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Setembro Amarelo de Atenção, Cuidado, Alerta!

20 de setembro de 2022
E-docente

Por que o “Setembro Amarelo”? Cores podem ter variados significados, de acordo com características ou propriedades atribuídas a elas.

Das tradições e misticismos de fim de ano à ciência da colorimetria, ao tratamento de cromoterapia ou mesmo ao estudo da moda. 

Desde alguns anos, entretanto, elas também vêm sendo utilizadas como simbologia para campanhas de saúde. Se o câncer de mama é relembrado com o rosa no mês de outubro e o de próstata, com o azul em novembro, setembro é representado por uma cor relacionada ao alerta: amarelo.

Quer saber mais sobre o Setembro Amarelo?
Então, confira o conteúdo que preparamos para você!

Saiba mais sobre o Setembro Amarelo!

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) realiza o Setembro Amarelo em território nacional, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), tendo como ponto alto o dia 10, considerado, mundialmente, o da Prevenção ao Suicídio.

Uma campanha que, quase uma década após sua fundação, continua sendo, infelizmente, cada vez mais necessária.

Taxas de suicídio no Brasil e no mundo

Segundo matéria recente do portal G1, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem devido ao suicídio, anualmente, no mundo. 

Entre os jovens de 15 a 29 anos, trata-se da quarta maior causa de óbitos. O Brasil, por sua vez, registra, em média, quase 14 mil suicídios por ano, o que significa que cerca de 38 pessoas tiram a própria vida, por dia, em território nacional.

Dados do Ministério da Saúde reiteram estas informações e ainda manifestam uma preocupante realidade. Entre os anos de 2010 e 2019, 112.230 pessoas morreram por suicídio, um aumento de 43% no número anual de mortes, passando de 9.454 (2010) para 13.523 (2019).

Panorama do suicídio no Brasil

Quem são estas pessoas que atentam contra a própria vida? Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, os homens apresentaram 3,8 vezes mais risco de morte por suicídio do que as mulheres. Enquanto a taxa de mortalidade deles, em 2019, foi de 10,7 por 100 mil habitantes, entre as representantes do sexo feminino, este índice ficou em 2,9 por 100 mil.

Um dos destaques do estudo localiza-se no Distrito Federal, onde dados mais recentes da Secretaria de Saúde mostram que, entre 2017 e 2020, foram notificados 10.397 casos de “violência autoprovocada” – denominação para suicídios e tentativas.

Na capital federal, os adolescentes (10 a 19 anos) respondem por uma grande parcela deste público (3.119 notificações), superada apenas pelos adultos na faixa etária entre 20 a 59 anos: 6.944 notificações. 

Juventude + sucesso = felicidade?

A juventude é o período das promessas, dos desabrocharem. É quando, muitas vezes, desponta uma vida de sucesso, glórias, vitórias, fama e notoriedade. Sinônimos indiscutíveis de felicidade, correto?

A indústria do entretenimento oferece provas, a cada dia, que não. No início do ano, o cantor canadense Justin Bieber ganhou as manchetes dos jornais e entrou nos trend topics ao anunciar a paralisação de sua turnê mundial devido à Síndrome de Ramsay-Hunt, que o deixou com o rosto parcialmente paralisado.

Após o retorno dos compromissos em julho, outro motivo o faria reduzir ou cancelar as apresentações: a necessidade de cuidados com a saúde mental. Algo perceptível? Talvez não para os milhares de fãs que acompanharam seu vigoroso show no Rock in Rio, no dia 4 de setembro.

Para os que o esperavam em outro estado apenas alguns dias depois, entretanto, a confirmação: shows cancelados por exaustão e necessidade de priorizar a saúde mental. Nestes casos, parafraseando o próprio cantor em uma de suas canções, a única alternativa parecia ser mesmo dizer “sorry”.

Além do próprio Bieber, que já havia revelado histórico de depressão e pensamentos suicidas na adolescência, outros jovens notórios de diversas áreas de atuação também já manifestaram publicamente a necessidade de cuidados com a saúde mental, a exemplo da ginasta norte-americana Simone Biles que, após o primeiro exercício da final por equipes nos Jogos Olímpicos de Tóquio (2020), decidiu desistir da competição, mesmo sendo a favorita a ser campeã.

Isso sem considerarmos o estigma dos cantores de rock que atentaram contra a própria vida ou faleceram em consequência do uso de drogas diversas, na lendária idade dos 27 anos, a exemplo de Amy Winehouse, Kurt Cobain, Jim Morrison, Jimi Hendrix e Janis Joplin. São os integrantes do mórbido “Clube dos 27”.

Por que tanto desencanto?

O suicídio não se configura como um fenômeno recente, estratificado ou segmentado. É complexo, múltiplo e de grande alcance, podendo afetar indivíduos de diferentes origens, gêneros, culturas, localidades e classes sociais.

A Organização Mundial de Saúde quantifica, por exemplo, que, anualmente, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios.

A psicóloga clínica, especialista em família e casais, Paula de Tássia, explica que as causas podem ser multifatoriais. “Podem ser sociais, psicológicas, orgânicas, genéticas. Os motivos mais predominantes são transtornos psiquiátricos, sendo mais comuns depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e o abuso de drogas”, afirma.

E por que tão cedo?

Atualmente, o suicídio é a quarta principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, atrás apenas de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Na faixa etária de 10 a 24 anos, a primeira.

A exposição de dados alarmantes prossegue: no mundo, por ano, um milhão de pessoas morrem por suicídio. Ou seja, uma pessoa a cada 40 segundos.

Por que, então, os jovens são mais suscetíveis a este comportamento suicida? Ainda de acordo com Paula de Tássia, estudos mostram que estes elevados números na adolescência são explicados, em parte, pela necessidade que muitos apresentam de enfrentar as exigências sociais e psicológicas impostas por este período, quando enfrentam grandes mudanças emocionais, físicas, além de sentimentos dicotômicos do tudo ou nada e impulsividade.

“Dentre os fatores de risco que desencadeiam comportamentos suicidas, estão a presença de eventos estressantes ao longo da vida, exposição a diferentes tipos de violência, uso de drogas lícitas ou ilícitas, problemas familiares, histórico de suicídio na família, questões geográficas, sociais relacionadas à pobreza e influência da mídia”, enumera.

Fenômeno de cunho coletivo?

A adolescência e a juventude são, em suas essências, períodos de maior intensidade nas relações sociais mais externas ao núcleo familiar. O momento da admiração, do platônico e das idolatrias em relação ao que o novo inspira. 

É, consequentemente, um período da vida em que as influências externas costumam ganhar um excedente de peso nas vidas das pessoas. Por ser inerente ao desenvolvimento psíquico-emocional humano, há algum tempo, trata-se de um fenômeno já conhecido.

Exemplo prático


Vamos a um exemplo: um homem comete suicídio ao se apaixonar por uma mulher que irá casar com outra pessoa. Este seria apenas o enredo de Os Sofrimentos do Jovem Werther, livro escrito por Johann Wolfgang Goethe, de 1774. 

Uma trágica história de amor da literatura, não fosse a consequência imputada a ela posteriormente à sua publicação: o suicídio de muitas pessoas na Europa que se mataram, usando uma pistola e roupas semelhantes às do protagonista.

O caso deu nome, inclusive, ao fenômeno conhecido como Efeito Werther (termo proposto pelo pesquisador americano David Phillips, em 1974), que ocorre quando há um aumento do número de suicídios após a ampla divulgação de determinado caso. É exatamente por este motivo que veículos sérios da imprensa optam por não divulgar, comumente, casos de suicídio.

Importante entender, entretanto, que o chamado “suicídio por imitação” não acontece sem algum problema preexistente. É preciso que o suicida esteja em situação de vulnerabilidade. 

Além disso, há ainda maior probabilidade de ocorrer quando há identificação com quem cometeu o ato, seja uma personagem real ou não.

“É importante frisar que o suicido é um problema de saúde pública, para o qual precisam ser criadas políticas públicas para sua prevenção. Falar sobre isso é importante, mas exige cuidados e especificidades para tratar a respeito. Isto porque é possível desencadear, caso feito de forma arbitrária, comportamentos suicidas e influenciar adolescentes jovens já fragilizados, comprometidos emocionalmente”, ressalta Paula.

Antes do suicídio, a depressão

Não à toa, o parágrafo do livro de Goethe reproduzido ressalta o fato de que o suicídio por imitação, e não apenas ele, dificilmente acontece de forma “gratuita”. 

De acordo com especialistas, o principal direcionador para esta atitude extrema (96,8% dos casos) vem de doenças mentais. Hoje, é notadamente aquela que já foi chamada de “doença do século”: a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias. 

De acordo com matéria publicada pela Folha de São Paulo, em julho deste ano, o Brasil, por exemplo, está vivendo um grande caos na saúde mental, com uma multidão de deprimidos e ansiosos. 

Se, em 2017, éramos o país com o terceiro maior contingente de depressivos do mundo (5,8% ou 11 milhões), os efeitos e consequências do isolamento causado pela pandemia da COVID-19 deixou estes números bem distantes da realidade atual.

Depressão e Pandemia

Pesquisas recentes da Vital Strategies e da Universidade Federal de Pelotas demonstraram um sensível aumento quanto ao número de portadores de depressão nos últimos dois anos, pós-pandêmicos, chegando a 13,5%. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, um quarto da população tem, teve ou terá a doença no decorrer da vida.

O fechamento das escolas, o distanciamento físico dos colegas e a necessidade de uma adaptação a um novo método de aprendizado trouxeram consequências. “Trata-se de um espaço extremamente enriquecedor. Quem é filho único, por exemplo, aprende a compartilhar, dividir, escutar o outro, ter seu momento de fala”, exemplifica a psicóloga clínica e escolar, Aracelly Julieta.

Some-se a estes fatores, os impactos econômicos na vida familiar. “Muitos pais perderam o emprego ou tiveram seus salários reduzidos. Então, a mudança não foi só estrutural e física. Não é só não estar na escola. Lembrando que estar em casa demanda prescindir de mais gastos, atenção, brincadeiras, carinho. Então, esta continência afetiva também foi bastante impactada”, analisa. 

Tragédias anunciadas

É sabido que praticamente 100% dos casos de suicídio estão relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Não é inverídico afirmar que boa parte dos casos poderia ter ido evitado. Atualmente, entretanto, apenas 38 países são conhecidos por terem uma estratégia nacional de prevenção do suicídio.

Enfermidades que, embora apresentem sintomas claros e afetem milhares de pessoas, nem sempre são tão perceptíveis e caminham até o devido diagnóstico, não sendo devidamente identificadas pela própria pessoa, familiares ou amigos.

Em 2022, o lema do Setembro Amarelo é “A vida é a melhor escolha!”. Escolher, então, estar atento aos próprios sintomas, conversar com amigos e colegas a respeito do que se sente, em vez de optar pelo isolamento e por “tentar resolver o problema sozinho”, pode significar uma vida salva. 

Inspiração do Setembro Amarelo

A inspiração da campanha vem da história de Mike Emme, que cometeu suicídio aos 17 anos, em setembro de 1994, nos Estados Unidos.

Como ele possuía um carro amarelo, no dia do seu velório, os presentes distribuíram cartões com fitas amarelas e frases motivacionais. O objetivo era auxiliar quem pudesse estar passando por transtornos mentais e/ou emocionais. As fitas amarelas tornaram-se, então, o símbolo da campanha.

Gostou de saber mais sobre o Setembro Amarelo? Então, confira o nosso artigo sobre inclusão escolar e saúde mental no processo de aprendizagem!

Patrícia Monteiro de Santana é jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco em 2000. Com atuações em veículos como TV Globo, Revista Veja e Diário de Pernambuco, além de atuante em assessoria de comunicação empresarial, cultural e política.

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