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História de Tiradentes: Quem foi e como trabalhar na escola?

19 de abril de 2022
E-docente

A historiografia luta há muito para que entendamos que a história é feita por muitos. Ela é formada por muitos fatos que se relacionam. Precisamos buscar essa compreensão.

Nesse contexto, Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, se destaca em um movimento maior. Esse movimento é a Inconfidência Mineira, que ocorreu em 1789. Era uma conspiração que queria a independência da Capitania de Minas Gerais do controle colonial português.

Portanto, é um olhar que rebate a ideia de heróis e heroínas. É um olhar que mostra que a história é sempre contada por alguém. Ela pode ter uma ou mais versões. 

Diante dessas ideias, o trabalho escolar voltado para uma só data e em um único personagem não cabe mais. Esses novos caminhos é o que buscaremos neste breve texto.

Para começar: entenda a história

A Conjuração Mineira, ocorrida no século 18, foi uma das revoltas, e não a única, organizada contra a coroa portuguesa. 

Os integrantes eram homens de diferentes profissões da elite de Minas Gerais. Entre eles estava Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes. 

Esse movimento questionava a relação entre a metrópole e a colônia. Ele mostrava uma grande insatisfação com os impostos que a coroa cobrava do ouro encontrado. As pessoas não apenas reclamavam do alto percentual dos impostos, mas também da forma violenta como eram cobrados. 

Esses homens defendiam ideias republicanas, ideias de autonomia econômica e política da colônia. É comum os termos inconfidência e conjuração serem usados como sinônimos. 

Atenção, não são!

Inconfidência se trata de quebra de sigilo; revelação, de segredo; já conjuração refere-se à associação de indivíduos a alianças, a uma conspiração. Portanto, aqui trataremos muito mais da Conjuração Mineira.

A história de alguém

A abordagem sobre esse dia pode começar com quem foi Joaquim José da Silva Xavier. Ele era conhecido como Tiradentes e morreu em 21 de abril de 1792.

Porém, o trabalho com essa biografia não deve iluminar as formas como esse personagem foi morto, mas o porquê foi morto. É preciso enfatizar, também, sobre o que lutava e com quem lutava. E sobre essa luta, ainda, é preciso saber o que esses homens desejavam e quem se beneficiaria com os ideais que pregavam.  

Enfim, cabe a nós professores e professoras, trazermos um olhar crítico sobre o momento histórico com o qual trabalhamos.

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Portanto, a data celebrada é a data que representa um movimento de muitos e não a morte de um único homem.

Perguntas podem levar os alunos e alunas a refletirem:

  • Por que esse homem foi morto?
  • Quais ideias defendia?
  • Estava sozinho nessa luta?
  • O que você acha sobre alguém não poder dizer ou expressar seus pensamentos?
  • O que você acha sobre alguém ser morto ou ser expulso de seu país por pensar diferente do governo da época?

Essas perguntas tiram o foco da pessoa e trazem conceitos como liberdade e justiça para o centro da conversa. E, logicamente, o aprofundamento dessas ideias dependerá da faixa etária com a qual você estiver trabalhando.

Contextos explicam muito

A compreensão da Conjuração Mineira é bastante complexa, mas isso não quer dizer que alguma abordagem não possa ser feita.

Para entender a luta desses homens, os estudantes precisam saber sobre a relação entre uma metrópole e sua colônia. Neste caso, a metrópole é Portugal e a colônia é o Brasil. 

A partir dessa relação, é possível pensar sobre o que é autonomia. Isso significa poder escolher o que é melhor para o lugar onde vivem.

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Esse contexto pode explicar parte dessa luta, mas também é preciso abordar o contexto social brasileiro dessa época. 

O Brasil era um país escravagista e não há registros efetivos que esses homens lutassem pelo fim da escravidão. Considerando que mais de 60% da população das Minas Gerais, no século 18, era composta por negros e negras escravizados, o que é possível inferir? A partir dessa ideia, é possível um significativo exercício de reflexão sobre a luta desses homens: lutavam por quem?

Representações iconográficas: um alerta

O ensino de História preza muito o uso de diversas fontes históricas e, dentre elas, a iconográfica. Mas, no caso da Conjuração Mineira, é preciso muita atenção. 

Muitos estudos apontam as semelhanças entre Tiradentes e Cristo em várias representações, e sabemos que não há relato sem intenções. 

Além desse aspecto, há uma dramaticidade impressa nas representações que levam à ideia de heroísmo de um só homem.

Nossas lutas

Um momento desse trabalho em sala de aula pode ser discutir aspectos da sociedade que precisam ser melhorados.

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Aspectos que precisam fazer parte de nossas vidas para que a sociedade seja mais igualitária, mais justa. Esse trabalho poderá contemplar as seguintes etapas:

  • Debater sobre qual será o tema da “luta” e terem como desafio chegarem a um consenso.
  • Discutir sobre quem se beneficiaria com essa luta. É uma luta que atende a poucos ou a muitos?
  • Estabelecer o que “a luta” pretende. Qual é o maior objetivo?
  • Divididos em equipes, elaborar uma bandeira que represente essa ideia.
  • Eleição de qual bandeira melhor representa o “movimento”.
  • Elencar as ações que devem acontecer para a solução do que levantaram.

Esse trabalho pode se desenvolver a partir de um problema vivido na escola e não um problema de âmbito social. O problema pode ser algo que está quebrando a harmonia da escola, como: bullying, lixo no chão e falta de respeito aos funcionários. 

O importante é entender que, para resolver um problema com um grupo, mais pessoas precisam se comprometer com a solução.

Para saber mais:

Schwarcz, Lilia M. e Starling, Heloisa M.. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Bueno, Eduardo. Brasil: uma história – a incrível saga de um país. São Paulo: Editora Ática, 2003.

Mariângela Bueno é formada em História e Pedagogia. Ela trabalha na formação de professores em escolas públicas e privadas. Seu foco é na área de Ciências Humanas e Sociais. Desde 2018, ela é selecionadora do Prêmio Educador Nota 10.

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