PNLD literário 2023: diferença de poema e poesia
Qual a diferença de poema e poesia? Essa pergunta pode parecer simples, mas a resposta revela nuances importantes sobre a criação e a apreciação da literatura. Embarque nessa jornada e amplie seus conhecimentos sobre a linguagem poética.
Quando falamos de literatura, os termos poema e poesia são frequentemente usados, para fazer referência ao mesmo tipo de produção. No entanto, é importante destacar, desde início, que esses conceitos são distintos.
Afinal, qual a diferença de poema e poesia?
Um poema nada mais é do que uma produção literária organizada em versos e estrofes, que frequentemente utiliza recursos linguísticos, como as figuras de linguagem, para conferir maior expressividade ao texto. Ainda que os versos e as estrofes façam parte de um princípio básico na estrutura de um poema, a depender das intenções dos(as) autores(as) podemos encontrar as mais distintas formas poéticas, indo desde propostas mais metódicas e preocupadas com o exato tamanho de cada verso, o posicionamento das sílabas tônicas, as rimas dispostas e a quantidade precisa de versos por estrofe, como é, por exemplo, o caso dos sonetos, até propostas mais desprendidas, como ocorre com poemas em versos livres, que não seguem quaisquer padrões de métrica.
Embora a organização de um poema possa variar bastante, podemos afirmar que o uso da linguagem figurada, também chamada de conotativa, não é obrigatório. Existem diversos exemplos de poemas que desenvolvem seus temas por meio de um texto mais objetivo, buscando no sentido literal das palavras o vigor da mensagem que desejam transmitir. Em resumo, quando nos referimos a poemas, estamos, primeiramente, falando à estrutura utilizada pelo(a) autor(a) para organizar seu texto, e apenas isso.
Enquanto o termo “poema” pode ser rapidamente definido com base na forma que um texto assume, o conceito de “poesia” é bem mais complexo. O termo “poesia”, originado da palavra grega “poíesis”, que pode ser traduzida como “o ato de criar”, está muito mais relacionado com a capacidade de afetar a subjetividade do outro. Em outras palavras, refere-se à criação de emoções e deslocamentos, seja por meio de alguma produção artística ou não. Podemos encontrar “poesia” tanto ao admirarmos o pôr-do-sol, quanto em contemplarmos uma bela pintura, uma música emocionante ou um singelo poema. Assim, podemos afirmar que todo poema busca ter poesia, mas nem toda poesia precisa vir de um poema. Simplificando ainda mais, pode-se dizer que o poema é percebido, lido ou ouvido, enquanto a poesia precisa ser sentida.
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Com as definições estabelecidas, podemos agora considerar como esses conceitos podem aparecer em sala de aula, contribuindo para práticas pedagógicas voltadas ao desenvolvimento da sensibilidade dos alunos, de seus repertórios culturais, bem como de suas habilidades de leitura, escrita e oralidade.
Exemplos de obras do Ensino Fundamental
Se pensarmos principalmente no Ensino Fundamental, podemos considerar de diversas obras poéticas que foram produzidas levando em consideração exatamente o jovem leitor. A literatura infantil, longe de ser um rótulo que define uma produção mais simples ou superficial, refere-se a textos que respeitam o leitor em desenvolvimento e o estimulam a alcançar novas formas de expressão verbal. Em um mundo cercado por mensagens instantâneas e comunicações cada vez mais imediatistas, é importante que as crianças possam ter momentos de fruição literária, para que desacelerem e entrem em contato com outros modos possíveis de representar suas ideias, anseios, vontades e curiosidades.
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Nesses passeios pelos textos poéticos, a literatura brasileira oferece uma rica variedade, com autores tanto clássicos quanto contemporâneos que produzem obras instigantes, capazes de cativar até mesmo aqueles com menos familiaridade com a leitura literária. Só para citarmos alguns nomes do nosso cânone nacional, temos Cecilia Meireles, Vinicius de Moraes, Mario Quintana e Manoel de Barros, que em diversos poemas dialogaram com o mundo infanto-juvenil, com personagens, temáticas e abordagens bastante inventivas.
Outro ponto que merece ser mencionado é a estreita relação entre os poemas e a música. A separação entre textos poéticos e ao acompanhamento musical só se fortaleceu a partir do século XV, após a invenção da imprensa, quando a cultura escrita começou a predominar sobre a cultura oral. Até então, era comum que a declamação de poemas fosse acompanhada por instrumentos musicais, o que favorecia o ritmo melódico dos versos recitados. Por isso, o gênero textual composto pelos textos poéticos é chamado de lírico, em referência à lira, instrumentos de cordas muito usado pelos gregos na antiguidade clássica.
Essa relação entre poema e música é uma excelente oportunidade para aproximar os estudantes dos textos poéticos, especialmente aqueles que estão em processo de alfabetização, uma vez que o diálogo entre os versos de uma obra e a melodia musical podem ser mais facilmente acompanhados, despertando interesse e exigindo concentração. Nessa relação com a música, os poemas que empregam rimas podem estimular a memorização e a consciência fonológica dos alunos, pois reforçam a relação entre fonemas e as sílabas que os representam. Essas habilidades são fundamentais para aqueles que estão começando a se apropriar do sistema de escrita.
Além, do consumo, por meio da leitura, audição e interpretação de textos poéticos, é importante promover momentos em que os alunos possam também produzir seus próprios versos, permitindo que cada um a reconheça sua capacidade de ser um autor literário. Nesse tipo de dinâmica, a depender da etapa do Ensino Fundamental, o(a) docente pode definir um tema comum para a turma, a partir do qual todos devem produzir um poema com um número pré-definido de versos e estrofes. Em seguida, após a correção, devolução e possíveis ajustes feitos na reescrita, a turma pode organizar um sarau, no qual os poemas serão declamados.
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Em uma rotina estudantil por vezes intensa e exigente, é muito proveitoso criar situações mais lúdicas, que envolvem a criatividade e o engajamento dos estudantes em torno de uma produção artística. Esses momentos, permeados pelo fazer poético, podem ajudar a fortalecer, justamente, a valiosa poesia do cotidiano escolar.
DICA DE ESPECIALISTA
Por Claudinéa Batista
A poesia se faz num pescar de olhos, autor Leo Cunha
No livro “A poesia se faz num piscar de olhos“, o leitor é levado a explorar um universo poético cheio de sensibilidade e imaginação. Cada poema abre uma porta para um mundo de emoções, reflexões e conexões com a vida. Com uma linguagem poética envolvente e cativante, o autor nos incita a descobrir as sutilezas da existência, a beleza das pequenas coisas e a importância de viver o presente.
De acordo com o número de crianças na turma, divida-os em três grupos e distribua para cada grupo uma caixa com textos de cada bloco de poemas (“Poemas encucados”, “Poemas distraídos” e “Poemas atrapalhados”), contendo de cinco a dez poemas de cada bloco do livro “A poesia se faz num piscar de olhos“. Os estudantes deverão escolher um dos poemas da caixa, ler o poema escolhido para todos e, em seguida, a professora pode distribuir folhas em branco para que as crianças façam desenhos que ilustrem o poema lido. Posteriormente, a professora pode juntar esses desenhos e montar um livro-álbum dos desenhos dos estudantes sobre o livro “A poesia se faz num piscar de olhos“.
Minicurrículos
Diego Domingues
Graduado em Letras Português – Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com Especialização em Educação de Jovens e Adultos pela mesma instituição e Especialização em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/FFP); e Doutor em Linguística Aplicada pela UFRJ. Atualmente, é professor de Língua Portuguesa e Literatura em turmas do Ensino Médio do Colégio Pedro II e integrante do grupo Práticas de Letramentos no Ensino de Línguas e Literaturas (PLELL).
Claudinéa de Araújo Batista
Doutoranda em Educação. Mestre em Novas Tecnologias Digitais na Educação. Pedagoga e Filósofa. Especialista em Docência do Ensino Superior, em Filosofia, em Design Instrucional para EaD Virtual, em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância e Especialista em Tecnologia da Informação Aplicada à Educação. Atualmente, é editora sênior no Núcleo de Produção e Formação das editoras Ática, Saraiva e Scipione (vinculado à Saber Educação/Cogna Educação), elaborando recursos didáticos de natureza diversa para auxiliar professores da rede pública.