A prática de ensino de Produção de Textos por Habilidades em Língua Portuguesa
Pensar nas práticas de escrita nas aulas de Língua Portuguesa, mais especificamente, a produção de textos realizada em sala de aula no dia a dia escolar, nos faz refletir acerca do ensino sistemático da escrita.
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Saiba mais sobre o ensino de Produção de Textos por Habilidades em Língua Portuguesa
Na literatura específica sobre didatização da produção textual, encontramos três nomenclaturas para representar o ensino da escrita de textos: Composição, Redação e Produção Textual.
Prática de ensino de produção de textos: Composição
A Composição tem sua estrutura a partir de conceitos descontextualizados, onde o mais importante era juntar informações e montar um texto.
Nela, encontramos sequências embasadas na gramática tradicional, onde o erudito e o culto ganham bastante destaque, deixando de lado o diálogo com os leitores.
Prática de ensino de produção de textos: Redação
O termo Redação ficou bastante popular a partir dos anos 1950, quando a eficiência passou a ser uma prioridade.
Essa técnica segue um modelo padrão, imitando os processos de produção em massa desenvolvidos pelas indústrias que estavam em ascensão no Brasil dessa época.
Prática de ensino de produção de textos: Produção Textual
Por último e mais recente, o termo Produção Textual tem se tornado o foco das discussões. Uma vez que a linguagem ganhou novas perspectivas e essas mudanças geraram um impacto em como os conteúdos são difundidos em sala de aula.
Diferentemente da Composição e da Redação, na Produção Textual não é mais possível seguir uma técnica ou as tendências mais tradicionais simplesmente: a produção textual é interativa e discursiva.
Apesar das transformações que os documentos legais passaram nos últimos anos, o ensino da escrita de textos nas escolas continua, em muitos casos, sem despertar a reflexão do aluno sobre o próprio texto, numa perspectiva de aluno-escritor.
Por que trabalhar produção de textos escritos por habilidades?
Tendo em vista que as habilidades cognitivas de escrita estão como as especificações de competências comunicativas, são ações e operações decorrentes do plano imediato do “saber fazer”.
No que se refere ao ensino de produção textual, a depender dos objetivos de aprendizagem estabelecidos, é esperado dos estudantes o desenvolvimento de competências diversificadas quanto à criação de gêneros textuais/discursivos de diferentes tipos por meio da construção e ampliação de diferentes habilidades.
Observe, abaixo, a progressão de algumas habilidades de escrita para o desenvolvimento da produção textual de estudantes do 1º aos 3º anos do Ensino Fundamental proposto pelas Orientações Curriculares da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro:
1° ano | 2º ano | 3º ano |
Escrever textos curtos, tendo em vista as condições de produção (finalidade, gênero e interlocutor). | Produzir textos de acordo com as condições de produção (finalidade, gênero, interlocutor), utilizando recursos gráficos. suplementares (distribuição espacial, margem, letra maiúscula).Apresentar o texto com uma sequência lógico temporal (início, meio e fim; presente, passado, futuro). | Produzir textos mais longos, de acordo com as condições de produção (finalidade, gênero, interlocutor), utilizando recursos gráficos suplementares (distribuição espacial, margem, letra maiúscula). Apresentar o texto com uma sequência lógico temporal (início, meio e fim; presente, passado, futuro).Elaborar a síntese de textos lidos. |
Desde o 1º ano, início do processo de alfabetização formal, mesmo não dominando plenamente o sistema de escrita alfabética, a habilidade de escrever textos com interlocutor definido. Decorre a partir de um gênero já conhecido e com objetivos claros para a tarefa já é o foco do trabalho, que possibilita sua sistematização no decorrer dos demais anos de escolaridade.
Em síntese, a organização do trabalho pedagógico por habilidade de escrita proporciona a atuação mais específica das propostas docentes quanto às práticas de produção textual, de modo que as interferências das interações e os estágios dos processos cognitivos dos estudantes sejam valorizados, uma vez que escrever é um ato de alta complexidade.
A produção escrita como processo e não como produto
As habilidades investem na prerrogativa de que, mesmo antes de escrever formalmente, os estudantes reconhecem diversos gêneros textuais. E são capazes de distinguir quando seu professor ou professora está contando uma história, recitando uma poesia ou dando uma notícia.
Sendo a escrita um processo de construção do sujeito a partir de suas vivências socioculturais, o trabalho de escrita focado em gêneros textuais/discursivos faz-se necessário aos processos de aprendizagem da escrita, tanto para a produção de textos quanto para a compreensão leitora.
Dentro dessa perspectiva, a prática de produção escrita é vista como processo e não como um produto: a escrita deixa de ter fim em si mesmo.
Em vez de “mandar escrever redação”, em lugar de privilegiar “o que o estudante escreve”, prioriza -se o “como”, “para que” e “para quem” escreve.
Tomando como exemplo a proposta de produção textual a seguir, para alunos de ensino fundamental I e II, com o foco em textos de sequências narrativas, observa-se a correlação entre o que é sugerido ao aluno e as habilidades básicas a serem desenvolvidas e avaliadas, de maneira formativa, pelo professor ou professora:
Proposta prática
Proposta de Produção Textual “Narrativa de Ficção” ancorada a uma proposta didática de leitura do conto africano “A Lua, o macaco e o tambor”.
Que tal criar uma narrativa de ficção, a partir da lenda que você leu? Seu texto poderá envolver a Nzinga, o macaquinho e os habitantes da aldeia.
Em sua produção, deve haver um narrador observador que contará episódios vividos pelos personagens. Seu texto é lido por seus colegas e outros alunos da escola. Converse com seu professor ou sua professora e seus colegas sobre essa proposta de atividade.
Ao escrever seu texto, atente para os seguintes aspectos: utilize palavras ou expressões para indicar a sequência do que está sendo contado, como depois, logo a seguir, então etc.
Terminada a produção, troque seu texto com um colega para que ele verifique se você seguiu todas as orientações. Faça o mesmo com o texto dele. Observe principalmente os seguintes pontos:
- O leitor consegue compreender quem é esse personagem?
- As palavras estão escritas e acentuadas corretamente?
- Os parágrafos estão separando as etapas da narrativa? (situação inicial, conflito gerador, clímax e desfecho?)
Compartilhe sua produção com os outros alunos da turma. Se possível, e com a ajuda do professor ou sua professora, publique seu texto no mural da escola ou em um blog da turma ou da escola.
Para a elaboração dessa atividade por meio da mediação do professor ou professora, as seguintes habilidades de escrita serão desenvolvidas e ampliadas, numa perspectiva processual:
- Empregar, na produção de textos de base narrativa, elementos da narrativa, tais como: narrador (foco narrativo); personagem (principal e secundários) e suas características físicas e psicológicas; tempo/espaço da narrativa;
- Produzir textos de base narrativa com a estrutura adequada: – situação inicial; – complicação (conflito gerador e clímax); desfecho;
- Produzir textos, individual e coletivamente, com uma sequência lógico-temporal (início, meio e fim; presente, passado, futuro);
- Empregar adequadamente os sinais de pontuação, inclusive como marcas de expressividade;
- Reescrever o texto, levando em conta o proposto na revisão textual;
- Reler e revisar o texto produzido, com a mediação do professor e a colaboração dos colegas, visando aprimorá-lo no processo de formação autor-escritor.
Conclusão
Conceber a importância do trabalho com produção de textos por habilidades reconfigura as práticas de sala de aula no que se refere às propostas para o desenvolvimento da escrita.
Dessa forma, algumas premissas didático-pedagógicas devem percorrer pelo planejamento docente, tais como: apresentação de proposta de escrita que valorizam o que o aluno já sabe em termos de conteúdo, o que de fato será escrito, e aumentar, assim, a confiança em prosseguir nas atividades; a oferta de propostas claras e com contexto e favorecer do trabalho coletivo no ato de escrita, revisão e reescrita.
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Mario Sergio Mangabeira Junior é Mestre em Letras pela UFRRJ. Professor de Língua Portuguesa e Inglês da SME/RJ. Elaborador de material didático Rioeduca de Língua Portuguesa da SME/RJ. Atua em formação continuada na área de Metodologia de Ensino de LP e Organização do Trabalho Pedagógico. Atualmente, é Assistente da Coordenadoria de Gestão Escolar da SME/RJ.
Referência
Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Educação. Currículo – Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 2020.