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Qualidade de vida no trabalho do professor: Dicas úteis

12 de março de 2024
E-docente

O que seria qualidade de vida para você?

  • Praia, sombra, água fresca.
  • Academia, futebol, corrida.
  • Biblioteca, museu, cinema.
  • Casa, família, cochilos.

Você, que está lendo este texto neste momento, consegue se identificar com algum desses estilos? Não precisa ser apenas com um deles, pode ser com vários ao mesmo tempo ou com um outro qualquer.

Mas, sem querer invadir a sua privacidade, professor, gostaria de saber se você tem conseguido estar nesses ambientes, buscando qualidade de vida, fazendo o que gosta, ou tem estado apenas no trabalho, quase que funcionando “no automático”?

Bom, se você está aqui e o título lhe interessou, sinto que é um bom momento para discutirmos, mesmo que rapidamente, como estamos levando a nossa vida.

Sabemos que, muitas vezes, acabamos correndo de um lado para o outro, em meio a afazeres domésticos, deslocamentos longos entre casa e trabalho, planejamento, aulas, relatórios, e, quando percebemos, o dia terminou, o semestre passou, o dinheiro não foi suficiente, nossos filhos cresceram e a vida passou.

Ambientes de trabalho estressantes, trajetos que demorariam 30 minutos, mas que nos demandam duas horas, horas de sono perdidas, contas a pagar são alguns dos itens que nos afastam do sonho que tínhamos quando ainda nos perguntavam “o que você quer ser quando crescer?”.

Ainda tem as novas tecnologias. Elas, que chegaram com a promessa de facilitar nosso dia a dia, parecem nos obrigar a fazer cada vez mais coisas.

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Trabalhos que nos perseguem e não se findam quando chegamos a nossa casa, séries que deveriam ser entretimento, mas nunca terminam, cursos e mais cursos a serem feitos de forma obrigatória, demandas que, no mundo analógico, não existiam e agora parecem indispensáveis. Afinal, o que está acontecendo?

Calma, antes de tudo…

Mas, calma, não teremos aqui um texto pessimista. Muito pelo contrário. Precisamos refletir sobre o nosso dia a dia e sobre as nossas prioridades em um mundo cada vez mais acelerado, tal qual os áudios que reproduzimos de nossos contatos, dos quais nem reconhecemos mais as vozes em velocidade normal.

Teremos, aqui, algumas dicas para tentar olhar ao nosso redor e ter uma qualidade de vida nos ambientes que nos cercam, seja o doméstico ou o profissional. Será que é possível? Vamos descobrir.

Falando em experiência própria…

Em diversas discussões sobre a nossa profissão de docente, gosto de narrar como foi a minha primeira semana em sala de aula como professor.

Após três tempos seguidos na disciplina de língua portuguesa, em uma turma de Ensino Médio em uma escola pública, chego empolgado à sala dos professores, contando sobre a dinâmica que havia implementado.

Vejo diversos rostos cansados e, entre um deles, o de uma professora, com muito tempo de casa, que fala para mim: “Você está empolgado assim porque está começando agora. Quero ver quando tiver meu tempo de trabalho”. Aquela fala não saiu da minha cabeça até hoje…

Essa recordação vale para pensarmos sobre a qualidade de vida daquela professora naquele momento. Alguém que tem uma visão como essa, provavelmente, deveria estar passando por dificuldades que a impediam de traçar estratégias para melhorar o seu ambiente de trabalho.

E isso não é culpa dela. São muitos os fatores que influenciam no nosso dia a dia e que nos fazem ter mais ou menos ânimo desde que levantamos de manhã até o momento de nos deitarmos.

…os professores formam uma categoria profissional especialmente exposta a rotina de trabalho de grande desgaste psicológico devido a fatores como carga horária excessiva, baixos salários, condições degradantes de trabalho e má organização do sistema educacional e das escolas. (PEREIRA et al., 2014, p. 223).

Bom, para facilitar nossa reflexão, proponho trazer aqui uma organização em que vejamos primeiramente os pontos sensíveis, aqueles que são decisivos para nós, professores, buscarmos uma melhor qualidade de vida.

Em seguida, veremos possíveis caminhos a seguir para resolvermos ou, pelo menos, tentarmos driblar tais dificuldades. Combinado? Prometo que não vou agir como alguns desses coaches que vemos por aí, já que tenho bastante experiência na docência e sei que nem sempre é fácil seguir uma ou outra dica genérica que chegam a nós.

Nosso ambiente de trabalho

Como estamos tratando do nosso trabalho como docentes, precisamos falar das condições que encontramos em nosso ambiente de atuação, sabendo que nem sempre elas serão adequadas.

Infelizmente, é comum encontrarmos problemas como falta de equipamentos, salas de aula deterioradas, número insuficiente de professores, alunos desinteressados, entre outros. É inegável que tais fatores influenciam tanto na aprendizagem dos alunos quanto no nosso desenvolvimento laboral.

A falta de reconhecimento profissional

Ainda no campo do ambiente profissional, é notória a frustração de nós, professores, quando não temos nosso trabalho reconhecido, seja pela equipe gestora, pelos pares docentes, pelos alunos, pela comunidade.

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Juntando-se a isso, também temos pouca valorização no que diz respeito à nossa remuneração, baixa na maior parte dos casos, principalmente para professores da Educação Infantil, estendendo-se ao Ensino Superior, tanto na esfera pública quanto na privada.

Distância entre domicílio e o local de trabalho

Outro fator que, segundo pesquisas como a de Pereira (2014), influencia diretamente na nossa qualidade de vida é o tempo que levamos para nos deslocar até o trabalho. Muitos de nós gastamos horas por dia nesse deslocamento e, mesmo que tenhamos veículo próprio, acabamos com um desgaste físico e mental grande.

Além disso, alguns precisam transitar entre diversas escolas durante o dia, já que nem sempre a carga horária está alocada em uma só instituição.

Dupla (ou tripla) jornada

Aqui, tratamos de um problema que afeta mais intensamente as professoras. Após todo o desgaste do dia, a imensa maioria de vocês, mulheres, ainda têm de enfrentar os afazeres domésticos, já que, infelizmente, sabemos que ainda nos dias de hoje são vocês que acabam por assumir tais responsabilidades, seja com a casa, com os filhos, com a família em geral.

As novas tecnologias e a demanda contínua de trabalho

Não bastasse o trabalho ao longo do dia, sabemos que ainda há casos em que a conexão contínua acaba por exigir atenção e respostas ininterruptas dos profissionais da educação. Grupos em redes sociais com alunos, gestão, demais docentes, acabam fazendo com que o ambiente de trabalho se estenda para nossos lares, invadindo momentos em que deveríamos estar fazendo outras coisas.

Além disso, vale ressaltar que o período de trabalho durante a pandemia acabou criando novos hábitos que reforçam esse trabalho para além das paredes físicas das instituições.

A falta de tempo

Este é um fator que acaba sendo o resultado da soma de vários outros já mencionados. Além disso, ele acaba se desdobrando em outros problemas.

Por conta da demanda contínua de trabalho, pelo longo tempo de deslocamento, pela dupla ou tripla jornada de trabalho, acabamos não tendo tempo para realizar atividades que nos trariam conforto, prazer ou, até mesmo, um descanso.

Também acabamos não conseguindo investir em uma formação pessoal que nos permita buscar valorização profissional e resolução de alguns desses problemas listados.

A saúde física e mental

Assim como em todo efeito cascata, os problemas não param de se desdobrar. Por conta de toda essa pressão e consequente frustração, vemos cada vez mais professoras (principalmente, por conta do maior número de demandas) e professores com saúde física e mental debilitadas.

Vemos afastamentos constantes desses profissionais por motivo de esgotamento mental e de outras doenças que poderiam ter sido evitadas caso fossem tomadas medidas preventivas. Mas, como? Em que momento? O dia tem apenas 24 horas! A pergunta que devemos nos fazer é: se o dia tivesse 30 horas, o que será que estaríamos fazendo com as 6 horas a mais?

Possíveis dicas e caminhos

Ou seja, diante desses problemas, muitos dos quais difíceis de serem solucionados em curto prazo, precisamos buscar estratégias que nos auxiliem. Sabemos que não é fácil, pois, na maioria das vezes, pouco tempo nos sobra, mas é essencial que, cientes das dificuldades que enfrentamos na nossa rotina, busquemos pelo menos alguns desses caminhos:

dicas para melhor qualidade de vida no trabalho do docente

Conclusão

Tenho 19 anos de magistério e dou aula há 10 anos em um curso de graduação em Pedagogia. Consegui me aperfeiçoar, fazer Mestrado e Doutorado, trabalhando e morando distante, tanto das escolas quanto das universidades.

Nasci de família humilde, passei e ainda passo por muitas das dificuldades listadas acima. Ainda não consegui, por exemplo, limitar o uso das novas tecnologias…

Obviamente, não tenho a pretensão de trazer uma receita infalível, tampouco sou adepto do “se eu consegui, você também consegue”, pois entendo que há diversas realidades que acabam não permitindo que sigamos várias dessas dicas.

Porém, entendo que é reconfortante perceber que pessoas passam por problemas parecidos com os nossos e conseguem resolvê-los ou, ao menos, amenizá-los. A intenção deste texto é esta: trazer uma reflexão sobre a necessidade de criarmos condições para uma melhor qualidade de vida, mesmo sabendo que muitas das ações passam por outras instâncias, acima de nossas atuações.

Que voltemos a nos identificar em alguns daqueles estilos do início do texto, em vez de “Trabalho, trabalho e trabalho”. Apenas nós mesmos sabemos de nossas necessidades e de nossas possibilidades; então, é preciso que façamos algo para nos salvarmos. Às vezes, de nós mesmos. 

Ah, a previsão da professora lá do meu início de carreira não se confirmou. Mantenho o mesmo vigor e a mesma empolgação que tinha em minha primeira semana de aula.

Referências

PEREIRA, Érico Felden; TEIXEIRA, Clarissa Stefani; ANDRADE, Rubian D.; SILVA-LOPES, Adair da. O trabalho docente e a qualidade de vida dos professores na educação básica. Revista de Salud Publica, Bogotá, Colômbia, v. 16, p. 221-32, abr. 2014. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/rsap/2014.v16n2/221-231/pt. Acesso em: 10 mar. 2024.

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