ENEM, Pós-pandemia e Recomposição das Aprendizagens
Vamos dar continuidade ao conteúdo sobre o ENEM. A expressão “recomposição das aprendizagens” não é nova. O termo, recorrente no âmbito escolar no contexto pós-pandemia, refere-se às ações que devem ser adotadas para que estudantes acompanhem as competências, as habilidades e os conteúdos programáticos esperados para cada fase de ensino.
De uma série para a outra, por exemplo, é comum que a recomposição de aprendizagens aconteça para alguns alunos.
No entanto, a recomposição de aprendizagens tornou-se ainda mais desafiadora após o fim da pandemia de Covid 19, pois foram enormes as adversidades em torno do processo de ensinar e aprender na educação básica nos meses em que as aulas presenciais tiveram de ser suspensas.
Considerando que ainda estamos passando por esse processo de recuperação do ensino e da aprendizagem, trazemos, neste texto, uma breve reflexão sobre a educação no contexto da pandemia, sobretudo no Ensino Médio, e elencamos algumas ações para colaborar com as recomposições de aprendizagem e preparar o estudante para o ENEM no contexto pós-pandemia.
Enem, pandemia e defasagens educacionais
Quem poderia imaginar que, em pleno século XXI, um vírus tão letal e de tão fácil contágio pudesse atingir a população mundial, requerendo o distanciamento social?
Inicialmente, as escolas ficaram totalmente sem aula. Em seguida, algumas comunicaram o adiantamento – para abril – das férias de julho, a fim de se adaptar à nova realidade e poder disponibilizar o ensino a distância, da Educação Infantil ao Ensino Médio.
As aulas – assíncronas, remotas ou híbridas –, é fato, quando disponíveis, são fruto de muito esforço por parte dos docentes e da mediação pedagógica.
É importante frisar que, em muitas escolas brasileiras, sobretudo de áreas mais prejudicadas economicamente, o ensino parou completamente, uma vez que a própria instituição, os docentes e/ou os estudantes não possuíam recursos tecnológicos para lidar com a nova realidade, tais como computador, internet e celular.
Também é certo que, para as instituições que forneceram aulas e tentaram seguir o programa escolar, não foi possível manter o ensino e a aprendizagem com os mesmos padrões de antes da pandemia, tampouco as dinâmicas de aulas chegaram a todos os estudantes, seja por problemas no acesso aos meios virtuais, seja por questões emocionais.
O desafio para o professor
Nós, professores, a todo o momento, compreendemos que faríamos nosso melhor, mas que, ao fim da reclusão promovida pela pandemia da Covid 19, haveria uma defasagem significativa em relação às competências, às habilidades e aos conteúdos programáticos esperados em ano escolar.
No Ensino Médio, nossa preocupação em recuperar o planejamento de aulas foi muito grande, pois, além de seguir o que estabelecem a BNCC, os currículos dos Estados e os programas dos materiais didáticos, ainda tínhamos que continuar preparando nossos estudantes para o ENEM, para os Sistemas Seriados de Avaliação, entre outros exames avaliativos para ingresso no Ensino Superior.
Assim, de 11 de março de 2020, data em que a Organização Mundial da Saúde decretou o estado de pandemia devido à Covid-19, até hoje, estamos buscando reestruturar o ensino e a aprendizagem nas escolas brasileiras, sem esquecer que essas instituições, historicamente, já possuem grandes déficits.
Neste ano de 2023, conseguimos uma maior estabilidade, porém ainda há muito trabalho na recomposição de aprendizagens.
Ao pensar nisso, consideramos que algumas estratégias podem entrar em execução, especialmente na preparação do estudante para o ENEM e outros exames avaliativos.
Estratégias para a recomposição de aprendizagens e a preparação para o Enem
No contexto de uma turma heterogênea, de Ensino Médio, que tenha enfrentado as adversidades dos tempos de pandemia, pode-se empregar as seguintes estratégias na recomposição das aprendizagens visando à preparação para o ENEM:
1. Aplicar Avaliações Diagnósticas
As avaliações diagnósticas são atividades que buscam compreender quais competências, habilidades e conteúdos curriculares os estudantes dominam, quais saberes estão em processo de construção e quais ainda não foram construídos. É possível, por meio dessas avaliações, dar um retorno aos alunos, preferencialmente através de pareceres, e não de notas.
Mas, certamente, é o professor quem mais ganha com esse instrumento de avaliação, já que, por intermédio dele, pode compreender quais assuntos irão demandar mais ou menos atenção e, com isso, planejar as aulas de modo mais direcionado às necessidades da turma.
2. Analisar Continuamente o Desempenho
A análise do desempenho dos estudantes deverá ser feita no início dos trabalhos, ou seja, no começo do ano letivo, com a avaliação diagnóstica. Mas também esse processo de observação do aluno deve ser realizado continuamente, considerando, inclusive, a postura na sala de aula, a elaboração das atividades e os resultados atingidos, por exemplo, nas atividades não obrigatórias.
3. Ter Metas Claras
As competências, as habilidades e os conteúdos que são esperados do estudante devem estar bem claros para ele. É preciso mediar esse contato dos estudantes com a Matriz de Referência do ENEM, por exemplo, evidenciando o que será exigido dele como saber adquirido ao longo dos anos de escolaridade. Ciente do que o espera, o estudante, certamente, se sentirá mais seguro.
4. Priorizar Aprendizagens Essenciais
O programa previsto para o Ensino Médio é bastante extenso, bem como os conteúdos da Matriz de Referência do ENEM e os assuntos cobrados nos Sistemas Seriados de Avaliação, entre outros exames avaliativos. Sendo assim, é importante priorizar os conhecimentos que serão mais relevantes para a vida do estudante e para a elaboração dos exames.
No caso das avaliações externas, por exemplo, há assuntos que aparecem com mais frequência que outros. Portanto, é necessário que esses recebam maior atenção.
5. Inserir Dinâmicas que Engajem Mais
Não é fácil manter estudantes adolescentes motivados e envolvidos com as aulas, mormente em tempos de grande participação das tecnologias nas nossas vidas, de velocidade na produção e recepção de conhecimentos. Portanto, é essencial planejar aulas com dinâmicas que chamem a atenção dos alunos e mobilizem sua participação.
Algumas metodologias que podem ser realizadas em sala e que propiciam um envolvimento maior por parte dos estudantes são:
- rotação por estações,
- sala de aula invertida,
- investigação científica,
- aprendizagem por projeto
- e aprendizagem por problemas.
6. Envolver os estudantes no planejamento
Um dos modos de engajar os estudantes é envolvê-los no planejamento das aulas, escutando suas ideias e os dando responsabilidades na gestão do próprio conhecimento.
7. Planejar a aprendizagem de modo flexível
É preciso que o docente esteja aberto a mudanças na programação. Os conteúdos podem ser ministrados em mais ou menos tempo do que se tinha pensado no planejamento inicial. O importante é respeitar o tempo de aprendizagem dos alunos. Acontece também de alguns assuntos que não estavam no planejamento ter uma retomada para facilitar outras aprendizagens. Revisar é preciso e faz parte do processo.
8. Formar grupos estrategicamente
Segundo a Pirâmide de Aprendizagem de William Glasser, o método mais eficaz para solidificar o conhecimento é ensinando a uma outra pessoa. Assim, uma estratégia para adoção pelo docente é formar duplas ou grupos de estudantes com diferentes níveis de compreensão e de dificuldade, em que aquele que domine mais o conteúdo ensine para o colega. O ganho será mútuo.
9. Apoiar Individualmente
Este, certamente, é um dos métodos que propicia maior e mais célere recuperação das aprendizagens. Como já afirmado, é essencial compreender, a partir da avaliação diagnóstica e das avaliações processuais, as lacunas de conhecimento de determinado(s) estudantes(s) para poder agir sob a demanda específica dele(s).
Esse atendimento personalizado não é simples, pois demanda tempo e dedicação. Porém, é bastante exitoso.
10. Realizar Simulados Regulares
É interessante que haja a aplicação frequente de Simulados para o ENEM, a fim de familiarizar os alunos com o formato da prova e avaliar seu progresso. Tal método também ajuda a reduzir a ansiedade em relação ao exame real. Mas, para se ter esses benefícios, deve-se organizar bons simulados.
No texto “Como preparar Simulados para o ENEM”, você poderá encontrar algumas orientações para a elaboração e aplicação dos Simulados.
11. Trabalhar com Material de Qualidade
Livros didáticos ou acadêmicos, conteúdos da internet (notícias, reportagens, podcasts, publicações de redes sociais), vídeos e materiais suplementares precisam ter boas referências e serem de boa qualidade. É importante lembrar também que os materiais do ENEM disponibilizados pelo Inep, como a Cartilha do Participante de Redação, têm orientações bem consistentes, claras e precisas, tornando imprescindível a sua leitura e/ou consulta.
12. Estimular o Pensamento Crítico
Este é o papel principal da escola: estimular reflexões críticas por parte dos estudantes. Com isso, o estudante desenvolverá suas habilidades para analisar a realidade de modo consciente, buscando resolver problemas do cotidiano com os conhecimentos disponibilizados pela escola. Isso não é importante apenas para a elaboração das provas, mas, sobretudo, é essencial para a vida.
Conclusão
A adoção dessas estratégias é parte de um processo contínuo, cujos resultados podem não aparecer com brevidade, mas as práticas visam a saberes efetivos e à preocupação emocional com os alunos.
Assim, possivelmente, as aprendizagens vão se consolidar, recupera-se a defasagem estabelecida nos tempos da pandemia e resulta em êxito atual nos exames avaliativos, a exemplo do ENEM.