Como o contexto e a realidade local são contemplados pela BNCC?
Durante a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), era constante a preocupação para que o documento não engessasse os currículos escolares.
O engessamento faz com que as escolas e redes de ensino percam suas diversidades demográficas, sociais, culturais, históricas e econômicas.
Por isso, o contexto e a realidade local ganharam papéis relevantes no processo de desenvolvimento do documento.
A versão final da Base trouxe orientações sobre as aprendizagens essenciais e as competências gerais que os alunos devem desenvolver ao longo da Educação Básica.
Não há determinações sobre como as competências e habilidades são trabalhadas nas escolas e salas de aula.
Isso possibilita diferentes maneiras de implementá-la durante a construção do currículo, do Projeto Político Pedagógico (PPP) e das práticas pedagógicas dos professores.
Neste artigo, abordamos a importância do contexto e da realidade local para Base. Além disso, mostramos como esse tema é tratado no documento e maneiras de incorporar o contexto da escola no currículo.
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Importância do contexto e realidade local para a BNCC
Tratar do contexto e da realidade local na Base é importante por duas razões:
- Facilitar a adaptação das escolas e o trabalho de forma integral em sala de aula;
- Para que os alunos possam aprender de acordo com as experiências que vivenciam no seu dia a dia familiar, escolar e na comunidade.
De acordo com a professora Marcia Maria Spyer Resende, autora do artigo “O saber do aluno e o ensino de Geografia”, quando a realidade do aluno é ignorada, o conteúdo parece distante de suas vivências cotidianas, o que ocasiona um inevitável desinteresse por aprender.
A desconsideração do contexto e da realidade local nos conteúdos das disciplinas ocasionam uma série de consequências.
Uma delas é como a falta de percepção por parte do aluno sobre a relevância do assunto estudado para a sua vida.
Portanto, contexto e realidade local para a BNCC, assim como o desenvolvimento das competências socioemocionais, são essenciais para sua integral implementação.
Por isso, apesar de objetivas, as orientações são flexíveis o suficiente para que o “como” ensinar trate de forma local e individual nos currículos de cada escola e rede de ensino.
Como o contexto e a realidade local são tratados na BNCC
Com foco em resolver essa preocupação relacionada ao contexto, uma orientação fundamental da Base é que os currículos escolares adequem seus preceitos às realidades locais das escolas, de modo a valorizar seu contexto e suas características.
Na introdução do documento, por exemplo, já se destaca a indicação de que escolas e redes de ensino incorporem aos seus currículos e às suas propostas pedagógicas a abordagem de temas que afetem também a vida local:
Por fim, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora.
Base Nacional Comum Curricular
Outra forma de atender a essa inquietação é a organização das propostas da BNCC em blocos, por ano ou conjunto de anos escolares, a fim de aumentar a flexibilidade na delimitação dos currículos e das propostas curriculares.
O que possibilita o trabalho de cada etapa da Educação Básica com base no contexto das instituições de ensino e dos estudantes.
Além disso, a Base prevê que as aprendizagens essenciais e as competências gerais devem:
“assegurar aos estudantes a capacidade de acompanhar e participar dos debates que a cidadania exige, entendendo e questionando os argumentos que apoiam as diferentes opiniões”.
Para que isso seja possível, a Base entende que é preciso garantir um diálogo constante com as realidades locais.
De forma geral, a intenção da BNCC é promover a igualdade educacional.
Isto é, que todos tenham a oportunidade de ingressar e permanecer na escola desenvolvendo competências e habilidades essenciais para a vida em sociedade, mas considerando e atendendo as singularidades locais.
Como o contexto da escola deve incorporar ao currículo?
Para garantir que o contexto e a realidade local incorpore-se ao currículo escolar, sua construção deve passar por um processo coletivo e democrático, abrangendo assim a participação e a visão de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Com o propósito de possibilitar essa construção conjunta, as escolas ou redes de ensino podem criar grupos de trabalho contemplando todos os integrantes do ambiente escolar, inclusive alunos e pais, para possibilitar discussões e juntos aprofundarem e desenvolverem o novo currículo escolar.
Nesse processo, é preciso ter sempre em mãos a Base Nacional Comum Curricular, os documentos atualizados da escola — para refletir a identidade e o carisma da instituição — e as opiniões da comunidade escolar e dos professores, para garantir que suas realidades e anseios serão contemplados no documento.
A escola pode criar, por exemplo, enquetes e fóruns de discussões para reunir essas informações.
O importante é consultar a comunidade escolar e ouvir com atenção o que eles têm a dizer, pois assim garante-se que, ao implantar um novo currículo, haverá engajamento dos professores na elaboração e na implementação de novas práticas pedagógicas e dos alunos na interação e participação em sala de aula.
Quando a versão preliminar do documento estiver pronta, a escola deve analisá-lo, observando não somente a sua coerência e estrutura, mas também se as aprendizagens essenciais e as competências gerais estão contextualizadas de acordo com aspectos demográficos, geográficos, socioculturais e econômicos.
Conclusão
O contexto e realidade local são pontos fundamentais na BNCC, já que juntos tornam possível sua implementação integral. As considerações contextuais garantem o engajamento de professores e alunos ao novo conteúdo do currículo escolar.
A Base, apesar de apontar as aprendizagens essenciais e as competências gerais que todos os alunos da Educação Básica brasileira devem desenvolver, não engessa o ensinar e dá liberdade para que escolas e redes de ensino possam montar seu currículo e incluir nele aspectos referentes à identidade, ao contexto e à realidade da escola.
Com isso, as escolas e redes de ensino têm o desafio de construir currículos equilibrados, garantindo o desenvolvimento do que é proposto pela Base e a contextualização a partir de considerações sobre as características locais.
Exaltar a voz de toda comunidade escolar é peça fundamental para contextualizar o currículo dentro dos direcionamentos da BNCC.
Para entender melhor o que foi considerado no período de elaboração da Base, leia nosso material gratuito e veja as mudanças que o documento passou até sua homologação:
Como sua escola está considerando o contexto e a realidade local neste período de adequação de currículos? Conta pra gente nos comentários!