Escola 3.0: um novo modelo de educação
Bem-vindes, então, à Escola 3.0. Façamos um breve questionamento: qual a diferença entre uma criança nascida no final dos anos 70 e outra, no início da década de 2010? A resposta: nasceram em mundos completamente diferentes.
Afinal, alguém que viveu a plenitude da permissividade politicamente incorreta dos anos 80/90 possui uma experiência de infância/adolescência bem diversa de quem veio ao mundo na efervescência de uma sociedade cada dia mais engajada com a luta antirracista ou antiLGTBQIA+fobia, por exemplo.
E este é apenas um dos inúmeros exemplos de diferenças significativas entre estes dois instantes históricos. Some-se a ele o avanço constante e exponencial da tecnologia e temos, realmente, universos por vezes antagônicos. Diante desse cenário, como uma instituição como a escola poderia ser a mesma?
Não é, de fato. Agora, assim como os smartphones, as escolas também têm números como referencial. Bem-vindes, então, à Escola 3.0.
O conceito de Escola 3.0
A Escola 3.0 representa a alternativa ao que muitos, ainda hoje, entendem como a maneira tradicional de dar aulas: giz, quadro-negro e livros. Visa integrar a realidade dos discentes à utilização das mais recentes ferramentas tecnológicas, com o intuito de favorecer a construção dos conhecimentos e proporcionar uma experiência escolar que respeite o tempo de cada um.
É a utilização de técnicas e práticas, partindo do pressuposto de que as informações estão mais acessíveis aos alunos. Caracteriza-se, assim, pela presença rotineira de outras fontes de informação e, consequentemente, mais autonomia no processo de aprendizagem.
A origem do termo
O termo “Educação 3.0” foi usado pela primeira vez no ano de 2007 pelo professor Derek Keats. De acordo com ele, trata-se do paradigma da educação associado à Sociedade 3.0, “impulsionada pela aceleração das mudanças tecnológicas e sociais, e caracterizada pela presença da globalização, horizontalização do conhecimento e relacionamentos, e uma sociedade orientada pela inovação dos cidadãos”.
Os seis pilares da Escola 3.0
O escritor e professor norteamericano Jim G. Lengel, especialista em Escola 3.0, especificou seis pilares que diferenciam uma Escola 3.0 de uma 2.0:
- Foco no trabalho mais específico em problemas que realmente afetam a comunidade onde vivem;
- O trabalho entre alunos e professores é realizado de forma colaborativa;
- Estudantes fazem pesquisas autodirecionadas;
- O aprendizado sobre a contação de uma boa história (storytelling);
- As ferramentas (especialmente digitais) são direcionadas à aplicação de cada tarefa;
- Estímulo constante à criatividade e à curiosidade.
Mais alguns benefícios
Inclusão
Por poder ser mais personalizada, a educação 3.0 também pode ser mais inclusiva, adaptando-se melhor, por exemplo, a alunos com déficit de atenção, dislexia ou que, simplesmente, tenha formas mais particulares de estudar.
Estímulo às habilidades especiais
Estudantes com altas habilidades também precisam ser incluídos no contexto geral. Por serem pessoas com interesses bem específicos e direcionados, podem ter mais estímulo para se aprofundarem mais em determinados temas com os quais têm afinidade.
Protagonismo estudantil
Por dialogar com a tecnologia, em vez de ser uma inimiga dos celulares e computadores em sala de aula, o modelo da escola 3.0 acaba despertando mais interesse e, consequentemente, protagonismo dos estudantes. É importante lembrar, entretanto, que ser protagonista e um tanto quanto autônomo não significa estar sozinho, desacompanhado.
Todo aluno deve ser guiado pelos professores durante o processo. Importante atentar, também, que a escola nunca pode deixar de seguir as diretrizes do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e precisa ter como norte a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), seja qual for a natureza do conteúdo online.
Gamificação do ensino
Se uma das características da Escola 3.0 é justamente a utilização mais massiva de ferramentas tecnológicas, uma abordagem bastante eficiente com o objetivo de atingir crianças e adolescentes é a chamada “gamificação” do ensino.
Jogos e atividades lúdicas podem ser excelentes como recurso pedagógico para promoção da construção de conhecimentos, uma vez que se baseiam na ideia de gratificação (algumas mais imediatas, outras a longo prazo) pelas conquistas que vão sendo alcançadas paulatinamente, em etapas que vão se complexificando, assim como ocorre no processo de aprendizagem
Desafios da implementação da Escola 3.0
Partir do pressuposto de que a informação está mais acessível aos estudantes, de forma geral, pode ser um caminho perigoso em se tratando de um país tão desigual como o Brasil.
Em um local com tantas dificuldades de acesso à tecnologia por parte dos mais vulneráveis, é óbvio que são muitas as barreiras para a completa implementação da Escola 3.0. Se em muitas instituições de ensino falta até mesmo a infraestrutura mais básica, como contar com computadores e aparatos tecnológicos para todos?
Características da Escola 3.0
A questão elaborada acima acaba, sim, remetendo a uma resposta quase óbvia. De que, até então, a nova escola tem tido implementação mais efetiva na rede de ensino privada. É importante entender, entretanto, que este conceito vai além da utilização da tecnologia, per si.
A autonomia do aprendizado concernente a ela estimula a criatividade e a inclusão dos não tão adaptados ao modelo de educação tradicional. Afinal, existem diversas formas de memorização e aprendizagem.
Um novo espaço para uma nova escola
A consolidação da escola 3.0 vai além da introdução de novas tecnologias. Elementos como a arquitetura da instituição de ensino fazem toda a diferença. Uma estrutura que estimule o ensino fora das paredes da sala, por exemplo, é importante para romper com os padrões da escola tradicional.
Para tanto, é preciso que haja estrutura física apta a comportar essa mudança. Uma problemática, portanto, para a completa adaptação desse conceito em um país dotado de múltiplos entraves financeiros, burocráticos e culturais (tanto nas instituições públicas quanto privadas).
Um novo corpo docente
Quanto ao perfil pedagógico, a Escola 3.0 está mais alinhada com um novo perfil de educadores. Espera-se que sejam mais abertos, disponíveis, dinâmicos e atentos ao que acontece ao redor do mundo. Importante, ainda, que tenham familiaridade com as ferramentas e tecnologias disponíveis, cientes de novas fontes de pesquisa e de métodos mais práticos e eficientes de troca de conhecimentos.
Ganha pontos aquele que procura se familiarizar com o que há de novo, que é curioso quanto às potencialidades de novos recursos para sua prática pedagógica e ciente da necessidade de desenvolver seu próprio letramento digital para produzir aulas mais atraentes ao estudante.
Importante salientar, entretanto, que toda esta triagem e atualização tem como potencial a própria experiência e a formação desses profissionais.
Pessoas que, ao final, ainda podem ter em mente a necessidade de incentivar as crianças e adolescentes para formação do pensamento crítico e do diálogo com a família.
Alguns modelos de educação
As principais diferenças entre os três modelos de educação foram moldados, genericamente, pelo avanço do tempo e de modificações na sociedade ao longo desse trajeto.
Educação 1.0
Um dos primeiros formatos desenvolvidos pela humanidade na Idade Moderna. Vigente em uma época em que o conhecimento era restrito a pequenos e privilegiados grupos, notadamente formados por filósofos, intelectuais e nobres. Formado por um professor + um estudante ou um professor + poucos estudantes.
Educação 2.0
Dentre as várias mudanças que a Revolução Industrial proporcionou ao mundo, o aumento do alcance da escola foi um deles. O objetivo era que houvesse um mercado de trabalho mais competitivo e que os trabalhadores também tivessem um melhor nível de escolaridade, mesmo que básico.
A universalização do ensino, portanto, consistiu em grupos maiores de aprendizes e, consequentemente, em sistemas e padrões mais rígidos.
Educação 3.0
Assim como costumam ser as décadas, cíclica e alternante também está sendo o processo de evolução dos modelos educacionais.
Em contraponto ao engessamento do modo 2.0, surgiu a escola 3.0, conjunto de técnicas e práticas que se baseia em conceitos como utilização massiva da tecnologia, mais acessibilidade às fontes de informações para os alunos, liberdade no processo de aprendizagem, gamificação do ensino e, consequentemente, estímulo à criatividade.
Um passo mais à frente: Educação 4.0
A evolução da Escola 3.0 estaria ligada à Revolução Tecnológica, que inclui linguagem computacional e as ferramentas avançadas relacionadas a esse campo — como a Inteligência Artificial (AI) e a Internet das Coisas (IoT).
Contempla, ainda, o que se denomina, em inglês, de “learning by doing”, que se refere ao ato de aprender por meio da vivência de experiências e de projetos concretizados.