Dia da Língua Portuguesa
O Dia da Língua Portuguesa se comemora no dia 10 de junho. Porém, nossa língua tem celebrações em outras duas datas do ano — 5 de maio e 5 de novembro.
De acordo com dados do catálogo referência em línguas Ethnologue, a língua portuguesa é falada por mais de 230 milhões de pessoas, mais precisamente por 234.168.620 falantes.
Distribuída pelo mundo todo, são países lusófonos — isto é, de língua e cultura portuguesa — Portugal, Brasil, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Guiné Equatorial
Ao possuir imenso valor histórico e cultural, a língua portuguesa merece enaltecimento e festejos, principalmente em ambiente escolar.
Neste artigo, citamos sobre os dias de comemoração da língua portuguesa durante o ano.
Aproveite para conhecer um pouco da história da nossa língua e ver propostas de atividades para o homenagear o Dia da Língua Portuguesa na escola.
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Dias da Língua Portuguesa
Qual é o Dia da Língua Portuguesa, afinal? Abaixo, confira por que há três datas direcionadas às comemorações da língua.
Dia Internacional da Língua Portuguesa — 5 de maio
Em julho 2009, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), por meio de uma resolução, institui que no dia 5 de maio celebra-se o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP, também chamado de Dia da Lusofonia em alguns contextos.
Marcado por diversas iniciativas pelo mundo inteiro, o dia começa a se celebrar com uma série de eventos oficiais da Comunidade em 2019.
Dia da Língua Portuguesa — 10 de junho
Instituído pelo órgão legislativo do Estado Português no ano de 1981, o dia 10 de junho é quando, convencionalmente, se comemora o Dia da Língua Portuguesa no Brasil.
A escolha da data está diretamente ligada à homenagem a Luís de Camões, considerado o maior poeta de língua portuguesa da história, falecido em 10 de junho de 1579. Os Lusíadas é um dos maiores clássicos da literatura portuguesa e merece ser relembrado na data:
Estas sentenças tais o velho honrado
Vociferando estava, quando abrimos
As asas ao sereno e sossegado
Vento, e do porto amado nos partimos.
E, como é já no mar costume usado,
A vela desfraldando, o céu ferimos,
Dizendo: “Boa viagem”, logo o vento
Nos troncos fez o usado movimento.
Canto V, 1ª estrofe, Os Lusíadas, Camões
Dia Nacional da Língua Portuguesa — 5 de novembro
Por meio da Lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006, instaurou-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa como uma data comemorativa brasileira:
Art. 1º: É instituído o Dia Nacional da Língua Portuguesa a ser celebrado anualmente no dia 5 de novembro, em todo o território nacional.
Lei nº 11.310, 12 de junho de 2006
A data escolhida é uma consagração ao escritor brasileiro Rui Barbosa, que nasceu em 5 de novembro de 1849. Rui foi uma figura muito relevante para a cultura em língua portuguesa, principalmente da modalidade brasileira, visto que, além de expressivo estudioso do idioma, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Evolução da Língua Portuguesa
Como diz o professor português Ivo Castro, o percurso da língua portuguesa “começa como um capítulo da história do latim”. Filho do chamado latim vulgar, assim como o castelhano e o francês, o português é classificado como uma língua românica — ou neolatinas, como preferem alguns.
O latim foi se transformando até que, devido às numerosas mudanças, foi formada a língua portuguesa. Porém, essa transformação não aconteceu instantaneamente, já que há evidências de que essa formação do idioma começou no século IX.
Para facilitar a compreensão dos períodos da língua portuguesa, nos basearemos, sem muito delimitar, na divisão proposta pelo gramático Lindley Cintra:
Português Pré-Literário (até 1200)
Ainda no processo de formação da língua, não há representações escritas do português. Neste período, traços do que viria formar o português apareciam na variedade oral do latim que começava a surgir na Península Ibérica.
Português Antigo (até 1385–1420)
Esse português diz respeito aos primeiros textos, até então encontrados, escritos na língua (chamada por alguns estudiosos de galego-português). Quanto ao vocabulário, o português antigo se destaca por conta da influência do francês e do provençal. É aqui que se insere a produção lírica das cantigas trovadorescas.
Português Médio (até 1536–1550)
Período marcado pela variação entre as formas antigas e as formas novas. Uma fase de transição em que a língua foi bastante instável. Resultou em uma nova língua literária, separação do galego-português e rompimento com a língua dos Cancioneiros.
Português Clássico (até o século XVIII)
Começou com o aparecimento da primeira gramática de língua portuguesa — Grammatica da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira — e publicação de obras literárias clássicas, como Os Lusíadas.
Neste período, por conta da expansão ultramarina, muitas palavras das línguas africanas, americanas e asiáticas incorporaram-se ao português.
Português Moderno (até o século XIX–XX)
A fase moderna do português caracteriza-se como um período em que Portugal expandiu a produção de dicionários e, por reflexo da expulsão dos Jesuítas, reformou o ensino. Além disso, soma-se a força cultural das escolas literárias durante todo o período.
Houve também a independência do Brasil, que aumentou a diferenciação cultural e linguística entre o português de Portugal e o português falado em solo brasileiro.
No estágio final do português moderno, deu-se a larga influência da língua inglesa na língua portuguesa.
Português contemporâneo (atualmente)
Estruturalmente, não há grandes mudanças na língua. Porém, o foco na cultura dos diferentes tipos de portugueses está cada vez mais difundido.
Homenagem ao Dia da Língua Portuguesa na escola
Como a cultura portuguesa é riquíssima e mundial, há inúmeras atividades para ser desenvolver em ambiente escolar para celebrar o Dia da Língua Portuguesa.
Como o português está em todo lugar, as homenagens não se limitam às aulas de Língua Portuguesa, podendo acontecer em todas as disciplinas.
A homenagem ao Dia da Língua Portuguesa pode ser utilizada, ainda, para a implementação de conceitos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), desenvolvendo habilidades e competências do documento na celebração.
A seguir, apresentaremos algumas sugestões de práticas parar homenagear a língua em seu dia:
Leitura de textos antigos
Essa atividade pode ser realizada tanto na aula de História quanto na aula de Língua Portuguesa. A ideia envolve ler o texto de alguma das fases antigas do português e, junto aos alunos, encontrar diferenças da língua atual em relação à utilizada no texto.
Depois disso, é válido contextualizar historicamente o período em que o texto escolhido foi escrito e, se houver, destacar algumas curiosidades sobre o autor.
Por meio dessa atividade, os alunos, além de explorarem a modalidade de leitura, conhecerão um pouco sobre o passado da língua portuguesa e compreenderão algum período histórico.
Como sugestão, indicamos a leitura de um trecho do livro Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brazil e do que obraram seus filhos nesta parte do novo mundo, de 1663, escrito pelo Padre Jesuíta Simão de Vasconcelos.
O livro, que mescla a escrita literária e documental, fala sobre as maravilhas do Brasil e pode ser uma ótima abertura para falar sobre a atuação da Companhia de Jesus no país.
A Base Nacional Comum Curricular prevê, nos Parâmetros para a organização/progressão curriculares do campo de atuação social Artístico-Literário, a abordagem de “obras de diferentes períodos históricos, que devem ser apreendidas em suas dimensões sincrônicas e diacrônicas para estabelecer relações com o que veio antes e o que virá depois.”
Oficina de poemas Metalinguísticos
Uma outra proposta é a realização de uma oficina de produção de textos poéticos que trabalhem a metalinguagem. A metalinguagem é uma função da linguagem que pode ser muito bem empregada para celebrar a língua portuguesa.
Para exemplificar e inspirar ideias, recomendamos a leitura do poema Catar feijão, de João Cabral de Melo Neto. Nesse poema, o poeta profere sobre a escolha de palavras no ato de escrever, compondo um tributo ao fazer poético:
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
[…]
NETO, João Cabral de Melo. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999.
Após a produção, a oficina se encerra com um sarau, em que cada aluno lê seu poema metalinguístico. Caso a oficina seja realizada em turmas do Ensino Médio, o professor pode ainda aproveitar para explicar sobre o período qual João Cabral de Melo Neto integrou e desafiar os participantes a comporem versos metrificados, assim como fez o poeta.
Essa atividade muito se alinha à habilidade (EM13LP47) da Base, que propõe a participação do aluno em eventos como saraus para apresentar obras da própria autoria “e interpretar obras de outros, inserindo-se nas diferentes práticas culturais de seu tempo”.
Criando neologismos
O fenômeno da criação de novas palavras, convencional na língua portuguesa, pode ser utilizado para celebrar o caráter expressivo da nossa língua.
Essa atividade, muito indicada para turmas com crianças pequenas, é também uma oportunidade de desenvolver habilidades da Base, principalmente do campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação, como a seguinte:
(EI03EF01) Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão.
Base Nacional Comum Curricular
O professor deve, antes de iniciar a atividade, falar sobre como a língua portuguesa é mutável aos contextos e permite ampla expressão de sentimentos.
A atividade, portanto, consiste em propor que os alunos descrevam algo — pode ser uma pessoa, uma obra, um game, entre outros — em um pequeno texto escrito de forma espontânea, criando palavras novas. Depois, eles devem trocar seu texto com os colegas, que devem identificar os neologismos e (tentar) explicar o que aquelas palavras novas querem dizer.
Um bom exemplo para apresentar à turma é a descrição de algum personagem do imaginário comum dos brasileiros, como a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo: “A Emília, a boneca cheia das faladagens, leva a vida travessamente.”
Ou ainda, citar algum escritor que utiliza de neologismos para se expressar na literatura, como Carlos Drummond de Andrade, no poema Caso Pluvioso, para descrever a chuva: “chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!”.
Conclusão
O Dia da Língua Portuguesa celebra a nossa língua. Por ser falada por mais de 230 milhões de falantes e idioma oficial em 9 países, é muito importante entendermos sua relevância cultural para valorizarmos sua história.
A língua portuguesa possui três dias oficias destinados à sua comemoração. Isso significa que são três oportunidades anuais de celebrarmos tudo que nossa língua nos permite, seja a comunicação com outras pessoas ou até mesmo as expressões mais complexas, como produções artísticas em português.
A homenagem ao Dia da Língua Portuguesa é uma ótima oportunidade para a escola desenvolver algumas propostas da Base Nacional Comum Curricular. Dessa forma, além de celebrar a nossa língua, a escola se alinha ao documento.
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Sou brasileira naturalizada, quando, por questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor.
Clarice Lispector