O ensino de ortografia
A Base Nacional Comum Curricular assumiu o compromisso de que a alfabetização de crianças deve ocorrer até o 2º ano do Ensino Fundamental.
De acordo com o dado, espera-se, então, que a partir desse processo, esses alunos usem o SEA (Sistema de Escrita Alfabética), isto é, aprendam o valor sonoro das letras e possam ler e escrever sozinhas pequenos textos. É claro que, nessa fase, elas cometerão muitos erros, mas isso é absolutamente natural.” (MORAIS, 2010, p.9).
Nesse sentido, há uma expectativa por parte dos educadores que os alunos estejam oficialmente alfabetizados com domínio de uma grande variedade de regras de ortografia da língua e, assim, preparados para corresponderem às atividades propostas.
No entanto, por diversas razões, muitos estudantes iniciam seus estudos nos Anos Finais e Ensino Médio com o conhecimento ortográfico inconsistente.
Quer saber mais sobre os desafios do ensino de ortografia?
Então, confira o conteúdo que preparamos!
Quais os desafios e as possibilidades para o ensino de ortografia?
Muitos professores apontam para a necessidade de estabelecer estratégias eficazes que promovam resultados positivos na aprendizagem da ortografia, principalmente em séries escolares após a etapa de alfabetização.
Desse modo, estruturar abordagens didáticas mais profícuas bem como a avaliação formativa da aprendizagem dos aspectos ortográficos ensejam:
- defesa de um ensino sistemático de ortografia em todo o Ensino Fundamental e Médio;
- conhecimento técnico docente acerca das regularidades e irregularidades da norma ortográfica;
- definição de metas de aprendizagem ortográfica para diferentes etapas da Educação Básica e o diagnóstico contínuo dessas aprendizagens;
- encaminhamentos metodológicos mais reflexivos quanto ao ensino de ortografia;
- revisão e edição final de textos em sala de aula, tendo a ortografia como uma etapa indispensável.
Na ortografia da Língua Portuguesa, há as chamadas regularidades e irregularidades e, por isso, seu ensino precisa prever tratamentos didáticos de acordo com cada especificidade.
Então, metodologicamente, é imprescindível estabelecer o que o aluno pode compreender de forma analítica e reflexiva e as regras que ele precisará memorizar. No tocante às regularidades, dividem-se em três tipos, sendo elas: diretas, contextuais e morfológico-gramaticais.
Regularidades no ensino de ortografia
Observando a tabela a seguir, é possível compreender que a aprendizagem da ortografia seja um ponto para levantar questionamentos e dúvidas por parte dos alunos sobre as relações regulares e suas divisões.
REGULARIDADES DIRETAS | REGULARIDADES CONTEXTUAIS | REGULARIDADES MORFOLÓGICO-GRAMATICAIS |
favor X “vafor” | cachorro X rodo | casaco X beleza |
bandeja X “danbeja” | gota X fogueira | comeram x Comerão |
ovelha X “ofelha” | tampa X cantar | criança X criancice |
A tabela demonstra, de forma breve e resumida, alguns dos casos corriqueiros no processo de ensino da ortografia. Os exemplos dos grupos são de natureza “letra-som”, pois é comum alguns alunos trocarem letras que, por uma questão, principalmente fonética, faz com que os confunda, no momento da escrita.
Irregularidades no ensino de ortografia
Para os casos das irregularidades, não há regras que induzam o aluno a ser assertivo em sua escrita.
Para Morais (2010), sempre que surgir dúvidas quanto à grafia, o aluno deve recorrer ao dicionário para facilitar a memorização das palavras que apresentarem traços dessas irregularidades. Como, por exemplo: “orário” (quando se quer escrever horário) e “orta” (para referir-se à “horta”).
Tradicionalmente, muitas escolas têm adotado métodos, no que compreende o ensino da ortografia, pouco flexíveis como, por exemplo, o ditado tradicional, cópias, correções rígidas, deixando de considerar importantes progressos dos alunos.
Pensando nos casos de dificuldades ortográficas regulares e irregulares, o professor ou a professora deve planejar suas aulas utilizando estratégias diferenciadas.
Reflexões
Considerando essas reflexões, propomos que os aprendizes sejam expostos continuamente a reflexões sobre a ortografia de sua língua em variadas situações de sala de aula:
- Interação entre diversos gêneros textuais/discursivos – O contato dos estudantes com situações de leitura, para além do trabalho com as diferentes habilidades da área, em termos de especificidades da norma ortográfica, propiciam situações de reflexão sobre a escrita de palavras. O uso de textos para o tratamento didático da ortografia se justifica pela necessidade de ensino explícito desse eixo, ou seja, com o auxílio sistemático do professor ou professora, ao invés de esperar que o estudante aprenda todas as regras e convenções de forma autônoma.
- Revisão individual ou coletiva de textos escritos – A produção de textos é uma grande reveladora sobre o domínio ortográfico dos estudantes, uma vez que determinados erros percebidos devem ser alvo de ensino explícito a partir de uma reflexão mais pontual durante o momento reservado às revisões de um texto elaborado. Ademais, a observância da escrita espontânea dos estudantes permite traçar um ensino de ortografia mais personalizado, de modo a atender discentes que apresentam mais dificuldade.
- Situações específicas de ensino de determinadas regras ortográficas – A partir da diagnose feita por meio da escrita de alunos, de forma específica, ou da turma como um todo, o planejamento de sequências didáticas com progressão em relação às aprendizagens ortográficas, com retomadas e de forma reflexiva, principalmente nos Anos Finais do Ensino Fundamental.
A importância de boas práticas pedagógicas no ensino de ortografia
Apesar de, diferentemente de outros eixos da Língua Portuguesa, a ortografia poder ser abordada a partir de palavras desvinculadas de um texto ou contexto. É importante que práticas pedagógicas reflexivas e com sentido sejam pensadas, de modo que os estudantes deduzam regras e utilizem essas aprendizagens em situações de escrita espontânea de textos. Didaticamente, algumas propostas metodológicas auxiliam no desenvolvimento da escrita ortográfica, tais como as relacionadas a seguir:
Sequências Didáticas para o ensino de ortografia
Grosso modo, as Sequências Didáticas são alternativas pedagógicas cuja premissa é a articulação das atividades, que são propostas a partir de um determinado objetivo didático, sendo entendido aqui como a aprendizagem das normas ortográficas e seu domínio na escrita de textos espontâneos. Dessa forma, as atividades de uma sequência presumem uma progressão entre elas.
Como evidenciamos, a necessidade de um ensino progressivo e sistemático da ortografia e a estruturação de um trabalho pedagógico por meio de sequências didáticas facilitam a organização das atividades que proporcionam conflitos cognitivos, tendo como principal objetivo a reflexão sobre uma determinada regra enfocada. Os modelos de sequência e o tempo destinado à aplicação deverá respeitar a dinâmica e as necessidades de cada estudante ou turma.
Exploração de saberes ortográficos prévios dos alunos
A exploração das hipóteses ortográficas dos alunos são a chave para a construção reflexiva das noções de regra e de norma da língua. Ou seja, diferenciá-la do sistema de escrita alfabética, aprendido na fase de alfabetização.
Dessa forma, oportunizar que os estudantes falem sobre as hipóteses sobre regras de ortografia auxiliam no confronto de informações sobre a regras e o repensar das hipóteses já construídas.
Problematização e reflexão como foco das abordagens didáticas
A definição das regras, nesta perspectiva, não é apresentada aos estudantes inicialmente.
As atividades ortográficas propostas devem levar aos estudantes a uma posição ativa e protagonista de sua aprendizagem.
Portanto, eles devem chegar a conclusões sobre as normas de escrita, tendo o professor ou a professora como mediador dessas aprendizagens, oferecendo desafios e situações de conflito cognitivo, fazendo com que reflitam em possíveis soluções.
Ao abordar os conhecimentos ortográficos de maneira focalizada e agrupada, a sistematização das aprendizagens acontece. Um aspecto importante neste processo é a participação oral dos estudantes sobre as descobertas aprendidas que, posteriormente, seriam registradas por eles.
A produção de registros coletivos das regras observadas auxilia na compreensão do funcionamento de cada regra e organiza os conhecimentos ortográficos adquiridos.
Outro aspecto fundamental é o ensino de ortografia por meio de atividades diversificadas, desafiadoras e progressivas entre si em termos de complexidade.
Além disso, ao se optar por uma proposta de ensino em Sequência Didática, a necessidade de avaliações formativas contínuas e cumulativas torna-se indispensável. De modo que o professor ou a professora obtenha elementos concretos para acompanhamento dos avanços ou dificuldades dos estudantes ou da turma no sentido de retomar, ampliar ou reestruturar as atividades propostas.
A ludicidade no ensino das normas ortográficas
Os jogos didáticos, por possuírem caráter lúdico e de diversão, promovem, ao mesmo tempo, a aprendizagem das normas ortográficas por meio de jogos de ortografia.
A partir do envolvimento e da interação dos estudantes nas jogadas, há grande oportunidade para que conversem sobre regras, levantem hipóteses, ajudem colegas com mais dificuldade entre outras ações realizadas para o alcance do objetivo do jogo.
Muitos pesquisadores da área afirmam que os jogos propiciam a manipulação das regularidades da língua, oportunizando, assim, a manipulação consciente e deliberada das regras, de modo que haja a promoção das aprendizagens.
Os objetivos dos jogos ortográficos devem ser: a) fomentar a compreensão, por parte dos estudantes, dos princípios geradores das normas (regularidades ortográficas); b) despertar a atenção para a presença das irregularidades ortográficas; e c) facilitar a memorização de palavras lucidamente.
Tratar o tema “ensino de ortografia” de forma específica é imperativo porque, em nossa sociedade, o erro ortográfico é fonte de discriminação.
Docentes de todas as etapas da Educação Básica revelam preocupação com o tema e, ao mesmo tempo, a escola, via de regra, não ensina ortografia explicitamente, porém tende a avaliar punir a falta de consolidação ortográfica.
A notação ortográfica é uma necessidade social: facilita a interlocução e garante a participação em eventos letrados com êxito e propriedade, sendo sua aprendizagem indispensável a todos que passam por anos de aulas de Língua Portuguesa em sua trajetória acadêmica na Educação Básica.
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Mario Sergio Mangabeira Junior é Mestre em Letras pela UFRRJ. Professor de Língua Portuguesa e Inglês da SME/RJ. Elaborador de material didático Rioeduca de Língua Portuguesa da SME/RJ. Atua em formação continuada na área de Metodologia de Ensino de LP e Organização do Trabalho Pedagógico. Atualmente, é Assistente da Coordenadoria de Gestão Escolar da SME/RJ.
Referências
ALMEIDA, Tarciana Pereira da Silva. A relação entre a mediação docente e o desempenho ortográfico de alunos participantes de jogos de ortografia. DISSERTAÇÃO. Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernambuco, 2013.
MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: Ensinar e A