Como funciona o empreendedorismo social?
Bem e mal, bom e mau, certo e errado. Dicotomias e contradições são características da sociedade, seus fenômenos e construções desde o início da história humana. O mundo contemporâneo, entretanto, tem uma característica possivelmente ainda mais singular: elas convivem e convergem ao mesmo tempo, imiscuindo-se entre si, à vista de todos.
A possibilidade de comunicação praticamente simultânea entre pessoas das mais diversas localidades possibilitada pela internet deixa todas essas dúbias características ainda mais visíveis. O mundo corporativo traz inúmeros exemplos disso e um deles é o do empreendedorismo.
Ao mesmo tempo que conversa com conceitos como proatividade, iniciativa, criatividade e inclusão, também sinaliza para o retrocesso relativo a direitos trabalhistas já assegurados. É o chamado ônus da liberdade, digamos assim.
Conceitos complexos demais para serem trabalhados em sala de aula? Talvez se pensarmos apenas deste ponto de vista. Para estudantes de várias turmas e instituições de ensino, entretanto, um conceito pode ser mais adaptável: o do Empreendedorismo Social.
Empreendedorismo Social: Desenvolvimento Sustentável
Antes de iniciar o tema Empreendedorismo Social, é importante relacioná-lo a outro a que está diretamente interligado: desenvolvimento sustentável.
Um desafio que se tornou parte integrante de nossa rotina cotidiana devido a um fato inegável: a escassez crescente de recursos naturais para atender às necessidades de uma população global que já ultrapassa 8 bilhões de pessoas.
E que envolve, ainda, a necessidade de enfrentamento de desafios sociais importantes a fim de se garantir direitos humanos essenciais para estas pessoas em sua totalidade e diversidade.
Por este motivo, a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu, em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), composto por 17 metas a serem alcançadas até 2030, sendo os ODS 8 e 12 relacionados, direta ou indiretamente, ao empreendedorismo.
ODS 8
Trabalho decente e crescimento econômico. Em relação a ele, são indicadas metas que entendem o trabalho como origem do valor das economias das pessoas, além de seu sustento e de sua dignidade.
Prevê metas como aumento de produtividade em setores de mão de obra intensiva, proteção dos direitos trabalhistas, emprego produtivo e decente e a promoção de políticas de desenvolvimento que apoiem a geração de emprego, crescimento das micro, pequenas e médias empresas.
É neste instante que entra a contradição mencionada no início do texto e em que a palavra “empreendedorismo” aparece quase como mágica por trazer consigo possibilidades de ganhos ilimitados e fuga do desemprego.
ODS 12
Lembra da questão da escassez crescente de recursos naturais para atender às necessidades de uma população global que já ultrapassa 8 bilhões de pessoas? O ODS 12 está diretamente assegurado a ela, pois visa assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
Em relação à alimentação, envolve modos de produção que causam impactos mínimos no ambiente, sem a destruição de florestas ou uso indiscriminado de pesticidas, procurando evitar o esgotamento do solo e a poluição e valorizando a colheita de alimentos mais saudáveis e nutritivos.
E qual a relação destes conceitos com o empreendedorismo? O do tipo Social busca, justamente, desenvolver produtos e serviços que impactem a sociedade, ajudando a solucionar os problemas enfrentados por ela, a exemplo dos mencionados acima.
Mas o que é empreendedorismo social?
Na definição clássica de Schumpeter (1985), explicitada no nosso Caderno Pedagógico n° 5, empreender é provocar mudanças em um mercado, setor ou território a partir da inovação, seja pela introdução de um novo produto ou pela melhoria de um processo.
E, ao contrário do que possa parecer a princípio, uma tarefa não necessariamente destinada a milionários ou super-heróis. Bem o oposto disso, na verdade. De acordo com pesquisa do Sebrae (2022), no Brasil de hoje, quase metade dos empreendedores possui uma renda mensal de até um salário mínimo e 90% deles não possuem funcionários.
Empreendedorismo social: o que é
Diferentemente do clássico, este tipo de empreendedorismo não possui, necessariamente, o lucro como prioridade (embora também possa estar almejado). Não é, portanto, obrigatoriamente, uma iniciativa sem fins lucrativos.
A diferença é que o objetivo e valor dela estão mais relacionados aos benefícios transformadores em maior ou menor escala para toda a sociedade ou segmento, geralmente os mais desfavorecidos.
O termo ganhou força no Brasil a partir da década de 1980, quando surgiram as primeiras iniciativas que conciliavam valor econômico com impacto socioambiental. A partir daí houve, consequentemente, a ampliação das discussões de conceitos como terceiro setor, sustentabilidade e investimento social privado.
No mundo atual, o empreendedorismo social está mais relacionado à ideia de desenvolvimento sustentável e inclusivo, que concilia o desenvolvimento das sociedades com o respeito aos limites do planeta.
Empreendedorismo Social nas escolas
Em 2018, a reforma das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio de 2018, conhecida como Novo Ensino Médio, posicionou o empreendedorismo como um dos quatro eixos estruturantes dos itinerários formativos, complementares à formação geral básica.
Isso porque contribui para o desenvolvimento de competências para além do campo pedagógico como curiosidade, empatia, pensamento crítico, responsabilidade, trabalho em equipe, dentre outras.
A definição de empreendedorismo social também passa pela compreensão de aspectos históricos, culturais e sociais. Isso de forma a colaborar com uma ainda maior ampliação do arsenal de conhecimentos dos estudantes nestas áreas.
Empreendedorismo dentro e fora da sala de aula
Adaptando à realidade de cada instituição de ensino e aos níveis das turmas, podem-se trocar informações a respeito desse tipo de temática a partir de algumas práticas:
- estudo de caso: análise de situações reais sobre as quais os estudantes são convidados a expor suas opiniões. Podem opinar a respeito das estratégias adquiridas e sugerir possíveis outras soluções.
- palestras com empreendedores: a escola pode receber pessoas que possam falar sobre a gestão de um empreendimento;
- visitas a empreendimentos: estar, in loco, analisando o funcionando de uma instituição com foco no empreendedorismo social pode ser estímulo para a criatividade e um exemplo para a vida.
- pesquisa e extensão: fazer, ainda que simuladamente, seu próprio projeto de empreendedorismo social na escola pode estimular habilidades de gestão, empatia além de ajudar a identificar e atender necessidades e oportunidades do coletivo.
Atividades práticas
Brincar de mercadinho ou venda e, mais à frente, efetivamente comercializar brigadeiro ou doces na escola não deixam de se configurar como as primeiras inserções no empreendedorismo.
Nas instituições de ensino, entretanto, é preciso que estas atividades estejam cercadas de limites, possibilidades e regras. Para funcionar mais como cenário de desenvolvimento de competências variadas, em práticas de aprendizagem, para o empreendedorismo propriamente dito.
As atividades de empreendedorismo na escola podem ser adotadas, considerando-se alguns requisitos, tais como:
- Ter como referência, para os estudos de caso, empreendimentos e empreendedores da própria comunidade escolar.
- Demonstrar, por meio dos exemplos escolhidos, o potencial de empreendimentos coletivos, como cooperativas e associações.