatura Infantil, que desenvolve o gosto pela leitura, estimulando a imaginação e ampliando o conhecimento de mundo das crianças. A aproximação com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis faz com que os alunos iniciem seu relacionamento com os livros.
Por compreender a etapa que antecede a alfabetização e a ortografização, o contato com diferentes gêneros literários, além da diferenciação entre ilustrações e escrita, são aprendizagens necessárias nessa fase de ensino.
Ensino Fundamental: o desenvolvimento da fruição
Dentre as seis competências especificas de Linguagens para o Ensino Fundamental, tem-se a quinta:
Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem como participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico-cultural, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.
Essa competência define que, no Ensino Fundamental, haverá um trabalho mais sólido em relação à formação do leitor-fruidor. Essa formação ocorre, majoritariamente, dentro do componente curricular Língua Portuguesa. No ensino da língua nativa, há o eixo Leitura, que, dentre outros atributos, busca tornar acessível práticas de linguagem diversas.
A fruição de obras literárias permite que o aluno faça apreciações estéticas, éticas, políticas e ideológicas a partir da leitura crítica. Desse modo, objetiva-se a “adesão às práticas de leitura”, traduzidas na Base com demonstrações esperadas do aluno em relação aos estudos literários:
- Interesse pelos livros de Literatura e envolvimento com a leitura proporcionada por eles;
- Aceitação aos textos desafiadores, desconhecidos e clássicos.
Ensino Fundamental: as atividades de leitura
Outro ponto que a BNCC ressalta dentro do Ensino Fundamental envolve a progressão das atividades de leitura. O professor, ao propor estudos de textos literários, deve buscar a ampliação do repertório dos alunos, além da interação com o diferente.
Ainda dentro da Língua Portuguesa, o campo de atuação denominado artístico-literário, presente tanto nos anos iniciais quanto nos finais, dialoga fortemente com a Literatura e, portanto, com a formação do leitor-fruidor. O campo artístico-literário objetiva, de forma especial, a valorização dos textos literários, proporcionando o fruir.
As práticas de linguagem, objetos de conhecimento e habilidades desse campo envolvem a formação do leitor literário, potencializando o valor humanizador, transformador e mobilizador da Literatura. Quando o aluno é impactado por esse valor e consegue compreender as múltiplas camadas de sentido do texto literário, há a caracterização do leitor-fruidor.
Os leitores-fruidores, no projeto previsto pela BNCC, são aqueles que, nos sinais socioemocionais, exercem a empatia e o diálogo.
Nessa formação de cidadãos emocionalmente educados, a Literatura permite “o contato com diversificados valores, comportamentos, crenças, desejos e conflitos, o que contribui para reconhecer e compreender modos distintos de ser e estar no mundo”.
Assim, o reconhecimento do que é diverso e a compreensão de si geram ações respeitosas que valorizam as diferenças.
Leia também: Como incentivar a leitura dos alunos do Ensino Fundamental 2.
Ensino Médio e a complexidade da leitura literária
Na proposta da BNCC do Ensino Médio, a Literatura se aproxima mais do componente curricular Arte, também do grupo das disciplinas de Linguagens.
A conexão entre o pensamento e a ludicidade são fortalecidos com o exercício da crítica, que se junta à apreciação e fruição já iniciados nos anos anteriores.
Para a constituição de alunos leitores-fruidores no Ensino Médio, é preciso direcionar os adolescentes às ações protagonistas. Ao exercerem diversas posições — apreciadores, artistas, criadores e curadores —, os alunos são despertados tanto às produções quanto à cena artística.
A tecnologia, nesse aspecto, rompe barreiras existentes posteriormente e permite que os jovens conheçam as representações artísticas conscientemente.
Novamente, o campo artístico-literário de Língua Portuguesa busca a formação de leitores, porém de forma mais complexa. Ele dialoga com a segunda competência específica de Linguagens e suas tecnologias para o Ensino Médio:
Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza.
Para desenvolver essa habilidade, é necessário aproximar as obras literárias de teorias mais aprofundadas. A Literatura no Ensino Médio, portanto, envolve a análise e compressão de circunstancias sociais, históricas e ideológicas dos textos literários de diversos períodos e origens.
São citados como exemplos de textos literários para o trabalho no Ensino Médio:
- a literatura juvenil,
- a literatura periférico-marginal,
- o culto (próximo ao erudito),
- o clássico (no que diz respeito ao cânone),
- o popular,
- a cultura de massa,
- a cultura das mídias e
- as culturas juvenis.
Literatura na BNCC: relação com o digital
Muitos são os momentos em que a Base Nacional Comum Curricular relaciona o ensino da Literatura às práticas digitais. A questão do compartilhamento é explicitada nas práticas da pós-leitura.
A Base apresenta algumas ações possíveis após a leitura de um livro literário: comentar em redes sociais, seguir escritores, produzir vlogs, escrever fanfics, se tornar booktuber. Essas realizações, além de presentes no dia a dia das crianças e adolescentes, envolvem um outro.
A partir da interatividade proporcionada pelo mundo virtual, os alunos desenvolvem critérios de escolha e preferência e compartilham suas impressões e críticas com outros leitores.
Em relação aos instrumentos para o desenvolvimento da leitura na escola, a Base não se limita aos textos puramente literários. As HQs, filmes, animações, paródias, games e outras produções baseadas em obras literárias são muito aplicáveis ao contexto escolar e são ainda mais acessíveis por meio da internet.
Isso significa que o professor, além de leitor, deve procurar representar uma figura inteirada nas práticas digitais e virtuais. A atualização envolve considerar a Literatura que é comentada com maior frequência nesse contexto: a Literatura contemporânea juvenil.
O professor deve buscar selecionar livros que fogem da perspectiva clássica e canônica, embora esses sejam de suma importância nos estudos literários. Dessa maneira, as obras do PNLD Literário envolvem temáticas mais atualizadas e juvenis.
Interessante ressaltar que a ideia de utilizar livros de interesse dos alunos é ainda mais profunda. Essa perspectiva marca a aproximação das práticas de leitura às preferencias das crianças e adolescentes. Ao estimular a leitura com base na predileção naturalizada, é possível motivar a leitura dos clássicos mais facilmente.
Conclusão
Apesar de não ser retratada como um componente curricular único, a Literatura na Base Nacional Comum Curricular se dá de maneira transversal. Apesar de centralizado no ensino de Língua Portuguesa, os estudos literários são relevantes e importantes para o desenvolvimento de todas as áreas de conhecimento.
A Literatura na BNCC é fortemente associada à formação de leitores-fruidores. Esse tipo de leitor é aquele que compreende o valor do estudo literário e respeita as mais diversas expressões artísticas. Portanto, é desenvolvido o conhecimento de culturas — regionais e mundiais —, das variações linguísticas do português e das línguas estrangeiras e das diferentes maneiras de expressão.
O ensino literário está envolvido à educação socioemocional, uma vez que fortalece sentimentos como a empatia e a solidariedade, além de provocar reinvenções e questionamentos sobre o eu e o mundo.
O texto de Literatura, logo, propicia ações genuínas que não são facilmente encontradas em outros gêneros: a incitação às emoções, sentimentos e ideias. A Literatura, assim como a Arte e a informação, constitui um Direito Humano, o que justifica ainda seu aparecimento na BNCC.
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