Vamos planejar 2025?
Cara amiga professora, caro amigo professor, em texto publicado anteriormente (“Adeus Ano Velho: finalizando 2024 com uma autoavaliação”), falamos sobre a importância de concluir o ano letivo refletindo sobre as práticas desenvolvidas ao longo dos meses de 2024, considerando o que foi desafiador e o que foi produtivo, pensando no que pode ser remodelado e na conduta que pode ser mantida.
Agora, neste texto, objetivamos refletir sobre o próximo ano letivo, buscando estratégias para uma organização interessante e eficaz do nosso projeto pedagógico.
Está, pois, lançado o convite: vamos planejar 2025?
Planejar 2025: “Façamos da Interrupção um Caminho Novo”
No fim do ano, temos a sensação de que está se instaurando o desfecho de uma programação e que, logo mais, poderemos traçar com mais liberdade e leveza novos planos. Na nossa sociedade, portanto, vemos o início de um novo ano como uma oportunidade: seja para tirar a dieta do papel, levar mais a sério os exercícios físicos, programar-se para realizar um sonho ou atingir metas que levem ao engrandecimento pessoal e profissional.
Fernando Sabino escreve em alguns versos: “Façamos da interrupção um caminho novo. / Da queda um passo de dança, / do medo uma escada, / do sonho uma ponte, /da procura um encontro!”. Nesse sentido, levando para a esfera docente, aproveitamos o encerramento de um ano letivo para planejar caminhos que nos deixem mais tranquilos e seguros, como também possam atender de modo satisfatório aos objetivos de aprendizagem dos nossos estudantes.
Mas como podemos fazer esse planejamento?
Elencamos abaixo alguns passos que podem nos orientar nesse sentido.
- Retome sua Autoavaliação do Ano Anterior
No texto “Adeus Ano Velho: finalizando 2024 com uma autoavaliação”, discutimos sobre a necessidade de, ao final do ano, revisitar planos de aula, projetos, atividades extracurriculares, anotações sobre as aulas e sobre os estudantes, feedbacks da coordenação, dos estudantes e dos colegas de trabalho, além de materiais utilizados em sala. Enfim, falamos sobre a importância de trazer de volta à memória as vivências do trabalho pedagógico realizado durante o ano para, assim, promover essa autocrítica, através da qual será possível ter mais consciência das práticas desenvolvidas, louvar as conquistas e reconfigurar rotas que necessitem de ajustes.
Sob essa ótica, a autoavaliação sobre o desempenho acerca do ano letivo anterior deve ser o primeiro passo para iniciar o planejamento do ano seguinte.
- Leia o currículo previsto para o(s) ano(s) e a BNCC
Para cada ano, são previstos currículos mínimos, com objetos de ensino que devem ser contemplados durante o ano letivo. Para além dos conteúdos, os currículos descrevem competências e habilidades relativas a cada fase de ensino, área e componente curricular, as quais devem ser desenvolvidas com os(as) estudantes ao longo do ano. Todos os Estados têm seus currículos de referência, que estão de acordo com o que apregoa a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Esse material irá oferecer um bom suporte teórico para o seu planejamento, além de orientar acerca dos conhecimentos que devem se destacar nos processos de ensino e aprendizagem.
- Atualize-se
O tempo do professor é exíguo, há notas para fechar, para lançar em sistemas, provas finais para corrigir, conselho de classe para participar, entre outras atividades típicas de fechamento de ano letivo. No entanto, se houver uma possibilidade, indicamos a formação continuada como um passo importante para organizar o próximo ano. Saber o que há de novo na sua área e conhecer novas metodologias de ensino, sobretudo as ligadas às novas tecnologias, são estratégias muito interessantes para formular planejamentos em consonância com as necessidades do mundo atual.
- Faça uma pesquisa prévia
Se possível, busque informações sobre a turma, suas características, seus interesses, suas dificuldades e seu estilo de aprendizagem. Se os estudantes já fazem parte do corpo discente da escola, tente obter essas informações com a coordenação pedagógica ou com os professores que já lecionaram para eles.
- Registre
Para se planejar, é essencial registrar as informações:
- datas importantes ao longo do ano
- dia para realizar avaliação diagnóstica
- objetivos de aprendizagem
- objetos de conhecimento
- metodologias das aulas
- recursos a serem utilizados em aula
- carga horária a ser ministrada por semana
- projetos a serem aplicados (do componente curricular ou interdisciplinar)
- temas a serem abordados
- métodos avaliativos
Melhor seria já ter em mãos o calendário escolar de 2025 elaborado pela instituição. Mas, se ele ainda não tiver sido divulgado, não protele essa organização. Mesmo assim, já é possível começar a elaborar o planejamento, adiantando as anotações e garantindo uma maior tranquilidade para o início do ano letivo.
- Elabore Planos de Ensino
Cada professor(a) irá elaborar o Plano de Ensino que melhor se ajuste às suas necessidades ou irá seguir o modelo de Plano de Ensino estabelecido pela escola onde leciona. Nós sugerimos a elaboração de uma tabela com as seguintes colunas:
Período | Competências (BNCC) | Habilidades (BNCC) | Objetos de Conhecimento | Metodologia | Recursos didáticos | Avaliação | Observações complementares |
Em vez do Período, pode-se colocar Carga Horária; as colunas de Competências e Habilidades podem ser omitidas, estando essa informação disponibilizada em texto corrido antes da tabela, ou em seu lugar ter única coluna sobre Objetivos de Aprendizagem; a Avaliação pode estar dividida em Instrumentos e Critérios; entre outras mudanças que podem ser realizadas. Como já dito, essa organização pode ser bem diversa, contanto que colabore para o planejamento docente e para uma maior eficácia dos processos de ensino e aprendizagem.
Para que fique mais claro o uso da tabela acima, apresentamos a seguir um modelo:
Plano de Ensino 2025
Componente Curricular: Produção de Texto
Área de Conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Série: 2ª série do Ensino Médio
Professor(a): xxxxx
1º Semestre
Período | Competências (BNCC) | Habilidades (BNCC) | Objetos de Conhecimento | Metodologia | Recursos didáticos | Avaliação | Observações complementares |
Fevereiro | Comp. 1: Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo. | (EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos processos de remidiação de produções multissemióticas, multimídia e transmídia, como forma de fomentar diferentes modos de participação e intervenção social. | Gêneros textuais, tipos textuais Argumentação Repertório sociocultural Resenha Crítica Redação dissertativo-argumentativa | Leitura e análise de resenha crítica sobre filme que trata de tema relativo à Juventude. Discussão sobre os conceitos de gêneros textuais, tipos textuais e argumentação. Discussão sobre a utilização de repertório sociocultural da esfera artística: filme, livro, obra de arte, álbum musical. Produção de redação dissertativo-argumentativa sobre tema da juventude e que utilize repertório sociocultural com referência a uma obra artística. | Fichas com resenhas críticas Apresentação de slide Quadro, pincel atômico, apagador | Avaliação Diagnóstica – redação dissertativo- argumentativa = elaboração de parecer | O processo de produção de texto pressupõe etapas que correspondem a: planejamento, primeira elaboração, correção por parte da professora, revisão e reescrita. |
Essa estrutura de plano de aula tem nos sido bastante útil na prática pedagógica, pois todo o processo de ensino-aprendizagem é colocado em perspectiva, ficando fácil a visualização e nos dando clareza e certo conforto na organização. As instituições de ensino costumam também ficar bastante satisfeitas com um planejamento tão bem delineado. Portanto, indicamos fortemente essa elaboração.
Para Além do Conteúdo
Complementamos nossas orientações sugerindo que os(as) professores considerem nos seus planejamentos também momentos que vão além do conteúdo programático do seu referido componente curricular, ou seja, atividades em que possam mediar a partilha dos estudantes sobre suas experiências de vida, realizar dinâmicas colaborativas em grupo e promover integração com a comunidade escolar. Temas de grande relevância no contexto social atual também podem entrar na programação, a fim de que sejam discutidos em um ambiente em que os alunos se sintam seguros e confiantes. Ademais, atividades escolares que visem ao cuidado com os aspectos socioemocionais são, a todo momento, de grande valia para todos aqueles que estão envolvidos nos processos educacionais.
Conclusão
A cada início de ano letivo temos a oportunidade de construir um novo trabalho com nossos estudantes, que seja ainda melhor que o do ano anterior. Mesmo para o(a) docente mais experiente, um ano que começa é sempre um desafio e envolve várias expectativas. Assim, a fim de que possamos nos sentir mais seguros nessa missão de guiar os processos de ensino-aprendizagem, é necessário que, desde já, pensemos no planejamento do ano que se inicia. Fazer levantamentos a respeito do ano anterior, considerar as características da futura turma e elaborar planos de ensino são passos essenciais para garantir uma maior confiança para ministrar as aulas e oferecer um ensino eficaz e condizente com os anseios dos tempos atuais. Por fim, é preciso ter em mente que as rotas podem e devem ser recalculadas, que mudanças e adaptações, às vezes, são primordiais para um ensino mais exitoso. Tudo isso, certamente, estará de acordo com os objetivos de aprendizagem e as necessidades daqueles que compõem a dinâmica pedagógica.
Minibio do autor
Shenia Bezerra é mestre em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com pesquisas acadêmicas na área da Linguística Aplicada, tendo como maior interesse a produção do texto escrito na Educação Básica. Há 13 anos é professora do Ensino Médio na rede privada de ensino da cidade do Recife, onde ministra aulas do componente curricular de Língua Portuguesa, sobretudo do eixo de Produção de Texto.