Como incentivar a leitura dos alunos do Ensino Fundamental 2
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Gostar ou não de ler não é algo inato, mas sim aprendido. Algumas crianças demonstram interesse de forma mais orgânica, já outras precisam de um estímulo adicional para incorporar esse hábito para o resto da vida. Em sala de aula, talvez essa não seja a tarefa mais simples.
Afinal, como incentivar a leitura de forma eficaz entre as crianças, e não as afastar mais ainda? Nos primeiros anos de alfabetização uma aproximação maior é necessária e ao longo do Ensino Fundamental esse trabalho deve ser cada vez mais reforçado.
Segundo a última edição da pesquisa Retratos da Leitura, realizada em 2015 pelo Ibope e o Instituto Pró-Livro, 44% da população brasileira é considerada não leitora, e 30% nunca comprou um livro. A média de leitura no Brasil é 2,43 livros por ano.
Além disso, entre os não leitores, 28% alegou que não o faz porque não gosta de ler. Os dados mostram grande discrepância na comparação com outros países: na França, por exemplo, a média de livros lidos por ano é 5 vezes maior. Há, portanto, uma urgência em descobrir formas de como incentivar a leitura no nosso país.
Para reverter essa situação, é fundamental ter um planejamento pedagógico eficiente. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê um eixo específico para o trabalho com a leitura de forma transversal em toda a formação.
Incorporar essas práticas é vital para o sucesso desse trabalho com as crianças e há maneiras simples de colocá-las na rotina, que não demandam grandes esforços por parte dos docentes ou da coordenação das escolas.
Como incentivar a leitura: dicas e ideias criativas
Abaixo, listamos algumas dicas, atividades e práticas criativas para incentivar a leitura de forma lúdica e atraente para os estudantes.
Todas as ideias são viáveis de serem colocadas na rotina escolar de forma a não atrapalhar o andamento das aulas, nem gastar mais com infraestrutura.
1) Leituras na biblioteca
É comum que muitos leitores assíduos sejam aficionados por livrarias, bibliotecas e quaisquer outros ambientes que proporcionem a imersão desejada em um momento pleno de leitura.
Sendo assim, uma das melhores dicas para incentivar a leitura é criar a cultura de apreciação do ambiente próprio para ela: no caso, a biblioteca da escola.
A biblioteca da escola deve ser pensada tanto para ser um ambiente tranquilo e confortável, distante das correrias e brincadeiras do pátio e do recreio, mas ao mesmo tempo deve ser atraente, bem iluminada e bem pintada.
É hora de eliminar o pensamento de que a biblioteca é um ambiente austero, cheio de livros empoeirados e onde o ato de pegar um livro é burocrático, repleto de regras.
Um bom investimento é colocar, além das mesas e cadeiras, pufes, poltronas confortáveis e almofadas coloridas. Tapetes coloridos podem estimular especialmente as crianças menores a apropriarem-se do espaço da maneira que acharem melhor.
Ainda, a disposição das prateleiras e dos livros deve estar bem organizada para que crianças mais baixas consigam alcançar os livros e manuseá-los de forma livre, sem necessidade de supervisão de um adulto a todo momento.
Para tornar o ambiente mais acolhedor ainda, é importante que os funcionários que trabalharem neste espaço sejam acolhedores, pacientes e abertos, para que os alunos sintam-se à vontade para ir até lá e experimentar os livros ali mesmo, sem necessariamente levá-los para casa.
O objetivo é fazer da biblioteca um lugar ao qual as crianças terão vontade de voltar espontaneamente, mesmo que apenas para passar um tempo livre entre aulas.
2) Liberdade de escolha
Imagine uma criança de 10 anos que é estimulada a ler porque isso foi cobrado em uma atividade obrigatória da escola.
O fato de a leitura estar atrelada a uma exigência, muitas vezes para nota, faz com que o prazer seja dissolvido em meio à obrigação e perca seu potencial de levar aquele aluno ao gosto individual pelo hábito.
Em meio a tantas distrações, como aplicativos de smartphone, videogames e outros, não é tão difícil entender por que estes últimos são preferidos aos livros em diversas situações.
Assim, uma alternativa para incentivar a leitura é diminuir o peso dessa obrigação. Os professores podem estimular que as crianças escolham o livro que querem ler sem que, com isso, percam o objetivo pedagógico.
Entendendo que cada criança tem seus próprios gostos e preferências, essa atividade pode levar cada um a partir de seu interesse inicial para escolher a leitura que fará.
O professor deve apenas orientar a escolha para que a leitura seja o mais proveitosa possível para aquele aluno.
Uma vez que o objetivo é fazer com que cada aluno adquira seu próprio hábito de leitura, o professor pode criar temáticas: alguns grupos lerão contos de fada, outros vão ler histórias de aventura, séries infantis consagradas… Há muitas possibilidades de incentivo.
O importante é respeitar as diferenças entre cada aluno e desassociar a leitura de algo meramente obrigatório para nota.
3) Incentivo à leitura dentro da sala de aula
A próxima dica de incentivo à leitura refere-se à adoção de um tipo de prática pedagógica: dar às aulas um toque de contação de histórias. A construção do raciocínio e do conteúdo pode ocorrer de forma mais lúdica, envolvendo personagens e contos.
Por exemplo: uma aula de História que envolva as crianças na história daquela figura ou daquele acontecimento, interpretando aquele assunto como um conto de aventura.
Especialmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a mente imaginativa e criativa dos alunos fará com que essa abordagem se mostre mais apelativa na construção do aprendizado, e ainda provocará um gosto a mais pela arte de contar histórias, o que se traduz em mais incentivo à leitura.
Além disso, outra prática é a leitura dentro de sala de aula. Os professores podem pedir que os alunos tragam os livros para uma leitura conjunta em sala de aula, principalmente as crianças menores.
Leituras dramáticas em tom de humor, personificação dos personagens e a montagem de mini peças de teatro na sala de aula podem ser também opções mais lúdicas a que o professor pode aderir na leitura conjunta dos livros.
4) Excursão literária
Como o item 1 desta lista indicou, fazer com que os alunos sintam a magia que existe nas bibliotecas é primordial para fixar o gosto pela leitura. Além de criar maneiras de fazê-los se sentirem à vontade na biblioteca da escola e enquanto estão cercados por obras literárias, excursões a bibliotecas da cidade podem ser uma excelente atividade para incentivar a leitura.
O objetivo é estimular o fascínio das turmas nesse tipo de lugar. Ambientar a biblioteca como um espaço de aquisição e construção de conhecimento, como locais que armazenam a história da humanidade e da natureza, e até mesmo contar histórias de bibliotecas famosas pelo mundo (como a de Alexandria) pode ajudar na introdução a esse mundo.
Essas excursões também devem estimular que os alunos explorem e se apropriem dos ambientes.
Se houver livros antigos, folheá-los junto com as turmas para que vejam as diferenças na linguagem ou o modo como o pensamento da época era diferente do de hoje são boas dicas para tornar a visita mais interessante. Além disso, jornais e revistas antigos também podem ser bons chamarizes de atenção para as turmas.
Em caso de alunos mais engajados e que já tenham o hábito de leitura, a escola pode formar turmas para sessões de autógrafos com autores conhecidos ou idas a bienais do livro, que já trazem um sem fim de atividades e painéis relacionados à literatura.
5) Projetos de leitura
A escola deve se tornar um ambiente receptivo às ideias criativas de incentivo à leitura, sempre com o fim de torná-la o mais legal e divertida possível.
Para isso, é preciso fazer com que ela ultrapasse as paredes da sala de aula. Nesse sentido, professores e coordenadores podem adicionar ao calendário de eventos da escola atividades lúdicas inteiramente direcionadas à leitura, como gincanas e concursos.
As gincanas podem promover competições entre diferentes turmas, estimulando a expressão linguística em todos os âmbitos, não apenas na leitura.
A partir da leitura de livros determinados pela organização da gincana (que, claro, devem levar em conta as preferências dos alunos), o evento deve contar com uma série de atividades temáticas relacionadas aos livros, como interpretação de cenas, recriação de textos, coreografias, entre outros.
Indo além, a organização de concursos de histórias e de semanas temáticas de leitura são exemplos de como fazer a leitura extrapolar o cotidiano escolar.
Os alunos podem ser estimulados, por meio de premiação, a participar de concursos de criação de histórias (contos, crônicas, fábulas), ou mesmo a se engajar nas semanas temáticas dedicadas à leitura de diferentes gêneros literários.
6) Clube de leitura na escola
De forma a exigir menos organização e estrutura, os próprios docentes também podem criar clubes de leitura com os alunos. Para isso, é importante estabelecer grupos de acordo com as faixas etárias, para garantir leituras adequadas a todos.
Também é importante que os clubes não sejam tão grandes, o que tornará o processo de compartilhamento das impressões mais simples.
Uma característica interessante do clube do livro é que ele propõe metas, o que é uma forma mais criativa para incentivar a leitura. A cada mês ou a cada número fixo de semanas cada participante deverá ler o livro proposto e elencar tópicos a serem comentados.
Os livros podem ser escolhidos de forma conjunta com os participantes, para que o clube se torne um espaço livre, menos vinculado às atividades de sala de aula.
As reuniões podem ocorrer na própria biblioteca, no pátio da escola, ou até mesmo em um parque, por exemplo. É importante engajar ao máximo os alunos criando roteiros de discussão da obra que tratem de temas mais interessantes a eles. É possível também estabelecer uma votação para a escolha dos tópicos a serem discutidos.
7) Prêmio de incentivo à leitura
Algumas das atividades de incentivo à leitura descritas acima podem resultar em premiações e murais especiais dedicados aos alunos mais empenhados. Também é possível criar essas premiações de forma independente para os que mais se engajarem ou mais cumprirem as metas de leitura, por exemplo.
Esse é um modo de estimular a dedicação dos estudantes, mas também pode ser atraente para aqueles que ainda não se sentiram motivados com os estímulos anteriores.
8) Criação de mural de notícias
O hábito de leitura não se restringe apenas aos livros. É importante criar em todos uma cultura leitora, que faz com que a compreensão do mundo por meio das palavras seja uma constante em suas vidas.
É nesse sentido que cabe também à escola desenvolver o gosto por notícias, reportagens, matérias, promovendo a leitura de jornais e revistas em meios impressos e on-line.
Uma atividade para incentivar a leitura nesses meios é a criação de um mural de notícias. Os professores podem pedir que cada aluno procure notícias sobre determinado tema ou sobre algum acontecimento específico do momento atual sob diferentes perspectivas e abordagens, que serão coladas ou evidenciadas nesse mural.
Além de incentivar a leitura, esse tipo de prática também é importante para iniciar o letramento midiático com as turmas.
A comparação dos diversos pontos de vista de cada veículo de notícias, bem como dos ganchos escolhidos por cada linha editorial, contribuirá muito para a adoção de uma posição mais crítica dos estudantes na hora de consumir produtos midiáticos.
9) Apoio da família
O desenvolvimento da criança deve ser acompanhado de perto por pais e familiares. Ainda que a escola dê as devidas ferramentas para o desenvolvimento de hábitos importantes para o crescimento e a formação integral do estudante, sem a parceria da família é muito mais difícil fazer com que esses hábitos se consolidem.
Nesse sentido, engajar a família toda nas estratégias de como incentivar a leitura é fundamental e a escola deve mostrar a importância desse apoio, tanto convidando os familiares próximos para participar dos eventos propostos, como pedindo que eles próprios encontrem maneiras de continuar o trabalho em casa, aproximando as crianças da leitura dentro do ambiente doméstico e, também, dando o bom exemplo.
Para os pequenos, ler deve ser algo observável em todos os adultos de referência e de confiança, o que faz com que seja importante que os professores e os responsáveis mostrem que também são leitores.
10) Utilize a tecnologia
Para incrementar mais as atividades práticas colocadas, os professores podem também usar dispositivos digitais atrativos para os alunos.
Os leitores de livro digital, como o Kindle e o Kobo, ou mesmo os aplicativos de leitura que podem ser instalados no celular, são opções interessantes por serem leves, pequenos e não representarem peso adicional nas mochilas.
Além disso, a possibilidade de ler em um dispositivo eletrônico, como um tablet ou até um celular, pode atrair os alunos mais resistentes ao hábito, ao aproximar a leitura da tecnologia.
Nesse sentido, qualquer ideia criativa para incentivar a leitura está mais do que válida, podendo ser uma solução para conquistar diferentes públicos.
Entenda a importância do hábito da leitura
Mas, afinal, por que dedicar tantos esforços para incentivar a leitura? O esforço pode mesmo ser recompensador? Já vamos adiantar a resposta: sim e muito! Incentivar a leitura desde a alfabetização e ao longo de toda a vida escolar do estudante é a melhor solução para inúmeras questões pedagógicas e também para a formação socioemocional.
A leitura é fator chave para o desenvolvimento linguístico da criança. O contato próximo com a palavra escrita desde a pequena infância auxilia na boa expressão verbal e na boa redação, além de fixar o português correto.
Crianças que leem com frequência desde pequenas comumente têm muito mais facilidade para escrever e assimilar a palavra escrita nos estudos.
Outro aspecto extremamente importante para o desenvolvimento é o poder da leitura de fomentar o amadurecimento da inteligência emocional.
A criança que é colocada em contato com diferentes histórias e narrativas desde os primeiros anos de vida tem mais capacidade de entender outras emoções e outras vivências, estimulando o surgimento da empatia e da consciência cidadã e responsável.
Ainda no mesmo sentido, se por um lado a empatia e a inteligência emocional têm amplo espaço de desenvolvimento, incentivar a leitura também contribui para estimular a imaginação e a capacidade criativa de cada criança.
Não são apenas as brincadeiras e os jogos que têm esse poder: a leitura adequada a cada idade traz imensas possibilidades de criação de universos, imaginação de possibilidades, dando o pontapé inicial à formação de uma mente inventiva e infinita em cada aluno.
Pensando alto, esse estímulo pode até dar margem ao surgimento de pequenos escritores e futuros grandes escritores – por que não? Em todo caso, incentivar a leitura é garantia de um bom investimento pedagógico.
Conclusão
Dar bons e produtivos estímulos ao desenvolvimento das habilidades leitoras é uma opção que deve estar incorporada aos planos pedagógicos de qualquer escola.
Como vimos ao longo deste artigo, incentivar a leitura é fácil, não demanda grandes esforços nem investimentos significativos em termos financeiros e ainda planta uma série de sementes que começarão a germinar pouco depois, dando flores e frutos por toda a vida daquele estudante.
Encontrar, então, a porta de entrada correta para introduzir a leitura na vida de cada aluno e cada aluna é papel dos professores em conjunto com os familiares.
Basta apenas criar o compromisso e orientar as práticas pedagógicas em torno desse grande eixo curricular. Vamos juntos?
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