As habilidades, dentre elas as habilidades de leitura, representam as aprendizagens que devem ser trabalhadas e que progridem ao longo dos anos escolares, evoluindo de ações mais simples para outras de maior complexidade. 

É importante que o docente, nas aulas de Língua Portuguesa, compreenda como acontece o encadeamento das habilidades do eixo de leitura presentes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e como as aprendizagens avançam, de forma ampliada e com o aumento de complexidade no decorrer dos anos escolares, em um movimento espiral ascendente. 

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As habilidades de leitura contidas na BNCC para os Anos Iniciais

Em relação aos Anos Iniciais, tomamos como exemplo a habilidade abaixo, presente na BNCC, cuja legenda indica que se trata de Ensino Fundamental, 1º ano, Língua Portuguesa, número 16 (EF01LP16).

Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor, quadrinhas, parlendas, trava-línguas, cantigas entre outros textos do campo da vida cotidiana, considerando a situação comunicativa, o tema/assunto, a estrutura composicional, o estilo e a finalidade do gênero.

A habilidade de leitura pressupõem estratégias por parte do professor que envolvam os estudantes de maneira colaborativa, superando a proposta de decodificação da língua escrita.

Para além disso, fomenta a participação em reflexões coletivas sobre o que é lido em sala de aula, tendo a oportunidade de estabelecer conexões e aprender sobre a existência de variados gêneros, suas finalidades e características.

Compreender as habilidades de leitura

Outra exemplificação acerca do trabalho com habilidades e sua progressão encontra-se na tabela abaixo, em que comparamos algumas habilidades de leitura do 1º ao 3º anos do Ensino Fundamental retiradas das Orientações Curriculares da SME-RJ referentes ao objeto de aprendizagem “Palavras como Unidade Gráfica”:

Na tabela acima, percebemos que, nos dois anos referentes ao processo de alfabetização, somente uma das três habilidades previstas para o 1º se repete no 2º ano. Isso sinaliza que as habilidades não constantes para o 2º ano devem ser consolidadas no 1º ano.

Neste caso, a habilidade de identificação das relações grafema/fonema continuam de modo que o processo de alfabetização proporcione a reflexão linguística acerca da leitura de grupamentos fonético-fonológicos mais complexos, como os dígrafos e encontros consonantais, por exemplo.

No entanto, a identificação de sílabas de palavras lidas e/ou ouvidas e a leitura de palavras são habilidades basilares para o prosseguimento e ampliação do processo de leitura dos estudantes.

A habilidade a seguir perpassa todos os anos iniciais do ensino fundamental: uma habilidade que se relaciona com a anterior, porém com uma maior complexidade, exigindo outras ações: (EF15LP01).

Identificar a função social de textos que circulam em campos da vida social dos quais participa cotidianamente (a casa, a rua, a comunidade, a escola) de nas mídias impressas, de massa e digital, reconhecendo para que foram produzidos, onde circulam quem os produziu e aquém se destinam.

O trabalho com essa habilidade de leitura pressupõe o uso de estratégias que os estudantes já devem ter vivenciado em aulas de leitura anteriores e demais conhecimentos sobre os variados gêneros textuais. Tais saberes serão ativados para que os estudantes possam fazer as relações identificar o que se espera.

As habilidades de leitura contidas na BNCC para os Anos Finais

Nos Anos Finais, apresentamos um exemplo de encadeamento feito por meio de duas habilidades que se complementam:

(EF67LP18A) Identificar, na leitura de textos reivindicatórios ou propositivos, o objeto de reclamação e/ou da solicitação, analisando sua pertinência.

(EF67LP18B) Identificar, na leitura de textos reivindicatórios ou propositivos, a sustentação, explicação ou justificativa apresentada para a reclamação e/ou solicitação, analisando sua pertinência em relação ao objeto da reclamação e/ou da solicitação

Observamos que, em ambas as habilidades, os estudantes serão levados a ativar conhecimentos desenvolvidos em anos anteriores para que seja capaz de fazer tais identificações, correlações e análises que serão propostas nas atividades.

(EF67LP28) Ler e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes -, romances infantojuvenis, contos populares, contos de terror, lendas brasileiras, indígenas e africanas, poemas, entre outros m expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

A habilidade em questão exige um conhecimento prévio, por parte dos estudantes, mais amplo, ou seja, o desenvolvimento das habilidades mencionadas anteriormente para ser plenamente alcançada. 

Além delas, há um avanço significativo, pois, além dos conhecimentos prévios que o estudante desenvolveu sobre as estratégias de leitura, ele deverá ser capaz de expressar opinião acerca do que leu, avaliando e estabelecendo preferências. 

Percebemos, também, o eixo de leitura encadeado ao eixo de produção textual, exercitando a argumentação.

Critérios para analisar as habilidades

Assim como todo o encadeamentos das habilidades observadas anteriormente, elencamos abaixo, referente ao 8º e 9º anos:

Analisar ética e criticamente, diferentes práticas sociais frente aos gêneros da cultura digital (meme, gif, comentário, charge, curtida, post, blog entre outros) envolvidos no trato com a informação e opinião, de forma a possibilitar uma presença mais crítica e ética nas redes.

Nessa habilidade, além de retomar o estudo de gêneros bem contemporâneos e alinhados ao universo adolescente na vida cotidiana, percebemos que as habilidades anteriores são imprescindíveis para que os alunos sejam capazes de realizar tais análises críticas.

Outra observação relevante a ser feita é o fato de que, quanto mais se avança em anos de escolaridade, maior é a relação entre as habilidades citadas.

Conclusão

O trabalho com habilidades de leitura proporciona uma prática pedagógica mais coerente, encadeada e significativa, uma vez que o foco recai sobre as aprendizagens discursivas em relação à língua, ou seja, desenvolver, a partir das ferramentas linguísticas, formas de ler, compreender, interpretar textos e linguagens dos campos de atuação e suas funções interlocutivas.

Além disso, a progressão das habilidades apresenta consistência didática no modo de organização do trabalho pedagógico e da avaliação dos avanços nas aprendizagens.

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Mario Sergio Mangabeira Junior é Mestre em Letras pela UFRRJ. Professor de Língua Portuguesa e Inglês da SME/RJ. Elaborador de material didático Rioeduca de Língua Portuguesa da SME/RJ. Atua em formação continuada na área de Metodologia de Ensino de LP e Organização do Trabalho Pedagógico. Atualmente, é Assistente da Coordenadoria de Gestão Escolar da SME/RJ.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018

Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Educação. Currículo – Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 2020.