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Começando o Ano com a Avaliação Diagnóstica

5 de fevereiro de 2025
E-docente

A avaliação faz parte das práticas escolares e disso todos sabem. O que, por vezes, esquecemos é que as avaliações podem ser aplicadas em vários momentos, servir a vários propósitos (não apenas dar nota aos estudantes) e ter várias formas. É possível, por exemplo, que essa prática seja inserida logo no início do ano letivo, visando a uma compreensão sobre os conhecimentos prévios dos estudantes, para que o planejamento das atividades escolares seja adaptado às competências e habilidades já desenvolvidas pelos discentes e esteja em consonância com novos objetivos de aprendizagem. A essa prática escolar damos o nome de avaliação diagnóstica, sobre a qual falaremos neste texto, defendendo os benefícios da sua realização no início do ano escolar e trazendo ideias de como ela poderá ser feita. 

O que é uma avaliação diagnóstica? 

A avaliação diagnóstica é um instrumento pedagógico muito importante para compreender as habilidades e as competências que já foram adquiridas pelos(as) estudantes em períodos anteriores, a fim de construir novos caminhos de aprendizagem, em que se possa trabalhar em cima do conhecimento prévio apresentado pelo discente e dar maior atenção às suas necessidades.  

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Por exemplo, ao saber que os estudantes já dominam determinado conteúdo, o professor pode otimizar o tempo de aula, sem precisar se deter a assuntos que eles já dominam. Por outro lado, pode retomar conteúdos essenciais que já foram discutidos, mas cujo conhecimento não foi consolidado pela turma. Em síntese, o professor adapta sua prática e ajusta o ritmo de aula ao perfil apresentado pelo grupo-classe na avaliação diagnóstica.  

Estamos nos focando na avaliação diagnóstica para o início do ano letivo, mas ela pode ser realizada em outros momentos, no início de outros ciclos, sempre com o objetivo de fazer uma diagnose do que foi aprendido e ter informações que possam embasar os próximos passos.  

Cabe destacar que a avaliação diagnóstica serve mais para o professor do que para os alunos. É certo que ela pode desvelar para o estudante como anda seu desempenho. Porém, mais do que isso, servirá para orientar o planejamento docente, de modo que os discentes tenham suas necessidades específicas atendidas.  

A avaliação diagnóstica pode ser aplicada com alunos(as) de qualquer fase de ensino, da Educação Infantil ao Ensino Médio, ou mesmo nos cursos que vão além da educação básica. O importante é que seja realizada de modo a constatar pontos fortes e pontos de dificuldade por parte dos estudantes no conteúdo que se quer explorar.  

Vejamos, pois, algumas ideias de avaliação diagnóstica. 

Como fazer uma avaliação diagnóstica? 

A avaliação diagnóstica pode ser realizada através dos seguintes instrumentos: 

  • registro de observação 
  • produção escrita 
  • resolução de questões objetivas 
  • atividade prática 
  • atividade coletiva 
  • entrevista 

A avaliação através da observação é bastante utilizada pelos(as) docentes da Educação Infantil, que sistematizam em relatórios de desenvolvimento ou portfólios, por exemplo, os registros dessas observações. Nessa avaliação diagnóstica, através de um olhar cuidadoso sobre as ações das crianças, os(as) professores podem identificar os marcos de desenvolvimento que já foram atingidos e os que precisam de maior estímulo.  

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Uma atividade de produção escrita, no início de um ciclo, pode ser realizada por estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Nesses casos, é importante que o(a) professor(a) faça solicitações aos estudantes condizentes com conteúdos com os quais já tiveram contato anteriormente, seja em relação ao formato do texto ou à temática abordada. Por exemplo, no início do ano letivo, um(a) docente do componente curricular de História pode solicitar que os(as) alunos(as) produzam um texto sobre “O Período Colonial Brasileiro”, tendo em mente que esse assunto foi visto no ano anterior. 

Como professora do Ensino Médio do eixo de Produção Textual (componente curricular de Língua Portuguesa), costumo solicitar a produção de uma redação dissertativo-argumentativa acerca de um tema brevemente trabalhado em sala. É importante salientar que, no ano anterior, os estudantes já estudaram as características estruturais desse gênero; estaria, portanto, solicitando algo próximo ao universo deles. Quanto à temática, escolho algo que esteja em ampla discussão na atualidade e que possa debater em sala antes da elaboração escrita. Assim, os(as) alunos(as) produzem o texto sabendo que se trata de uma avaliação diagnóstica e que não receberão nota por essa atividade, mas, sim, um parecer descritivo sobre o seu desempenho, destacando aprendizagens que estão consolidadas e outras que necessitam de um maior investimento.  

A avaliação diagnóstica também poderá ser feita através de questões objetivas, como as de múltipla escolha. Nesse caso, a elaboração ou seleção das questões deverá contemplar conteúdos que foram vistos pelos estudantes, o que pode demandar um pouco mais de tempo se quiser elaborar/selecionar enunciados que abarquem de forma mais completa os assuntos, com diferentes níveis de dificuldade. Também demandará mais tempo a elaboração das questões se as respostas possuírem distratores de variados tipos (lembrando que distratores são alternativas de respostas erradas em uma avaliação). Porém, a aplicação de uma avaliação com questões objetivas é um instrumento pedagógico que tem uma grande vantagem: tornar célere a sistematização de dados por parte do(a) professor(a), já que há respostas específicas previstas. A partir das respostas dadas pelos estudantes, o docente poderá observar quais foram os acertos mais recorrentes e os erros mais comuns, organizando seu planejamento de aulas com base nesses resultados.  

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Na sistematização desses dados, se forem utilizados alguns recursos tecnológicos, é possível a identificação (quase) imediata de padrões, com os quais se podem formar tabelas, gráficos e porcentagens, para registro e análise, com o intuito de identificar problemas e poder implementar melhorias estrategicamente direcionadas.  

A avaliação diagnóstica pode se dar também por meio de experimentos, realização de pequenos projetos e encenações, ou seja, atividades práticas. Obviamente, essas atividades devem ser bem planejadas, de modo a constatar habilidades e competências já adquiridas pelos discentes. A grande vantagem desse tipo de avaliação é a possibilidade de o processo avaliativo se desenvolver de forma interativa e lúdica, por meio do qual o estudante pode constatar, ele(a) mesmo(a), os conhecimentos que já domina. Como se trata de uma diagnose que ajudará o(a) docente nos próximos passos, é necessário ter cuidado para que essa atividade não se estenda demais e que ela tenha critérios que tornem a avaliação possível.  

Outro instrumento avaliativo que sugerimos neste texto é a entrevista. O(a) docente poderá conversar com os estudantes, fazendo perguntas diretas ou indiretas sobre assuntos que já foram vistos, de modo a perceber se recordam alguns conteúdos e se determinadas aprendizagens já foram construídas. O(a) professor(a) deverá, assim, fazer o registro das perguntas e das respostas. 

Todos esses instrumentos avaliativos acima citados podem ser aplicados de forma individualizada ou coletiva. Mas, neste caso (modo coletivo), vai requerer que o(a) professor esteja mais atento aos estudantes, para conseguir diferenciar, por exemplo, aqueles que conseguem cumprir determinados comandos e os que ainda não consolidaram alguns conhecimentos.  

Outras orientações a respeito da aplicação da Avaliação Diagnóstica 

Para aplicar uma avaliação diagnóstica, antes de tudo, é necessário um bom planejamento: pensar no instrumento que melhor se adequa ao grupo-classe e aos objetivos da diagnose; considerar as competências e habilidades que visa analisar; elaborar critérios de avaliação; ter em mente como os resultados serão apresentados aos estudantes, aos responsáveis e à escola (ou se servirão apenas para uma base de dados do(a) professor). 

Com tudo planejado, o próximo passo é conversar com a turma, explicar como se dará a avaliação, quais seus objetivos, quais os critérios analisados, como serão (se serão) apresentados os resultados. O essencial mesmo é deixar claro que esse é um recurso importante para o planejamento das aulas, de modo a trabalhar com a turma levando em conta suas particularidades.  

Após a aplicação da avaliação diagnóstica, é chegada a hora de analisar os resultados, o que será mais rápido e consistente se os critérios tiverem sido bem formulados. 

Na minha experiência, já mencionada acima, os critérios são relativos a: atendimento à norma padrão, adequação ao gênero, correspondência à temática, autoria, organização e profundidade da argumentação, emprego de repertório sociocultural, coerência, coesão e proposta de intervenção. Minha análise, portanto, fundamenta-se nesses pontos, com observações já previamente estruturadas sobre essas questões, mas que vão ganhando o contorno das características apresentadas por cada estudante. Ou seja, como não dou nota e sim elaboro pareceres sobre a produção diagnóstica, há estruturas frasais que são típicas nos pareceres, mas que vou adaptando conforme as especificidades apresentadas pelos estudantes em seus textos. 

Segue um exemplo de um parecer elaborado por mim após a aplicação de uma avaliação diagnóstica: 

O texto de José (nome fictício) apresenta a divisão estrutural típica do gênero redação dissertativo-argumentativa: introdução, desenvolvimento e conclusão. Os conteúdos explanados são pertinentes ao tema e a argumentação está apropriada. No entanto, o repertório sociocultural da introdução não está apresentando relação de sentido com a tese (a qual, inclusive, deve estar mais clara). É preciso pontuar também que todos os parágrafos devem se estruturar de modo mais organizado, a fim de oferecer maior fluidez à leitura e profundidade à reflexão crítica. Os desvios relativos à norma-padrão são poucos e não interferem nos sentidos do texto. Porém, é importante notar a construção do primeiro parágrafo de desenvolvimento. Quanto à coesão textual, não há problemas significativos. A proposta de intervenção, por sua vez, precisa ser revista, principalmente, em sua coerência quanto ao agente e ao tipo de ação indicada. No aspecto atinente à apresentação textual, o estudante pode evitar rasuras e alinhar mais seu texto à margem direita.  

Em posse dos resultados da avaliação diagnóstica, é chegada a hora de retomar o planejamento das aulas, a fim de adaptá-lo às necessidades dos estudantes. Se a diagnose aponta para uma dificuldade maior da turma na utilização do repertório sociocultural no texto, por exemplo, é cabível que o docente invista mais tempo nisso. Todavia, se isso for algo pontual de determinado aluno, é possível que haja um acompanhamento individualizado nesse sentido, e com o grupo-classe o tempo seja otimizado nesse tópico.  

Enfim, os objetivos de aprendizagem, a metodologia utilizada, as atividades aplicadas e o material selecionado para os estudantes podem levar em consideração o resultado da avaliação diagnóstica, o que trará muitas vantagens. 

Conclusão 

Recomendamos, pois, a aplicação da avaliação diagnóstica no início do ano letivo, uma vez que, a partir dela, em síntese, é possível compreender como anda a aprendizagem dos estudantes em determinados conteúdos, reconhecer o domínio de determinadas competências e habilidades, entender pontos de fragilidade e pontos fortes, além de identificar áreas de melhorias. Com os resultados de uma avaliação diagnóstica, o docente pode fazer ajustes no seu planejamento de aulas, investir mais em alguns métodos, introduzir novas estratégias de aprendizagem, personalizar o ensino, buscar práticas mais assertivas e otimizar o tempo em determinados assuntos. As aulas, portanto, tendem a ficar mais atrativas para os estudantes (que não se sentirão perdendo tempo com conteúdos que já dominam) e mais significativas para os docentes (que poderão atuar nas necessidades específicas e verão de modo mais claro o resultado do seu trabalho).  

É fundamental lembrar que, ao longo do ano, as avaliações trarão indícios de como anda o processo de ensino-aprendizagem e que, a todo momento, as aulas podem passar por ajustes teórico-metodológicos, sempre visando à formação integral dos estudantes.  

Minibiografia do autor

Shenia Bezerra é mestre em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com pesquisas acadêmicas na área da Linguística Aplicada, tendo como maior interesse a produção do texto escrito na Educação Básica. Há 13 anos, é professora do Ensino Médio na rede privada de ensino da cidade do Recife, onde ministra aulas do componente curricular de Língua Portuguesa, sobretudo do eixo de Produção de Texto.

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