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Juventude brasileira: engajando pela preservação dos ecossistemas

22 de agosto de 2024
E-docente
Juventude Brasileira - engajando pela preservação dos ecossistemas

Os noticiários revelam uma realidade assustadora: a chuva chegou com força e devastou diversas cidades no Rio Grande do Sul, deixando milhares de pessoas desabrigadas e inúmeros animais mortos ou abandonados, com casas e ruas totalmente submersas. Além da tristeza e do desespero para tanta gente, deixou um rastro de revolta e acendeu, mais uma vez, a luz de alerta para as questões ambientais e o respeito à preservação dos ecossistemas.

É importante considerar que o pisca-alerta está ligado há muito tempo. Na última década, temos colecionado no território nacional uma sequência de desastres ambientais que, ano após ano, denunciam o quanto os ecossistemas estão sobrecarregados pelos descasos da exploração humana, pela ausência de fiscalização, de políticas públicas e de ações governamentais que contribuam para o cuidado com os recursos naturais. Podemos listar rapidamente os rompimentos das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), o aumento dos incêndios de grande magnitude na Amazônia (2019-2020), o derramamento de óleo que atingiu as praias do Nordeste (2019), as enchentes e deslizamentos em Petrópolis (2022) e o desmatamento crescente em índices exponenciais na Amazônia e no Cerrado.

A realidade precisa mudar urgentemente, e é necessário esperançar (sob a luz da concepção freireana). Apostar na educação ambiental dos jovens, dentro do território escolar, é um dos caminhos mais promissores e potentes. É na força e na energia da juventude que o futuro ambientalmente sustentável reside, e é preciso traçar ações com esse público que permitam uma mudança gradual na forma de pensar, agir e contagiar o entorno com uma nova maneira de ser e estar no mundo.

Um dos exemplos mundiais mais emblemáticos de representatividade da juventude que luta pelas questões ambientais é o da ativista sueca Greta Thunberg. Com a intenção de chamar a atenção das autoridades suecas para os problemas climáticos, Greta iniciou o movimento Fridays for Future (Sextas-feiras pelo Futuro), também conhecido como Greve Escolar pelo Clima. No ano de 2018, durante quase três semanas antes das eleições na Suécia, Greta faltou às aulas nas sextas-feiras e se sentou à porta do parlamento do país com um cartaz que dizia Skolstrejk för Klimatet (Greve Escolar pelo Clima). No início, a ativista esteve sozinha, contudo a cada dia mais e mais pessoas se juntaram a ela, e sua história atraiu atenção internacional e fez com que Greta fosse ouvida em fóruns mundiais importantes ao redor do mundo. Com o fim do período eleitoral, a jovem Greta retornou à escola, mas continuou faltando às aulas nas sextas-feiras para fazer greve. Sua ação inspirou uma rede internacional de estudantes em todo o mundo a participar das suas próprias Fridays for Future.

Greta Thunberg segura seu cartaz em frente ao parlamento sueco em 2018. No cartaz, lê-se em sueco "Skolstrejk för Klimatet", que traduzido para o português é "Greve Escolar pelo Clima".  

Crédito da imagem: Hanna Franzen, EPA-EFE/Shutterstock.com

É claro que a proposta aqui não é estimular os jovens a faltar às aulas, mas incentivá-los a pensar de forma crítica sobre os problemas que afetam os mais variados ecossistemas e como o desequilíbrio ambiental repercute em todas as esferas do planeta. Precisamos considerar os jovens como protagonistas dessas lutas e ensiná-los a ter senso crítico para compreender o mundo e o que temos vivido. E mais: com criatividade, robustez teórica e energia para a luta, dar continuidade aos movimentos de mudança.

Práticas pedagógicas baseada na pedagogia de projetos

            Os projetos escolares não são novidade para o professorado. É até bastante comum, e alguns docentes podem estar cansados dessa abordagem e de todo o trabalho que é demandado. Porém, convido você a rever a forma como estamos construindo esses projetos: os objetivos, quem tem se envolvido como participante e de que forma damos continuidade às ações vividas no ambiente escolar.

            A pedagogia de projetos possui um foco direcionado para a resolução de problemas reais e a criação de produtos aplicáveis (ou potencialmente aplicáveis), estimulando a aprendizagem dos alunos com questões relevantes e que mobilizam os estudantes na resolução de problemas e desafios. Essa abordagem promove a autonomia, a criatividade, a participação ativa e o trabalho em equipe.

            Temos uma vasta gama de problemas reais nos mais diversos ecossistemas que podem ser abordados como projetos interdisciplinares com os estudantes. Uma dica interessante é sempre começar com problemas reais da realidade local. Isso facilita muito para que o aluno veja um significado direto naquilo que está investigando e produzindo.

            Se a escola está localizada em uma região onde o bioma principal é a Amazônia, uma estratégia interessante seria incentivar os alunos a realizarem projetos relacionados aos problemas ambientais da região amazônica, como desmatamento, contaminação de recursos hídricos, exploração da floresta, biopirataria, perda de habitat, doenças zoonóticas e população indígena, entre outros.

A escola pode integrar projetos anuais ao currículo escolar, de forma que abranjam todas as áreas do conhecimento e permitam que todos os docentes possam colaborar com ações, curadoria de materiais, supervisão e orientação dos projetos e pesquisas. Os estudantes podem criar diversas propostas para a resolução dos problemas identificados e gerar produtos que contribuam, se implementados, para a preservação dos ecossistemas.

Podemos incentivar os estudantes a pensar em projetos de lei, ações com a população, produção de material audiovisual, cartilhas, podcasts, exposições, instalações artísticas e tantas outras formas de comunicação e geração de conteúdo que promovam mudanças na forma de pensar e agir. Veja abaixo alguns temas possíveis para projetos escolares.

Lista de possíveis temas para projetos escolares direcionados para a preservação dos ecossistemas.   
Crédito da imagem: Danilo Carvalho (2024).

Preservação dos ecossistemas: educação ambiental e a integração com o currículo

            A educação ambiental pode ser incorporada no currículo escolar de diversas maneiras, garantindo que os alunos desenvolvam uma compreensão profunda das questões socioambientais e aprendam a agir e pensar de forma sustentável e interconectada. Os planejamentos anuais precisam ser interdisciplinares e contemplar a pauta ambiental de forma séria e para além do lugar comum.

É fazer uma conexão entre os componentes para que trabalhem de forma complementar. Em Ciências, por exemplo, pode-se estudar ecossistemas, biodiversidade, mudanças climáticas, reciclagem e conservação de recursos. Complementarmente, à luz dos objetos de conhecimento de Geografia, os estudantes poderiam analisar questões ambientais locais e globais, como desmatamento, poluição e uso da terra. Já no âmbito do componente curricular História, poderiam explorar a evolução das políticas ambientais e o impacto das atividades humanas no meio ambiente ao longo do tempo. Na Matemática, o estudo da estatística, a leitura de gráficos e análises quantitativas poderiam ser realizados utilizando dados ambientais. Dessa forma, o trabalho vai se relacionando e sendo explorado pela ótica de todos as áreas de conhecimento.

É importante realizar debates expandidos e bem conduzidos sobre os objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) bem como da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.  Outro material super interessante e que merece atenção são os dados do estudo da JUMA – Pesquisa Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. Esse material tem por objetivo principal “aprofundar a percepção das juventudes brasileiras em relação ao meio ambiente nas regiões do país em que estão inseridas e como esse grupo identifica o impacto dessas mudanças nas suas realidades” (JUMA, 2022, p.6). Vale a pena conferir!

Outras atividades como o estímulo à criação de “Clubes Ambientais” podem ser estimuladas, para que os alunos possam discutir questões ambientais e desenvolver projetos comunitários. Aulas de campo para visitas a parques naturais, museus, reservas ecológicas, comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, centros de tecnologia alternativa, estações de tratamento de água e reciclagem ajudam os alunos a compreender melhor algumas questões in loco. Promover eventos que integrem a comunidade escolar também é sempre muito interessante, a exemplo das feiras do conhecimento, semanas do meio ambiente e campanhas de conscientização sobre temas específicos. O trabalho interconectado fortalece a proposta, cria um ambiente em que o aluno consegue observar sentido para o que vem sendo trabalhado de uma forma muito mais interessante e, consequentemente, cria um repertório de conhecimentos muito mais robustos sobre o assunto.

Conclusão

É indiscutível que o empoderamento juvenil para as causas ambientais é mais que necessário e que a escola é o lugar primário para iniciarmos esse movimento. Para isso, precisamos pensar em práticas que sejam de fato libertadoras. Promover momentos de discussão coletiva, fala livre e respeitosa, oficinas de escrita criativa, pesquisa crítica, escuta de saberes populares, diálogo com o entorno escolar e tantas outras ações é fundamental.  Politizar o debate na escola se faz necessário e urgente; somente assim, veremos nossas Gretas Thunberg mudando gradativamente o mundo com suas ideias e ideais. É preciso dar e criar oportunidades reais para voar!

Referências

CANELAS, A. A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável e as suas interações com as políticas econômica, energética e ambiental. 2004. Disponível em: http://www.portalabpg.org.br/PDPetro/3/trabalhos/IBP0111_05.pdf. Acesso em: 26 mai. 2024.

CAPRA, F. Ecologia Profunda – Um Novo Paradigma. In: A teia da vida: uma nova compreensão dos sistemas vivos. Tradução de Newton Roberval Einchemberg. São Paulo: Cultrix, 2006.

CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental Crítica: nomes e endereçamentos da educação. In: Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Ministério da Educação, 2004.

CORRÊA, D.; BACKES, E. G. Desenvolvimento sustentável: em busca de novos fundamentos. In: SPAREMBERGER, R. F. L.; PAVIANI, J. Direito Ambiental: um olhar para a cidadania e sustentabilidade planetária. Caxias do Sul: Educs, 2006. p. 83-114.

FONTES, P. A pedagogia de projetos: ano letivo sem mesmice. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Wak Editora, 2014.

JUMA – Pesquisa Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. Disponível em: https://oeco.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Relatorio-Pesquisa-Juventudes-Meio-Ambiente-e-Mudancas-Climaticas_JUMA_2023.pdf. Acesso em: 26 mai. 2024.

HERNÁNDEZ, S. & VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho: O conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1998.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Disponível em: https://unric.org/pt/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/ Acesso em: 26 mai. 2024.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. A agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/home/agenda  Acesso em: 26 mai. 2024.

Minibio do autor

Danilo Carvalho possui graduação em Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Mato Grosso, Mestrado e Doutorado em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-doutorado pela Texas A&M University (Estados Unidos). É professor e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, atuando no Colégio de Aplicação da UFPE e no Mestrado Profissional em Ensino de Biologia/CAV-UFPE. Desenvolve atividades direcionadas para o campo do Ensino e Pesquisa em Biologia e acumula experiências na Formação de Professores, Consultoria Educacional, Coordenação Escolar, Acadêmica, Estágio e Direção Escolar. É revisor de periódicos científicos, escritor de artigos e tem atuado na produção de textos em blogs da área de Educação.

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