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Oralidade na sala de aula: caminhos possíveis para o ensino e a avaliação

30 de novembro de 2022
E-docente

Os homens são seres que usam mais a fala do que a escrita para interagirem socialmente. No entanto, a escrita, que tem valor documental, de registro, é mais valorizada na nossa sociedade grafocêntrica.

Essa supervalorização da escrita, que acaba colocando-a equivocadamente como oposta à fala, é percebida também no ensino de Português, no qual, ao longo do tempo, deu-se pouco espaço à oralidade como objeto de ensino, enquanto reservou à escrita, como prática de linguagem, espaços mais legitimados e garantidos do que trabalhar com a Oralidade na sala de aula.

Quer saber mais sobre Oralidade na sala de aula?
Então, confira nosso conteúdo que preparamos sobre o tema!

Saiba como trabalhar a Oralidade na sala de aula

Saiba como trabalhar a Oralidade na sala de aula

O reconhecimento da oralidade como objeto de ensino é relativamente recente quando comparado à leitura, à produção escrita e à análise linguística.

Além disso, quando presentes na sala de aula, muitas vezes as práticas de oralidade se resumiam a conversas espontâneas e expressão de opiniões.

Hoje, porém, podemos perceber que há um esforço na realização de um trabalho mais sistematizado, no qual as atividades com o oral não são um meio para outras atividades, mas um fim em si mesmas.

Uma pesquisa realizada por Luna e Gomes (2020) sobre o trabalho com a oralidade nos livros didáticos de Português mostrou que esses materiais têm promovido diferentes atividades com o oral, as quais podem ser categorizadas em:

Infográfico oralidade sala de aula

Olhar além dos livros didáticos 

Como sabemos, olhar para os livros didáticos é também uma forma de olhar para a sala de aula, considerando que este é um recurso bastante presente no nosso ensino.

Assim, com essa pesquisa, podemos ter uma ideia da natureza das atividades de oralidade que têm sido vivenciadas nas nossas escolas.

Dessas atividades, ainda segundo a pesquisa, a 3ª mais frequente é a de exploração dos gêneros orais. Esse dado aponta para a necessidade de mais investimento no trabalho com os gêneros orais formais públicos na sala de aula, já que, como destacam Schneuwly e Dolz (2004), esses gêneros são tão ensináveis quanto os escritos.

Como trabalhar com gêneros orais na sala de aula? Refletindo sobre o seminário, suas dimensões ensináveis e caminhos para avaliação

Um dos gêneros orais mais solicitados pelos professores na sala de aula das várias disciplinas é o seminário.

Mesmo antes de os gêneros orais alcançarem o status de objeto de ensino que possuem hoje, já era comum a apresentação de seminários como forma de avaliação.

No entanto, nem sempre a solicitação desse gênero era precedida do seu ensino, o que implicava também a ausência de critérios claros de avaliação. 


Dolz, Schneuwly e De Pietro (2004) entendem o seminário como “um gênero textual público, relativamente formal e específico, no qual o expositor especialista dirige-se a um auditório, de maneira estruturada (explicitamente), para lhe transmitir informações, descrever-lhe ou explicar alguma coisa” (p.218). 


Ainda segundo os autores, além de transmitir as informações ao grupo, o seminário favorece o aprendizado desses conteúdos, sobretudo para quem prepara e apresenta o gênero. Mas como ensinar e avaliar o seminário?


Há dois fatores elementares que precisam ser considerados no ensino do gênero oral seminário, ainda segundo Dolz, Schneuwly e De Pietro (2004): a situação de comunicação, que tem a ver com as interações e a construção de conhecimentos que se estabelecem entre o aluno-expositor e a plateia; e a organização interna da exposição, que concerne às capacidades de planejamento de um texto. Para dar conta dessa organização interna, é necessária a execução de diferentes etapas:

Infográfico Etapas

Demais etapas da Oralidade na sala de aula

Além dessas etapas, os autores chamam atenção para outros elementos constitutivos do gênero seminário, como os linguísticos (a coesão temática que une as diferentes partes do texto; a sinalização, que diferencia as ideias principais das secundárias; os exemplos e as reformulações etc.), os paralinguísticos (a prosódia, a qualidade da voz, a melodia, a elocução, as pausas, a respiração, os risos etc.) e os cinésicos (a postura física em relação aos colegas, os movimentos, os gestos, os olhares, as expressões faciais, a postura etc.).

Esses elementos reunidos formam o que Goulart (2005) chama de pistas de contextualização, pois permitem que “os falantes sinalizem e compreendam o ‘tipo de atividade de fala’ que está acontecendo no contexto em questão” (p. 15).

Para Schneuwly e Dolz (2004, p. 76), “[…] quanto mais precisa a definição das dimensões ensináveis de um gênero, mais ela facilitará a apropriação deste como instrumento e possibilitará o desenvolvimento de capacidades de linguagem diversas que a ele estão associadas”.

Além disso, no caso do seminário, a compreensão dos fatores, etapas e elementos acima indicados apontam para a avaliação e a formulação de critérios de avaliação desse gênero.

A avaliação do gênero seminário, assim como de outros gêneros, deve ocorrer de forma processual, de modo que o professor, que atua como mediador, possa planejar melhor sua prática pedagógica a partir das necessidades identificadas.

No que diz respeito aos critérios de avaliação dos textos orais, de acordo com Milanez (1993), estes devem ser diversificados, a fim de contemplar diversos níveis de análise, que envolvem desde a gramática até o aspecto comunicativo-interacional.

Como destaca a autora, “numa abordagem interacional da língua, ‘saber falar’ não é só saber expressar o pensamento nem só conseguir ser entendido, mas atingir o objetivo dentro de determinada situação comunicativa” (MILANEZ, 1992, p. 170, grifo da autora).

Critérios de avaliação

Considerando as concepções de texto oral e de avaliação aqui defendidas, trazemos alguns critérios de avaliação sugeridos por Araújo e Suassuna (2020), os quais estão agrupados em 4 tipos: discursivos, textuais, acústicos e cinésicos. Vejamos o que cada um deles representa:

Infográfico critérios de avaliação

Araújo e Suassuna (2020) salientam ainda que esses critérios não são estanques e podem ser ampliados. O que importa, segundo as autoras, é que eles fiquem claros tanto para o professor quanto para os alunos, de modo que haja uma coerência entre ensino e avaliação da oralidade.

Ensino e avaliação da oralidade: caminhos possíveis

Ensino e avaliação da oralidade: caminhos possíveis

De um modo geral, quando se fala em avaliação em Língua Portuguesa, entendemos que a presença de critérios avaliativos é essencial.

No caso do ensino da oralidade e dos gêneros orais, também é imprescindível a definição dos objetivos desse ensino e do modo como o desenvolvimento das habilidades orais será acompanhado, a fim de que seja possível fazer os redirecionamentos necessários ao aprendizado.

Como se vê, há caminhos possíveis para um trabalho sistematizado com os gêneros orais formais públicos que, se realizados pelos professores considerando a realidade da turma, a faixa etária dos estudantes e o contexto social, poderão contribuir de modo efetivo para a formação do falante competente.

Gostou de saber mais sobre o Oralidade na sala de aula? Então, confira nosso conteúdo sobre Oralidade e Ensino da Língua Portuguesa!

Hérica Karina Cavalcanti de Lima é Doutora em Educação (UFPE), na linha de pesquisa Educação e Linguagem, com período sanduíche no Laboratório de Investigação em Ensino de Português (LEIP), da Universidade de Aveiro/Portugal. É também Mestre em Educação (UFPE), na linha de pesquisa didática de conteúdos específicos, Especialista em Língua Portuguesa e licenciada em Letras (UPE). Atua como professora adjunta do Departamento de Letras da UFRPE e como docente colaboradora do Mestrado Profissional em Letras da UFPE. Realiza pesquisas e trabalhos nas áreas de ensino de língua materna, metodologias de ensino, formação de professores e materiais didáticos de português.

Para saber mais

ARAÚJO, Flávia; SUASSUNA, Lívia. Critérios para a avaliação da oralidade no ensino de língua portuguesa. Letras, Santa Maria, Especial 2020, n. 01, p. 97-110.


DOLZ, J. SCHNEUWLY, B.; DE PIETRO, J-F. A exposição oral. In: ROJO, R. CORDEIRO, G.S. (Org. e trad.) Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.

GOULART, C. As práticas orais na escola: o seminário como objeto de ensino. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.


LUNA, Ewerton Ávila dos Anjos; GOMES, Raquel Ferreira. Oralidade e ensino: uma análise das atividades nos livros didáticos de português. Revista (Con)Textos Linguísticos, Vitória, v. 14, n. 29, p. 507-523, 2020.


MILANEZ, Wânia. Pedagogia do oral: a elocução formal sob o prisma textual-interativo. Tese (Doutorado em Ciências – Linguística). Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de 

Campinas. Campinas, 1992.


MILANEZ, Wânia. Pedagogia do oral: condições e perspectivas para sua aplicação no português. Campinas: Sama, 1993.
SCHNEUWLY, Bernard. DOLZ, Joaquim. O oral como texto: como construir um objeto de ensino. In: ROJO, R. CORDEIRO, G.S. (Org. e trad.) Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.

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