Obras Literárias na Escola: Uma viagem sem escalas
Hoje, vamos trabalhar caminhos para que seus alunos tenham nas Obras Literárias na Escola a oportunidade de realizar uma viagem sem escalas e com itinerários dos mais interessantes.
Obras Literárias: novos futuros
Como pensar em novos futuros se nosso presente é caótico, frenético, sem tempo para pausas, cheio de demandas pessoais e profissionais? Como iniciar o letramento em futuros se ainda focamos em ações feitas no passado e que transitam em nosso presente? E como pensar em novos futuros que podem e devem dialogar com a leitura literária feita na escola e que disso resulte em elaborar perspectivas mentais pautadas na arte de narrar?
Lewis nunca se esqueceu do prazer que, na infância, sentiu ao descobrir como livros podiam servir de portais para outros mundos.
(Downing; Maudlin, 2020, p. 11).
Calma, o assunto parece complexo, e é mesmo. Vamos direto ao ponto acerca de algumas reflexões quando o assunto é leitura literária nas etapas de escolarização.
Se, na escola, ainda usamos verbos no imperativo (Pennac, 1993) quando o assunto é ler, em se tratando de leitura literária, não dá para continuar assim. Leia isso! Resuma aquilo! Faça a prova do livro!
Precisamos reorganizar as ações. Ainda fazemos provas do livro de leitura e atribuímos uma nota ao aluno? Indicamos livros que não lemos e ainda não planejamos o trabalho com a leitura literária para o ano letivo? Por que a leitura é bem recebida pelas crianças, mas encontra resistência quando estas mesmas crianças se tornam jovens estudantes?
Os desafios na leitura das Obras Literárias
Alguns desses questionamentos estão muito presentes em inúmeros espaços de aprendizagem, e precisamos pensar e falar sobre isso. Não estamos em um país de leitores, infelizmente, no entanto sempre há pequenas grandes ações sendo realizadas. E podemos também participar delas.
Vamos a algumas:
Para o teórico Daniel Pennac, seria interessante começar a leitura de alguma obra como uma espécie de brincadeira.
Por exemplo: que tal dizer ao seu leitor (dos Anos Finais ou do Médio) que ele tem o direito de não ler, que ele tem o direito de pular páginas, tem até o direito de não terminar um livro.
Por outro lado, o aluno tem o direito de reler uma obra, ou de ler qualquer coisa (piada, cartaz, legenda de Tik Tok, versículos, versos, slogan de tênis), tem o direito de ler em qualquer lugar, em voz alta. O aluno tem o direito de se calar também.
Construir novos futuros por meio da palavra usada no contexto literário é deixar fluir um direito imprescindível, já destacado pelo crítico Antonio Candido: o direito à literatura para as camadas mais pobres da população brasileira.
Escolher um livro aleatoriamente é também uma experiência, trocar livros com outros colegas é uma ação solidária e, literalmente, de “trocas” internas com o intuito de viabilizar outras “trocas” externas.
#literatura, leitura e radiografias
A fase de escolarização básica, desde a Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos, é longa, desafiadora, uma jornada não só de conhecimento com também de autoconhecimento, cuja ambiência já permite mostrar aos alunos algumas das profissões exercidas ali: a de professor, a de gestor escolar, a de bibliotecário, só para citarmos algumas delas.
Quem observa o que delas reverbera são os alunos e suas famílias. A escola, por ser um espaço destinado ao conhecimento, às vezes se esquece de sua potência, de sua pluralidade, do impacto que causa em toda sua comunidade, cidade, estado ou país.
Por isso, vemos a escola se materializar como um lugar de trocas e, com isso, pode desenhar uma radiografia rica em detalhes se for vista como um centro de inovação baseada no material mais dinâmico e diverso que existe: o ser humano.
Na verdade, com foco no imaterial, no ser humano que precisa ser e estar no mundo, ser notado, estimulado, incentivado, validado, recompensado, demandado, e livre para poder escolher caminhos e parcerias.
Ler também é inovar, ler é libertar-se de pensamentos e ações equivocadas quando o assunto é olhar para si por meio do olhar do outro, do escritor, do tema do outro, da dor ou da alegria do outro.
Somos viajantes do tempo e estamos olhando para inúmeras situações, utilizando diferentes perspectivas. A literatura é um dos equipamentos que devemos usar de modo on e off-line, no modo avião e no modo imersão.
Soluções efetivas e práticas para a leitura com as Obras Literárias
Precisamos deixar nossas salas de aulas mais atrativas visualmente, com textos dos próprios alunos, de seus admirados, de suas paixões. Precisamos mostrar a eles que outros admirados existem, que um mundo desconhecido ainda precisa ser navegado, via GPS se for o caso. Folhear apenas, analisar capas, abrir obras que escondem narrativas incríveis.
Pendure os livros em uma de suas aulas, esconda neles alguns enigmas, faça empréstimos da biblioteca ou daquela amiga que não usa mais os seus livros com tanto afinco.
Mostre a eles que há muitos espaços que falam sobre leitura e literatura. Mostre os diálogos que são travados entre cinema e literatura, entre música e literatura, entre literatura e literatura.
Apresente as convergências e divergências de jovens que falam sobre literatura e que já escrevem. Convide escritores do mundo para falarem com seus estudantes. E não precisa nem ser presencialmente, hein!
Promova uma viagem sem escalas a partir do trabalho com a leitura literária. Faça desta a rota a ser mapeada, o atalho a ser descoberto, a mina a ser conhecida e compartilhada! Todos ganham quando passam a olhar para a literatura sem julgá-la pela capa.
Referências
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ______. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
Cedac Videos. Antonio Candido: entrevista. 6 jun. 2014. Disponível em: https://youtu.be/4cpNuVWQ44E?feature=shared. Acesso em: 01 nov. 2023.
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Tradução Mary Del Priore. Brasília: Editora UnB, 1999.
DOWNING, David C.; MAUDLIN, Michael G. Prefácio. In: LEWIS, C. S. Como cultivar uma vida de leitura. Trad. Elissami Bauleo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 11.
PENNAC, Daniel. Como um romance. Trad. Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.