O ENEM e as Questões Socioemocionais
Controlar a ansiedade. Gerir bem o tempo. Cuidar do corpo e da mente. Essas são ações imprescindíveis para quem visa a um excelente desempenho no ENEM. Para realizar uma avaliação desse porte, é fundamental considerar o seguinte: não basta dominar os conteúdos, é preciso saber lidar com questões socioemocionais, antes e durante o Exame.
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é uma avaliação de grande porte. São dois dias de prova (dois domingos seguidos), em que se abordam conteúdos de quatro áreas de conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias.
No primeiro dia, a prova apresenta 90 questões objetivas e uma proposta de redação; no segundo dia, mais 90 questões objetivas. São 5h30 no primeiro dia e 5h no segundo dia.
É, desse modo, uma prova extensa, que trabalha com muitos objetos de conhecimento, os quais dizem respeito às competências, às habilidades e aos conteúdos vistos pelo estudante em todos os seus anos de escolaridade, mas, sobretudo, no Ensino Médio.
Para fazer a prova, portanto, o estudante precisa estar ciente de todo esse conteúdo, revisar o que foi estudado até então, complementar os estudos com assuntos que ainda não fixou, conhecer o formato da prova e realizar questões de anos anteriores.
Aqui, no Blog do e-docente, abordamos essas e outras estratégias voltadas para que o professor possa ajudar o aluno na preparação para o ENEM 2023.
Trabalhar a parte cognitiva, obviamente, é primordial. Porém, é fundamental cuidar dos aspectos socioemocionais. É dessa forma – conciliando parte cognitiva e parte emocional – que o estudante obterá um desempenho de excelência nas provas.
Então, venha conosco nesta leitura para:
1) refletir sobre os sentimentos em questão quando se vai fazer uma prova desse porte;
2) conhecer um pouco sobre as habilidades socioemocionais, conforme estabelece a BNCC;
3) entender como essas habilidades podem colaborar para um bom desempenho do estudante, antes e durante o ENEM.
ENEM e as questões socioemocionais: Contextualizando os sentimentos
Os participantes do ENEM são estudantes que estão finalizando agora o Ensino Médio ou jovens e adultos que já o concluíram. Para esses dois grupos, os desafios são enormes para fazer uma prova como a do ENEM.
Primeiramente, é preciso lembrar que o estudante que está concluindo o Ensino Médio no tempo regular deve estar entre 16 e 18 anos.
Ou seja, está passando por algumas fases bastante intensas de mudanças hormonais, descobertas em relação à sexualidade, aquisição de responsabilidades familiares, escolhas acadêmicas e profissionais etc.
Então, junto a tudo isso, tem que fazer uma prova tão cheia de conteúdos e cujo resultado será tão importante para seus caminhos futuros.
Para o adolescente ou o adulto que já não está mais na escola, talvez haja uma pressão ainda maior em torno da prova em si, do resultado necessário para ingressar em uma universidade, no curso que deseja.
Talvez, esse participante já tenha realizado o ENEM em anos anteriores e, a cada prova, se sinta ainda mais pressionado a ter um desempenho que o coloque na universidade.
O fato é que, sabemos bem, esse ingresso no curso superior, sobretudo quando se visa a uma universidade pública ou a uma bolsa de estudos em uma faculdade particular, por exemplo, não é nada fácil.
Temos mais gente tentando ingressar no curso superior do que vagas, o que gera uma corrida para um desempenho destacável, uma batalha por uma nota maior que a dos “concorrentes”. Não, não é um sistema justo.
Estamos, pois, querendo deixar claro que é preciso entender o contexto em que esse participante do ENEM se encontra. Por isso, é justificável, por exemplo, uma postura de maior ansiedade, medo, insegurança ou tensão.
Também se faz necessário, infelizmente, recordar que, nos últimos anos, os processos de ensino-aprendizagem se deram por meio de uma conjuntura bastante específica.
Enfrentamos uma pandemia, passamos por um período de distanciamento social, as escolas ficaram vazias, professores e alunos tiveram que lidar com o ensino virtual e depois com o híbrido. Em alguns casos, nem isso aconteceu. Houve um hiato.
Então, até hoje, vemos estudantes que precisam recompor as aprendizagens, preencher as lacunas que esses tempos deixaram, que vão desde lacunas cognitivas a socioemocionais. Falamos também esse assunto aqui no Blog de e-docente com o desafio da preparação no cenário pós-pandemia.
Diante de todo esse contexto: de juventude, de pressão para ingresso no mundo acadêmico/ mundo do trabalho e de recomposição de aprendizagens que não se estabeleceram por conta da pandemia, é imprescindível que o estudante compreenda o que está sentindo (Medo? Ansiedade? Insegurança? Tensão?) e busque lidar com esses sentimentos, contando com o apoio de familiares, escola e amigos.
A educação socioemocional e a BNCC
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que defende a formação integral do estudante, coloca a educação socioemocional como uma das propostas transversais do ensino, do Infantil ao Médio. Ou seja, não seria a Educação Socioemocional um componente curricular específico, mas um tema que perpassa todos os componentes curriculares, projetos e demais ações da escola.
A ideia é que os estudantes possam pensar sobre suas emoções, que sejam capazes de assimilá-las e administrá-las, considerando um projeto de vida.
Isso certamente implicará em um desempenho melhor no âmbito acadêmico, por exemplo, potencializando as aprendizagens relativas às diversas áreas de conhecimento.
Dentre as dez “Competências Gerais da Educação Básica”, presentes no documento da BNCC, apesar de todas mencionarem algo que aponta para as questões socioemocionais, duas se destacam nesse aspecto, a de número 8 e a de número 10:
“8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.”
“10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.”
(Em: BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: ensino médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2019. p. 10)
Dessas duas competências, podemos depreender algumas expressões que apontam para habilidades socioemocionais a serem desenvolvidas pelos estudantes, como:
- Conhecer-se
- Apreciar-se
- Cuidar-se (física e emocionalmente)
- Ter autocrítica
- Ser capaz de lidar com as emoções
- Agir com autonomia
- Agir com responsabilidade
- Agir com flexibilidade
- Ser resiliente
- Ter determinação
Além dessas, há outras palavras que dizem respeito a habilidades socioemocionais de suma importância, as quais são mencionadas por outras competências gerais na BNCC, como:
- Curiosidade
- Imaginação
- Reflexão crítica
- Resolução de problemas / criação de soluções
- Expressão de ideias e sentimentos
- Protagonismo
- Autoria
- Empatia
- Disciplina
Todas essas habilidades são primordiais para quem está se preparando para uma grande avaliação. Veja-se, por exemplo, que as questões do ENEM são, majoritariamente, de interpretação de texto.
É preciso conhecer o conteúdo, mas, principalmente, é necessário saber refletir criticamente sobre o conhecimento apresentado, muitas vezes o relacionando aos fatos do cotidiano. Na prova de redação, isso fica ainda mais claro, visto que o estudante tem de se valer de uma argumentação consistente, crítica, autoral e coerente.
Ele também vai precisar de protagonismo, de curiosidade científica, de empatia para compreender os problemas sociais, de disciplina e da capacidade de resolver problemas e criar soluções.
Na próxima seção, destacaremos mais algumas habilidades socioemocionais essenciais para o estudante que está se preparando para o ENEM.
ENEM e as Habilidades socioemocionais
O estudante que vai fazer o ENEM, na maior parte das vezes, está em processo de construção de alguns planos para seu futuro, sobretudo em relação ao mundo acadêmico e profissional.
Para conseguir o desempenho tão desejado, como já salientamos, é preciso cuidar da parte cognitiva e emocional, a fim de dar seguimento ao seu projeto de vida.
As pessoas no entorno podem ajudar, mas o fato é que a busca pelo conhecimento requer um grande trabalho individual.
Por isso, destacamos o Autoconhecimento, a Autogestão, a Autocrítica e a Resiliência como habilidades indispensáveis para modular as emoções a favor do participante.
Vamos, pois, falar sobre essas habilidades socioemocionais que atuarão de modo colaborativo antes e durante a prova do ENEM, explicando como a gestão de sentimentos pode contribuir para a construção desse projeto de vida.
- Autoconhecimento
É preciso compreender o que está sentindo, para, assim, saber lidar com o que se sente. Para a realização de uma avaliação de grande porte, como o ENEM, que envolve uma enorme expectativa, é mais do que normal, por exemplo, sentir medo. Se o estudante percebe que está com medo e entende que é legítimo o seu sentimento, há mais chances de lidar com isso de modo tranquilo, de ressignificar. O medo, por exemplo, pode fazer com que a pessoa não perca o foco no que é importante. Mas, se o medo paralisa ou se desvia a atenção, necessita de intervenção, que pode ser de um profissional da psicologia. Portanto, é fundamental entender o que se sente, gerir as emoções e saber, também, a hora de pedir ajuda.
- Autocuidado
Manter uma rotina saudável, uma alimentação equilibrada, fazer exercício e ter momentos de lazer são atitudes tão relevantes para os estudos quanto aprender os conteúdos. É necessário cuidar da saúde – física e mental – para não adoecer, e ter um tempo também para descansar a mente. Que tal praticar técnicas de respiração e relaxamento? Desse modo, o processo de aprendizagem fluirá bem mais.
- Autogestão
Como o assunto da prova é extenso, é crucial se organizar; manter uma rotina; dividir os assuntos pelo tempo de estudo que se tem disponível; focar nos conteúdos mais complicados e gerir o tempo. Também é necessário ter determinação e responsabilidade, a fim de manter os compromissos com sua própria aprendizagem.
- Autocrítica
É fundamental saber realizar uma autoavaliação. O desempenho, nos estudos preparatórios, está sendo o desejável? O que está tranquilo? O que precisa melhorar? Com uma reflexão sobre as próprias atitudes, o estudante poderá reafirmar ou reformular o seu planejamento.
- Resiliência
Não estamos prontos e acabados. As habilidades socioemocionais, por exemplo, podem ser trabalhadas e desenvolvidas com o tempo. O contexto todo de avaliação pode fazer com que o participante se sinta inseguro, o que é absolutamente normal. Essa insegurança, no entanto, inicialmente, pode atrapalhar o desempenho. Por isso, é preciso ser resiliente e compreender que uma insegurança pode ser remodelada, um percurso de trabalho pode ser refeito e desempenhos problemáticos não são determinantes. Sempre é tempo de se refazer.
Conclusão
Explicamos a necessidade de o participante estruturar suas emoções, para, assim, ter um desempenho destacável no ENEM.
Para finalizar este texto, gostaríamos de frisar a importância também de um bom apoio da escola (se ainda nela estiver), da família e dos amigos. Essas pessoas podem colaborar estando abertas ao diálogo e à compreensão.
É fundamental que possam ter conversas tranquilizadoras, estejam presentes nos momentos de descontração, como também possam dar palavras de incentivo e orientar para o enfrentamento de problemas. Tudo isso pode fazer a diferença na vida dos estudantes.