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Como trabalhar vida saudável na escola: olhar sobre corpo e mente!

26 de março de 2024
E-docente

A potência do espaço escolar como território de (trans)formação não é novidade para os/as docentes e demais profissionais que compõem a escola. Porém, é sempre importante pensar nas mudanças que vêm sendo demandadas nas práticas curriculares devido aos movimentos da sociedade atual.  A escola estará sempre conectada com o aqui e o agora, pensando o futuro e resgatando aprendizados do passado.

O ritmo acelerado, o hiper produtivismo, o excesso de demandas, a sensação constante de viver em débito com as exigências, as novas tecnologias, o estreitamento da relação homem-máquina, a alteração nas dinâmicas familiares e tantas outras mudanças vêm convidando, todos e todas, a repensar sobre os aspectos relacionados, especialmente, à vida saudável.

O próprio conceito de vida saudável vem sofrendo ajustes diante de tantas novidades. Esse tema é tão importante e atual, que a Organização Mundial da Saúde (ONU), na Agenda 2030, definiu em seu objetivo 03 – Saúde e Bem-Estar, o foco direcionado para “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar a todas e todos, em todas as idades”.

Para isso, precisamos de caminhos

Traremos aqui alguns caminhos possíveis para se trabalhar vida saudável na escola, articulando à própria concepção de qualidade de vida definida pela OMS, que nos aponta que qualidade de vida é “a percepção do indivíduo, de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

O Caderno Pedagógico n°05, publicado pela Editora Ática em 2023, no texto  “Territórios transformadores: a escola como espaço potente para o estudo, debate e promoção de vida saudável”, apresenta diversas reflexões diante dessa temática. razendo possibilidades de um trabalho na escola através de abordagens que contemplam pensar vida saudável de forma contextualizada, dinâmica e alinhada à realidade do alunado e ao contexto em que a escola está inserida.

O autor convida a pensar vida saudável para além da perspectiva biologizante do tema “alimentação saudável”, transbordando as reflexões para aspectos relacionados à cultura alimentar e sugerindo estratégias para o trabalho com o corpo estudantil e familiares. Para saber mais sobre vida saudável através desse olhar, clique aqui.

Neste texto, vamos lançar luz a outros aspectos para se trabalhar vida saudável/qualidade de vida na escola que vão além da tradicional reflexão de alimentação saudável ou prática de exercícios físicos. Vamos nos debruçar sobre o corpo-casa e sobre as possíveis ações para promoção da saúde mental na comunidade escolar.                                  

Reflexões sobre o corpo-casa

É muito comum, na chegada à adolescência, que conflitos com o corpo, oriundos das naturais mudanças orgânicas, comecem a surgir entre os/as jovens.

Além disso, é igualmente natural que as comparações entre corpos, a curiosidade, o desejo e os questionamentos sobre esse espaço-casa, que chamamos de corpo, também surjam.

A escola, mais uma vez, desempenha um papel fundamental nessa jornada de descobertas e é decisivo, nessa etapa, que um cuidadoso trabalho pedagógico seja realizado.

Transtornos precisam ser evitados e é importante proporcionar que todos/as possam ter uma vida saudável através dessa aceitação e compreensão dos corpos, suas diversidades, e consequentemente, como desenvolver estratégias de cuidado.

Muitos espaços escolares ainda resistem à discussão sobre questões relacionadas ao amadurecimento sexual e aos desejos, bem como aos debates voltados às identidades de gênero e às formas de expressão da sexualidade – que, incontornavelmente, constituem os cotidianos escolares.

Vamos questionar

Convido você a questionar quais ações seu espaço escolar tem realizado para abordar esses assuntos com jovens e adolescentes.

Quantos silenciamentos sobre essas pautas ocorreram, trazendo prejuízos significativos para estudantes que precisavam de um olhar mais acolhedor sobre seus corpos ou suas identidades?

Afinal, como poderíamos falar em uma vida saudável na escola sem considerar as condições de vivência das questões de gênero e sexualidade nesse espaço? É possível uma vida saudável em um contexto que se nega a pensar sobre acolhimento, empatia e respeito à diversidade?

Necessita-se pensar com os/as estudantes a construção de identidades, conceitos de beleza e estética, tabus e restrições, rituais e simbolismos, normas sociais e expectativas, modificações corporais, preconceitos entre outros.

É fundamental ampliar nosso conceito de vida saudável para além da perspectiva do corpo como um conjunto de órgãos que necessitam de macro e micronutrientes.

Ir além, pensar nesse corpo como um terreno onde a cultura se manifesta, toma vida e é moldada, refletindo as complexidades e diversidades das sociedades humanas, incorporando suas crenças, valores, rituais e normas. É transcender e ir além.

Eventos, oficinas com convidados/as, cine-debate, fóruns, semanas temáticas, palestras e rodas de conversa são caminhos possíveis para se trabalhar desses assuntos ao longo do ano com o alunado, alinhados ao currículo escolar e aos diferentes componentes que compõem essa rede curricular.

Todo o corpo docente e demais profissionais da educação podem colaborar com a criação de momentos nas aulas, curadoria de materiais pedagógicos para serem usados nos corredores ou mesmo ações a serem vivenciadas em espaços não formais de aprendizagem. Esse olhar precisa ser ampliado e não deve ser negligenciado.

Promoção da saúde mental na comunidade escolar

Nos últimos anos, especialmente após as difíceis experiências impostas pela pandemia da COVID-19, temos observado nos espaços educacionais uma série de problemas relacionados à saúde mental de estudantes, profissionais da educação e familiares.

Flutuações extremas de humor, como episódios frequentes de tristeza, raiva, irritabilidade ou apatia, além do isolamento social e dificuldades de concentração ou tomada de decisões, são alguns dos sinais gerais observados de forma recorrente nas escolas.

Além disso, tem sido comum os relatos de estudantes enfrentando dificuldades para completar tarefas devido à ansiedade ou à autocobrança excessiva.

Muitos estudantes também mencionam insônia ou excesso de sono, perda ou ganho de peso não intencional. Bem como a expressão de pensamentos de morte ou suicídio, comportamentos autodestrutivos (como autolesão) e dificuldades nas relações interpessoais, resultando em conflitos frequentes ou na incapacidade de manter relacionamentos saudáveis.

A saúde mental é fundamental para uma vida saudável na escola, pois afeta diretamente o bem-estar emocional, social e escolar dos estudantes, professores e demais profissionais da educação.

Uma boa saúde mental proporciona maior capacidade de concentração, aprendizado e resolução de problemas, contribuindo para o sucesso escolar.

Além disso, investir na promoção da saúde mental na escola não apenas melhora o ambiente de aprendizado, mas também prepara os indivíduos para enfrentar os desafios da vida com maior resiliência e equilíbrio emocional.

Ações para uma vida saudável

Algumas ações possíveis para o estímulo à vida saudável na escola a partir da promoção de saúde mental são:

box para vida saudável na escola

Conclusão

Os desdobramentos de reflexões e práticas que estimulam uma vida saudável são diversos. Pensar para além do óbvio é fundamental e traz muita potência ao trabalho que pode se realizar na escola.

O planejamento escolar de forma integrada, entre docentes e demais profissionais da educação, é fundamental para estabelecer quais abordagens sobre vida saudável são mais urgentes no espaço escolar e trabalhá-las de forma cuidadosa, articulada e transformadora.

O envolvimento de toda a comunidade escolar se faz imperativo, incluindo familiares, estagiários/as, equipe de terceirizados/as, dentre outros/as.

A escola é um espaço de muitos encontros e trocas. Pensar em vida saudável precisa ocorrer através de múltiplas vivências, respeitando sempre as diversidades e realidades de todos/as que compõem o espaço.

Referências

FARAJ, S. P. et al. Saúde mental na escola: reflexões sobre a saúde mental da comunidade escolar. Ebook. Santa Maria, RS: UFSM, NEDEFE, 2022. Acessado em 17/03/2024.https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/518/2020/05/Cartilha-Saude-Mental-na-Escola.pdf

FELIPE, J. Gênero, sexualidade e a produção de pesquisas no campo da educação: possibilidades, limites e a formulação de políticas públicas. Pró-posições, v.18, n.2, maio/ago 2007.

LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós estruturalista. Petrópolis: Vozes, 2004.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável – Objetivo 03 – Saúde e Bem-estar. Acessado em 17/03/2024. https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/3

PORTUGAL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. DIREÇÃO-GERAL DA SAÚDE.  Manual para a Promoção de Aprendizagens Socioemocionais em Meio Escolar. Lisboa, 2016. Acessado em 17/03/2024. https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/31861/1/SaudeMental_em_Saúde%20Escolar_2019.pdf

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