Os desafios do ensino de História no exercício da alteridade no livro didático
Em nossa linguagem do dia a dia, é comum utilizarmos o termo “história”. Na maioria das vezes, usamos esse termo para descrever a maneira como nos relacionamos com os outros e como nos situamos no mundo.
Nessa perspectiva, a palavra “história” se revela como uma concepção de tempo e de mundo, um ponto de vista pelo qual adotamos uma forma específica de compreender as coisas e de entender a realidade ao nosso redor.
Compreendemos a história como uma forma de compreender o mundo, enxergando-o como uma realidade objetiva, baseada em experiências sensoriais.
Pode-se até afirmar que todos nós, de alguma forma, adotamos uma postura filosófica, uma vez que, em nossos hábitos cotidianos, temos uma perspectiva sobre as coisas, atribuindo-lhes significados e assumindo constantemente uma forma de interpretação dessa realidade que nos envolve.
Se adotamos essa visão da história, podemos dizer que todos estamos envolvidos em sua construção, ou seja, não haveria ninguém excluído desse processo, desde que consideremos a compreensão da realidade de uma maneira específica.
Essa perspectiva simplista muitas vezes se confunde com uma consciência empírica, baseada no senso comum. No entanto, será que essa é a essência da história? Não!
Ao examinarmos a origem da palavra “história”, constatamos que sua definição remete à “investigação”. Trata-se de um termo de origem grega que denota o “conhecimento adquirido através da investigação”.
No campo da História, essa palavra está associada à ciência que se dedica ao estudo do passado e do processo de evolução da humanidade, tomando como base uma época, um povo ou indivíduo e um local específico.
Nesse contexto, a História consiste em um conjunto de eventos que são analisados e estudados por aqueles que se dedicam a essa área do conhecimento.
Reflexão sobre a História na alteridade no livro didático
O convite implícito no título do texto nos conduz a uma reflexão relevante sobre o conceito de alteridade. De acordo com o dicionário Aurélio, a descrição da alteridade é a seguinte: “al.te.ri.da.de – (francês alterité) – substantivo feminino – Qualidade do que é outro ou do que é diferente.”
A prática da alteridade transcende a mera concepção teórica e requer uma ação efetiva. Requer, acima de tudo, a habilidade de se colocar no lugar do próximo, compreender suas preocupações e esforçar-se para compreender seu sofrimento.
A alteridade também envolve o reconhecimento da existência de culturas diversas e valorização plena dessas diferenças, manifestando respeito integral por elas.
A convivência em comunidade possibilita a interação entre as pessoas. O indivíduo está em contato constante com seus semelhantes, estabelecendo uma relação contínua entre si mesmo e o outro.
Um dos princípios fundamentais da alteridade é que, na vida em sociedade, o indivíduo não se limita apenas a se relacionar com os demais, mas sua própria existência é indissociável da existência do outro.
É por esse motivo que o “eu” só pode alcançar uma existência verdadeira por meio da sua conexão com o “outro”.
O ensino de história
O ensino de História nas escolas tem como base o entendimento do passado, a identificação dos protagonistas históricos e a vivência das experiências ao longo das eras.
Além disso, tem um papel relevante e preponderante para a formação integral do estudante, uma vez que este adquire a capacidade de reconhecer e contextualizar o passado em relação ao presente.
A permanência do componente curricular de História e o fortalecimento das estratégias voltadas para o seu ensino são fundamentais na construção dos currículos escolares, pois trata-se de um investimento não apenas no desenvolvimento pessoal dos estudantes, mas da sua preparação para a vida em sociedade.
Por meio do ensino de História, os discentes têm a chance de explorar diversas fontes históricas, estabelecendo um diálogo constante entre o passado e o presente. Essa interação enriquece a experiência educacional e amplia a compreensão do mundo ao redor.
Coleção Jornadas Novos Caminhos História
Na coleção Jornadas Novos Caminhos – História, na coleção Jornadas Novos Caminhos – História, disponível para seleção do PNLD 2024, os autores Maurício Cardoso, Priscila Nina, Carolina Amaral de Aguiar e Paulo Ferraz de Camargo fornecem, ao longo dos volumes, uma seção dedicada ao estudo de fontes históricas diversas, como registros de documentos, obras de arte, monumentos e objetos.
A diversidade de documentos e de artefatos analisados, provenientes de culturas e de épocas distintas, permite que os estudantes os reconheçam como objetos de investigação, os quais revelam aspectos relacionados à formação cultural e ao modo de vida em sociedades antigas e contemporâneas.
Coleção História.doc
Uma outra coleção que se destaca pelo seu trabalho com fontes históricas, sejam elas documentais, escritas ou visuais, é a Coleção História.doc, escrita por Ronaldo Vainfas, Jorge Luiz Ferreira, Sheila Siqueira de Castro Faria e Daniela Buono Calainho.
Essa coleção tem como objetivo despertar nos estudantes a compreensão da importância da História para a formação cidadã.
Através do estudo da História, os estudantes são incentivados a praticar a tolerância em meio às diferenças, a adotar postura crítica diante das desigualdades sociais e dos preconceitos culturais e a defender a democracia como um modelo para lidar com as divergências no campo político.
Dentro da coleção História.doc, existe uma seção denominada “Ler documentos”.
Essa seção disponibiliza fontes históricas, sejam elas escritas ou visuais, com o objetivo de incentivar os estudantes a acompanhar as análises apresentadas e, desta forma, fazê-los refletir e compreender o trabalho de investigação realizado pelos historiadores.
As atividades de análise de texto e de imagem oferecidas nessa seção complementam e aprimoram o estudo do objeto de conhecimento abordado no capítulo.
É importante ressaltar que a celebração das fontes históricas como instrumento de análise e de compreensão das relações entre o passado e o presente está em sintonia com os objetivos propostos, na Base Comum Curricular (BNCC) para os anos finais do Ensino Fundamental.
Esses objetivos sugerem que a formação dos estudantes, nas aulas de História, leve-os a observar a diversidade, através dos conhecimentos adquiridos sobre diferentes culturas e sociedades. O que permite que eles se reconheçam como parte de um grupo social inserido em um tempo e em um espaço específico.
Abordagens microanalíticas
No ensino de História, uma abordagem microanalítica pode ser compreendida como um projeto focado em análise independente de personagens e contextos específicos ao longo da História.
Na coleção História.doc, os autores adotam essa abordagem, utilizando-a como base para o roteiro de estudos sugerido.
Em cada capítulo, é apresentado um personagem principal – seja uma pessoa comum, uma figura célebre ou até mesmo um personagem mitológico – ou um evento relacionado aos temas discutidos ou ao período em questão.
Essa abordagem microanalítica contribui para uma compreensão mais aprofundada e contextualizada dos conteúdos apresentados na coleção.
A fim de que entendamos melhor a relevância da micro-história como estratégia pedagógica no ensino, destaco as palavras de Ronaldo Vainfas:
A micro-história, na verdade, não inventa fatos, embora especule muito, passando ao leitor as dúvidas do historiador e os dilemas miúdos da pesquisa, contribuindo, por meio desse procedimento, para adensar o clima novelesco de muitos enredos. Mas, se for bem-feita, como todo trabalho de história bem-feita, a micro-história não inventa nada. Apega-se obsessivamente às mínimas evidências que a documentação pode fornecer para dar vida a personagens esquecidos e desvelar enredos e sociedades ocultas pela história geral.
(VAINFAS, 2002, p103)
Abaixo, destaco também alguns elementos microanalíticos presentes nos capítulos, nos quais personagens femininas de épocas e lugares distintos foram selecionadas para guiar a narrativa.
Coleções História.doc e Jornadas Novos Caminhos
Nesta coleção, História.doc, vários capítulos abordam a condição das mulheres em diferentes épocas e configurações sociais, destacando o papel central desempenhado por elas em momentos decisivos, como na Revolução Francesa, nos movimentos sufragistas femininos ocorridos no final do século XIX e início do século XX e no movimento feminista durante a década de 1960.
A coleção Jornadas Novos Caminhos – História, por meio da seção “Outros olhares”, a coleção promove a leitura, a análise e a interpretação de textos que oferecem diversas abordagens sobre os temas, ampliando a percepção dos estudantes sobre o mundo.
Como foi destacado ao longo deste texto, o ensino de História possui uma grande importância, e é preciso despertar o interesse dos estudantes pelo passado, mostrando como ele se relaciona com o presente.
Isso envolve distinguir nosso tempo de épocas passadas, respeitar as diferenças sem ignorar as semelhanças e compreender o significado dos conflitos pelos quais a humanidade tem passado desde o início.
Conclusão
Por último, o componente curricular de História tem a responsabilidade de explorar o processo de formação dos indivíduos e os acontecimentos históricos que moldaram as sociedades, permitindo, assim, uma compreensão do presente.
É essencial, portanto, utilizar estratégias que envolvam os estudantes no componente curricular, incentivando-os a se tornarem cidadãos conscientes e engajados com os valores de democracia, liberdade e justiça.
Referência bibliográfica:
VAINFAS. Ronaldo. Os Protagonistas Anônimos da História: Micro-História. Rio de Janeiro/RJ: Campus, 2002.