Amorosidade e tecnologia como parceiras na educação
Como a tecnologia e a amorosidade podem ser parceiras da educação? O sistema educacional do mundo todo teve um baque sem precedentes em 2020. Todos os setores que regem as engrenagens e que fazem os países funcionarem ficaram de “mãos atadas” por não saberem o que fazer.
No Brasil, não foi diferente. No âmbito educacional, as aulas foram suspensas e muitas instituições precisaram recorrer a recursos digitais, para amenizarem os efeitos da pandemia.
O ensino remoto foi a tônica do momento, mas não conseguiu atender da mesma maneira a todas as crianças e jovens brasileiros, por conta das desigualdades de diversas naturezas, sobretudo, a econômica.
Uma transição repentina para o ensino a distância perturbou a educação, o que gerou uma diminuição em se ofertar um melhor ensino, consequentemente, melhor aprendizagem, reforçando ainda mais as já elevadas desigualdades de aprendizado no Brasil. Muitas instituições de ensino se tornaram “digitais” do dia para a noite e uma grande insegurança se instaurou.
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Tecnologia, novos formatos, novas aprendizagens
Gestores, docentes, alunos e pais, que até pouquíssimo tempo estavam habituados com metodologias 100% presenciais, precisaram se adaptar aos novos formatos, além de buscarem o trato com o “manuseio tecnológico”. Todas as dificuldades oriundas da pandemia fizeram com que repensássemos alguns pontos frágeis situados na Educação, não só de agora, dos quais destacamos:
1) Professores e alunos necessitam de maior letramento digital para que a tecnologia seja uma aliada nos processos de ensino e de aprendizagem.
2) É preciso pensar em aproximar as pessoas mesmo diante do “distanciamento social”. A pandemia deixou mais visível não só a fragilidade física, mas também a emocional. Desse modo, para além das tecnologias digitais, há a “tecnologia da vida”, essa que facilita, que aproxima, mesmo quando não se pode aproximar presencialmente.
Aliar essas tecnologias é uma maneira interessante para se pensar em estratégias e ferramentas de humanização. Não podemos perder o prazer e a dedicação à docência. Os alunos precisam ver sentido nas aulas e as famílias necessitam de apoio para lidar com as mudanças que foram impostas pela Covid-19. É um período devastador para as emoções de todos que integram o cenário educacional.
Amorosidade entre professor e aluno
Segundo Paulo Freire, não haverá uma educação sem a amorosidade entre professor e aluno, sem a empatia recíproca para que ambos ajudem a despertar um no outro a vontade de ser mais. “A troca de saberes de cada sujeito reforça a relação entre os saberes já existentes, ampliando assim o elo da curiosidade e, ao mesmo tempo, tornando ainda mais forte o respeito e a dignidade na autonomia do educando” (FREIRE, 1996, p. 11).”
O desenvolvimento intelectual do ser humano depende muito da liberdade. A educação não colocada como tal inibirá a criatividade e, consequentemente, limitará o saber, engessando as habilidades natas do sujeito. A experiência do educador em educar, e não impor, trará as boas consequências do aprendizado.
O poder ser, é vital para que haja melhor entendimento entre o professor e o aluno. O avanço da tecnologia, e tudo o que ela pode ainda trazer, não pode e nem deve interferir ou mesmo usurpar os direitos de ambos. É necessário entender que a tecnologia da educação deve ser uma ferramenta que integre, que sirva ao propósito de facilitar o ensino e a aprendizagem, sem desconsiderar o humano.
A falta de acesso à escola e seus problemas
Muitas crianças, por conta da pandemia, ficaram sem acesso à escola. Na infância, os primeiros vínculos são familiares: pai, mãe, irmão(s). Com a nova fase de seu desenvolvimento, é o professor que começa a fazer parte desse vínculo de afetividade por meio da relação escolar. Dessa forma, Fernandez (1991, p. 47-52) conclui este processo da seguinte maneira:
“Para aprender, necessitam-se dois personagens (ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre ambos. (…) Não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar. Com isso, [fica esclarecido] que toda aprendizagem está impregnada de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais, num processo.”
Pensando, especificamente, na aprendizagem escolar, a trama que se tece entre alunos, professores, psicopedagogos, conteúdo escolar, livros, escrita, [não] acontece puramente no campo cognitivo. Existe uma base afetiva permeando essas relações. A atuação do professor em meio a todo esse caos decorrente da pandemia, tornou-se fundamental na construção de novas abordagens.
O papel da tecnologia para a interação
Foi justamente o docente que, por meio da tecnologia digital, “adentrou” na casa dos alunos. Ele precisou se adaptar a lidar com a interface da tela e, tudo isso, requereu dele mais dedicação, mais trabalho, mais estudo. Nenhuma profissão estava preparada para essa pandemia. A partir daí, a reinvenção do mundo se fez necessária. Os professores, literalmente, “se viraram como puderam”. Fizeram buscas ativas dos alunos que não tinham aderido à nova forma de estudar.
Vale ressaltar, que essa busca nem sempre foi passível de sucesso, proporcionando nos docentes o desgaste emocional, bem como risos quando o sucesso era conquistado. Para as crianças e os jovens, ficar sem ir à escola representou uma grande perda por conta da sociabilidade. O espaço escolar é um espaço social, é lugar de trocas e de experiências. A este respeito, Almeida (1999) ressalta que:
“…imaginar a construção do indivíduo fora do meio social seria conceber a família e a escola como meios irrelevantes nesse processo. É quando a criança começa a distinguir-se do outro, que a escola assume uma importância capital para o desabrochar da personalidade infantil. (ALMEIDA, 1999, p.104).”
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Conclusão
Sabendo da importância da interação que ocorre nas escolas, vários docentes fizeram grandes esforços para tornar as aulas e as atividades online mais lúdicas.
Cartão para o dia das mães, bilhetes para o dia dos pais, experimentos científicos com materiais de cozinha, gincanas, entre outros, foram atividades corporificadas por meio de materiais que os estudantes conseguiram garimpando em suas próprias casas, mesmo diante de tantas dificuldades: barulho, internet de má qualidade, alunos sem acesso etc. Os professores tentaram fazer o possível e o impossível para minimizar os danos trazidos pela pandemia.
Que bom que a tecnologia auxiliou em tantos aspectos a manter o funcionamento da escola, ainda que em rede, ainda que, infelizmente, não tenha sido para todos. Sem dúvida, esse momento requer usar a tecnologia também em favor da empatia. Mesmo não tendo o contato presencial, tê-lo visualmente por meio da tela tem sido um alento para todos.
A tecnologia fez isso, apequenou a distância entre professores e alunos, amiudou um pouco o estresse causado pelo distanciamento social imposto pela COVID-19. Que ela se faça presente em sala de aula, como um recurso importante para o nosso crescimento como cidadãos digitais, seja, daqui para frente, o ensino presencial, híbrido ou remoto.
Referências
ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. 6º edição. Campinas- São Paulo: Papirus, 1999, p. 104.
FERNANDEZ, A. (1991). A Inteligência Aprisionada: Abordagem Psicopedagógico Clínica da Criança e sua Família. Porto Alegre: Artes Médicas.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Hilton Torres
Membro da Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil- ACILBRAS, cadeira 558, estudou Teologia no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil -STBNB, licenciado em Pedagogia, atualmente trabalhando em um projeto parceiro chamado Contos e Lendas de Pernambuco