Ensino Fundamental 2: Como lidar com a dificuldade de adaptação
Boa parte da vida da criança está concentrada na escola: seus amigos, suas referências de adultos de confiança, as atividades, obrigações. Qualquer mudança nesse ambiente pode se refletir definitivamente nos sentimentos e no comportamento da criança.
A transição do Ensino Fundamental 1 para o Ensino Fundamental 2 é, sem dúvida, um dos eventos que mais tem potencial para ser “traumático” nessa perspectiva: são vários professores novos, muitas disciplinas a mais, mais aulas e menos tempo para cada uma.
Em alguns casos, essa transição é acompanhada ainda por uma mudança de escola, o que representa uma adaptação extra. Não é nada fácil para o estudante.
A passagem do 5º para o 6º ano pode ser complicada e levar à perda de desempenho escolar por parte das crianças, mas há várias estratégias que ajudam a suavizar essa transição e torná-la mais simples e tranquila. Pais, professores e coordenadores podem unir forças nesse momento.
Neste artigo, você vai ver algumas dicas práticas para a adaptação do aluno. Confira!
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O que é a “síndrome do 6º ano”?
Não raro encontrar professores que estranham as atitudes dos alunos que ingressam no 6º ano. Podem dizer que são desatentos, excessivamente dependentes, que gostam apenas de brincar e têm desempenho acadêmico baixo, por não quererem fazer as tarefas.
No jargão pedagógico, esse comportamento é chamado de síndrome do 6º ano. Ele ocorre justamente devido à transição dos anos iniciais para o Ensino Fundamental 2.
Até o 5º ano, os alunos têm apenas um ou dois professores com quem têm uma relação bastante próxima. As aulas têm duração longa, há mais atividades de brincar, a professora tem uma postura mais maternal, as atividades exigidas são menos complexas.
A partir do 6º, tudo muda: aulas curtas, de menos de uma hora, vários professores, cada um com sua própria didática, muito mais tarefas e aplicação de provas, sem contar as próprias transições emocionais que o princípio da puberdade traz.
O resultado disso é o aumento do estresse (às vezes por antecipação) e uma queda visível de rendimento escolar que ocorre com muitos estudantes que migram de uma etapa para a outra.
A responsabilidade do professor
Cabe aos professores entender esse processo. De acordo com os pesquisadores Sanchez Huete e Fernandez Bravo, para que a compreensão seja alcançada,
é necessário que o aluno reinvente-a por meio de processos de busca de equilíbrio. Quando o aluno é incapaz de expressar por palavras o que pode fazer ou compreender, devem ser propostas aprendizagens que envolvam, de forma real e consciente, seus processos de raciocínio.
A busca de equilíbrio decorre dessa mudança que atrapalha a aprendizagem, e deve ser suavizada por meio de atividades específicas.
A relação entre docentes e crianças deve ser reforçada nesse momento, entre o meio do 5º ano e o início do 6º, para evitar consequências negativas. Entra então a necessidade de os professores se reinventarem para entender e se aproximar do momento de vida dos alunos.
Entre as possibilidades está a aplicação de metodologias inovadoras, baseadas em aspectos cognitivos e socioemocionais, com uso de tecnologias e elementos que façam parte da vida dos alunos. Veremos esse ponto em mais detalhes adiante.
Como trabalhar a transição para o Ensino Fundamental 2 de forma saudável?
A entrada no 6º ano representa um aumento de responsabilidades, de tarefas e de seriedade. É uma das primeiras vezes na vida da criança que isso acontece, se não for a primeira. Sendo assim, o papel mais importante do professor é suavizar esse sentimento.
Boa parte dos ingressantes do 6º ano sentem-se sozinhos, com medo e intimidados pelas novas responsabilidades que terão de assumir. Ao mesmo tempo, os hábitos dependentes permanecem.
É aqui que a afetividade entre professor(a) e alunos entra em cena, não apenas pela relação de empatia dos docentes com esse momento complicado, mas também por unir e reforçar as relações de confiança.
De acordo com a autora Celeida Pinto, “a afetividade intervém nas operações da inteligência, estimulando-as ou perturbando-as, podendo comprometer o desenvolvimento intelectual.
Os mecanismos afetivos e cognitivos permanecem indissociáveis.” O afeto, portanto, tem um papel fundamental nesse processo de favorecer o equilíbrio em meio ao desequilíbrio.
Ou seja, oferecendo um lugar seguro de refúgio para os alunos.
Boas práticas e hábitos de transição para o Ensino Fundamental 2
A primeira boa atitude que os professores devem praticar é justamente a empatia: colocando-se no lugar do aluno. Isso fará com que, provavelmente, ele entenda o que são responsabilidades, sinta-se confuso e com medo, e ainda precisa de apoio, suporte e carinho.
A escola também deve compreender esse momento e promover uma transição que seja o mais suave possível.
Apresentar aos poucos os professores do 6º ano para os alunos do 5º ano, realizando projetos integrados entre eles, pode fazer com que as crianças se acostumem com os novos rostos antes de a mudança efetivamente ocorrer.
Elevar pouco a pouco a carga de exigências e atividades ainda no 5º ano também ajudará a tornar menos brusco o aumento das tarefas.
Essas ações devem ocorrer em paralelo a diálogos constantes entre os dois grupos de professores, para trocar informações sobre os alunos e debater melhores práticas.
Todos os alunos devem ser contemplados nesses diálogos, criando estratégias de ensino que contemplem toda a turma, inclusive de reforço e acompanhamento específico para determinadas crianças. Com isso, eventuais problemas podem ser diagnosticados com antecedência.
Após a entrada no 6º ano, no início do ano letivo, os professores devem ser um pouco mais flexíveis com prazos e articular entre si a cobrança de tarefas de casa, trabalhos e o calendário de provas, para não sobrecarregar os alunos durante a transição.
Incentivo e confiança: as chaves do sucesso
Incentivar hábitos de organização nesse momento pode ser interessante: a turma pode criar uma agenda coletiva, com cartazes e colagens pela sala de aula, destacando as atividades que devem ser feitas por todos.
Cada aluno também deverá criar a própria agenda, com auxílio do professor, para fazer a própria organização individual. Separar algumas aulas vagas ou datas específicas do calendário escolar para ensinar práticas de organização, métodos de estudo e de produção de trabalhos escolares também faz parte dessa integração do aluno à nova realidade.
Outro aspecto da transição é a relação com os professores e adultos de confiança na escola. A partir do 6º ano, começa a desaparecer a figura da “tia” como professora, que dá lugar a vários professores e várias matérias diferentes.
Tantas novidades podem sobrecarregar o emocional do aluno, que perde a referência de adulto em quem pode confiar nesse processo, um professor com quem pode tirar dúvidas, levar medos e, sobretudo, pedir ajuda.
A organização da escola também deve agir nesse sentido: centralizar algumas funções gerais em apenas um(a) professor(a), que ficará responsável por cada turma do 6º ano, pode ser uma solução.
Por outro lado, eleger um aluno que esteja mais estruturado e preparado para assumir responsabilidades para ser representante de classe (podendo até haver um revezamento) ajuda a dar um pouco mais de conforto e segurança nesse processo.
Conclusão
Ainda que haja muitas possibilidades de fazer a transição de forma tranquila para os alunos, todas se resumem no bom acolhimento da criança. A empatia, o carinho e a afetividade são absolutamente fundamentais para que esse processo ocorra da forma mais saudável possível.
Nesse sentido, é preciso ressignificar a afetividade dentro do ambiente escolar. Conforme apontado por Paulo Freire em sua obra Pedagogia da autonomia:
Afetividade não me assusta, que não tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade.
Esse trecho mostra a necessidade de fazer com que as regras de disciplina, comportamento e organização trabalhem junto com a humanização e os sentimentos, que considerem os momentos de vida de cada aluno e que usem o afeto como alavanca. Acolher as crianças e fazer com que elas se sintam respeitadas deve ser a base de tudo.
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