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Leitura e representação cartográfica

11 de julho de 2023
E-docente

Atualmente, muito se discute sobre leitura, sobretudo nos âmbitos educacionais.

O que é leitura?

Como ensinar a ler de forma eficiente?

Como desenvolver a competência leitora dos estudantes?

Esses são alguns exemplos de perguntas frequentemente interpostas entre professores, gestores e pesquisadores da educação.

E como trabalhar essas questões com os alunos? Vamos tratar disso nesse artigo, trabalhando com as obras aprovadas de Geografia no PNLD 2024 das Editoras Ática, Saraiva e Scipione. Conheça nossas obras no site do E-docente.

Concepções de linguagem escrita

Durante muito tempo, a linguagem escrita foi concebida como um código de transcrição da oralidade. Nessa concepção, ela seria mera “tradução”, no papel, daquilo que se fala.

Como em todo código, haveria uma correspondência biunívoca (de um para um) entre os elementos – que, no caso do par oralidade-escrita, seria uma correspondência fonema-grafema.

Em outras palavras, para cada som emitido, haveria uma letra correspondente e vice-versa.

Numerosos estudos sobre linguagem vêm derrubando essa teoria da escrita como código. Em primeiro lugar, porque a correspondência entre sons e letras não é biunívoca, ou seja, não temos uma correspondência de uma letra para cada som e vice-versa.

Há letras que representam mais de um som, enquanto outros sons são representados por mais de uma letra.

Além disso, a língua escrita não pode ser concebida como código por possuir características próprias, que não encontram correspondentes na oralidade, assim como o contrário também acontece.

Na escrita, fatores como ortografia, pontuação, uso de maiúsculas são alguns exemplos de elementos que garantem atribuição de sentido e que não podem ser representados por meio da oralidade.

Já a linguagem oral, por sua vez, traz o gestual, a entonação, as expressões faciais como elementos de atribuição de sentido que não podem ser transcritos.

Assim, podemos concluir que ambas – língua oral e língua escrita – são modalidades de linguagem diferentes, sendo cada uma delas um sistema de representação único, com características próprias e não representações uma da outra. 

Concepções de leitura

Considerar a língua escrita como um sistema de representação e não como código de transcrição da oralidade implica em mudar também a concepção de leitura e dos participantes envolvidos nessa atividade (leitor e escritor).

Nessa perspectiva, não se entende a leitura como ato de transmissão de uma mensagem por escrito, nem se enxergam papeis de emissor e receptor dessa mensagem.

Todo ato de linguagem (e, nesse caso, a leitura em particular) entende-se como interação e seus integrantes são interlocutores, sendo todos partícipes ativos dessa ação, em igualdade de condições. Compreende-se, dessa forma, que assim como o autor atribui sentidos próprios à sua escrita, também o leitor atribuirá sentidos próprios àquilo que lê.  

Desafios no ensino da leitura

Sendo a leitura um ato de interação, por meio do qual o leitor atribui sentidos ao texto lido, seu ensino também não pode se limitar à mera decifração da correspondência entre sons e letras.

Ensinar a ler, sob essa ótica, significa mobilizar os conhecimentos do estudante para garantir que ele possa atribuir o máximo de sentido possível aos textos com que tem contato.

Para que isso ocorra, é preciso que esse estudante tenha repertório prévio, espaço para refletir e discutir sobre sua interpretação textual, oportunidades para vivenciar diferentes objetivos, procedimentos e modalidades de leitura na escola.

Além disso, é preciso atentar para a cultura grafocêntrica que ainda predomina na escola: para atribuir o máximo de sentidos possível ao texto, o leitor precisa se valer não apenas da linguagem verbal, mas reconhecer a relação entre diferentes elementos semióticos que contribuirão para uma construção de sentidos mais efetiva, valendo-se da leitura de imagens, símbolos, cores, links etc.

A preocupação em ressaltar tais aspectos, infelizmente, ainda não é tão latente nas aulas de leitura (das diversas áreas do conhecimento), e a escola permanece arraigada no trabalho com os conceitos de leitura e letramento atrelados unicamente à escrita.

Somente pela diversidade de práticas de leitura e aprofundamento de cada uma delas é que a competência leitora se desenvolve.

Representação cartográfica

Trabalhar com a linguagem verbal como meio de  interação e com a escrita  como sistema de representação não significa dizer que elas sejam as únicas formas de interação e representação, respectivamente.

As múltiplas semioses possuem o mesmo potencial de interação que a oralidade e a escrita e outros sistemas de representação coexistem em nossa sociedade, sendo, muitas vezes, mais adequados que a linguagem verbal em determinados contextos.

Um exemplo de sistema de representação multissemiótico em utilização e muito necessário em nosso cotidiano é a cartografia.

Esse conjunto de estudos e de operações técnicas, artísticas e científicas que, a partir da observação direta ou da análise de fontes históricas, elabora representações planas dos ambientes físicos e socioeconômicos por meio de plantas, croquis e mapas é extremamente importante para nossa localização e compreensão do mundo que nos rodeia.

Na escola, o componente curricular que explora de forma mais intensa a representação cartográfica é a geografia.

Isso significa que as aulas de geografia também são, muitas vezes, aulas de leitura. Estudar geografia envolve a leitura da relação entre os modos composicionais que se integram e compõem os sentidos no texto, em particular, a leitura de representações cartográficas.

Alfabetização Cartográfica: mais do que ler um mapa

Na leitura dessas representações, a atribuição de sentido também ocupa papel central: ler um mapa, por exemplo, envolve atribuir sentido a cores, linhas, compreender as relações entre os elementos, fazer correspondência com a legenda, entre outras habilidades.

Ver o mapa não basta: para que ele seja observável como um sistema de representação, é preciso que essa leitura seja bem-feita.

Para desenvolver essa modalidade de leitura, a escola precisa se dedicar, desde cedo, à chamada “alfabetização cartográfica”.

A criança precisa explorar sistemas de representação diversos, por meio de atividades:

  • com o próprio corpo (traçar seu contorno em folha de papel pardo, por exemplo);
  • com a sala de aula (construir sua maquete pode ser uma possibilidade);
  • com a escola (desenhar sua planta é um bom exemplo);

e assim ir ampliando as representações para espaços cada vez mais amplos, como a rua, o bairro, a cidade, o estado, o país, até chegar ao globo terrestre.

Construir representações, pensar sobre modos de garantir a compreensão de quem as veja, respeitar as convenções estabelecidas nessa produção são estratégias que trazem muitas habilidades necessárias a uma futura leitura de representações cartográficas diversas.

Cartografia nos Anos Finais do Ensino Fundamental

No cotidiano dos adolescentes, a cartografia está muito presente.

Seja na leitura de mapas convencionais, seja no uso de aplicativos de localização em seus telefones celulares ou no desenho de plantas e de croquis, numerosas são as situações em que os jovens precisam representar ou ler a representação espacial e coordenadas geográficas diversas.

Por isso, um aprofundamento no estudo das representações cartográficas durante os Anos Finais do Ensino Fundamental é essencial.

A coordenação de diferentes ferramentas que representam processos, fenômenos ou objetos que podem ser localizados na superfície terrestre é uma habilidade útil e necessária nos dias de hoje. Só assim os estudantes serão capazes de relacionar as representações cartográficas à realidade socioespacial em que estão inseridos.

No PNLD 2024, algumas obras de Geografia oferecem um trabalho intenso e de qualidade aos professores que desejam trabalhar com as representações cartográficas.

 Teláris Essencial e Jornadas Novos Caminhos

Destacamos, especialmente, duas obras que fazem esse trabalho com excelência: Teláris Essencial Geografia e Jornadas Novos Caminhos Geografia.

Página Teláris Essencial 6º ano página 106
Página Teláris Essencial 6º ano página 106

Nesta página do 6º ano, por exemplo, Teláris Essencial propõe um trabalho integrado entre Geografia e Matemática para que o estudante compreenda melhor o conceito e a representação das chamadas “curvas de nível”.

 Neste trabalho, o estudante pode perceber a representação das cores: por que, em um mapa de altitude, as superfícies planas têm uma cor diferente daquelas com maior altitude?

Construir a maquete do Pão de Açúcar, por exemplo, pintando cada parte do morro construído da mesma cor representada no mapa é uma boa forma de ilustrar esse sistema de representação.

Observar, depois, as linhas que simbolizam as curvas de nível, comparando-as em uma foto de observação direta com sua representação em um mapa. Tal como proposto na página, é uma excelente forma de desenvolver essa habilidade de leitura específica dos estudantes, ampliando, assim, sua competência leitora como um todo.

Jornadas Novos Caminhos

Vejamos, agora, mais um exemplo que desenvolve uma habilidade diferente em relação à leitura de representações cartográficas:

Página Jornadas Geografia 7º ano pag. 138 e 139
Página Jornadas Geografia 7º ano pag. 138 e 139

Nesta página do 7º ano de Jornadas Novos Caminhos Geografia, os estudantes aprendem sobre pontos proporcionais em mapas quantitativos.

As atividades propostas não apenas evidenciam as convenções que orientam esse tipo de representação, como também convidam os estudantes à reflexão sobre os critérios de escolha desses pontos, as estratégias para deixar a leitura dos mapas mais agradável e a importância de se trabalhar com sistemas de representação diversos para conceitos diferenciados.

Além do intenso trabalho com a leitura de representações cartográficas, essas duas obras exploram também outras modalidades de leitura.

Exemplo: em seções como Contraponto, que aparece em Teláris Essencial, favorecendo o desenvolvimento da argumentação oral e escrita em debates sobre assuntos polêmicos, por exemplo.

Ou como Em ação, de Jornadas Novos Caminhos, que propõe o desenvolvimento da pesquisa científica, abarcando todas as modalidades de leitura envolvidas nessa prática.

Conclusão

Dessa forma, podemos afirmar que o PNLD 2024 oferece múltiplas oportunidades para o professor que deseja desenvolver a competência leitora de seus estudantes, sobretudo a leitura de representações cartográficas.

Escolher a obra certa e articulá-la a uma ação didática de qualidade fará toda a diferença na garantia da aprendizagem dos estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental!

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