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Professor de Ensino Médio: como tranquilizar o estudante para o Enem

28 de abril de 2025
E-docente
Professor de Ensino Médio: ajuda no ENEM

Para o professor de ensino médio formado há algum tempo, pode ser difícil entender toda a ansiedade sentida pelos estudantes diante da preparação para o vestibular. Com o tempo e a maturidade, conseguimos dimensionar melhor o peso daquela fase de transição do Ensino Médio para o início da vida adulta, entendendo que, apesar de sua importância, o insucesso na conquista de uma vaga na faculdade não é o fim do mundo e, no final das contas, sempre há as reclassificações e as próximas aplicações das provas.

Empatia docente diante das expectativas do Enem

Ainda assim, mesmo que de modo puramente racional, consigamos analisar esse percurso enfrentado pelos jovens, cabe exercitarmos a alteridade para auxiliá-los nessa etapa desafiadora e cercada de expectativas, ainda mais quando estamos falando sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Entendendo o surgimento e evolução do Enem

Para entender melhor o peso desse processo seletivo, temos que contextualizá-lo. Criado em 1998, o Enem, durante os primeiros anos, era utilizado principalmente como uma forma de avaliar a qualidade do ensino no Brasil, com poucas instituições de ensino superior utilizando sua nota para acesso aos cursos universitários.

Tal processo ocorria através da realização, em um único dia, de uma prova com questões de múltipla escolha e uma redação. Em 2004, com a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni), que começou a usar a nota do Enem para conceder bolsas de estudos aos estudantes, cada vez mais jovens passaram a ver no Enem uma oportunidade de ingressar no ensino superior. Se, no primeiro ano, o exame contou com 157 mil inscritos, seis anos depois, ele já contava com mais de 1,5 milhão de inscrições.

A mudança no formato do Enem e o impacto do Sisu

Em 2009, é criado o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e o Enem chega a um formato próximo ao de hoje em dia. A prova conta com 180 questões de múltipla escolha, divididas por áreas do conhecimento, e uma redação dissertativa-argumentativa, tudo sendo feito em dois dias de aplicação.

O Enem como principal porta de entrada ao ensino superior

Se, até então, cada universidade tinha seu próprio processo seletivo, gradativamente o Enem passou a ser usado como uma forma complementar, e, no caso das universidades federais, a única forma, de acesso ao ensino superior. Desse modo, chegando à atualidade, temos no Enem um dos maiores processos seletivos do mundo, com mais de 4 milhões de inscritos no ano de 2024, disputando vagas para universidades de todo o país.

Expectativas alimentadas ao longo da vida escolar

Uma vez, então, que entendemos a dimensão e a importância histórica do Enem, conseguimos entender um pouco melhor que ele já não é apenas uma avaliação pontual realizada ao final do Ensino Médio, mas um processo gigantesco que mobiliza expectativas e sonhos alimentados por muitos anos na vida de cada aluno.

A pressão das redes sociais sobre os adolescentes

Outro ponto que precisa ser levado em conta nessa equação de entendimento sobre o impacto do Enem na vida dos jovens é a profusão dinâmica de informações pelas redes sociais. Os alunos adolescentes são diariamente bombardeados por todo tipo de depoimento, opinião e orientação sobre qualquer assunto. Quando, então, o assunto é o Enem, essa quantidade massiva de comentários, sejam eles confiáveis ou não, ganha uma dimensão ainda mais assustadora.

Mitos e técnicas milagrosas sobre o Enem

Provavelmente, muitos deles já foram impactados por vídeos com dicas e macetes sobre como resolver as questões de múltipla escolha com mais rapidez ou ainda com técnicas “infalíveis” de como tirar nota 1000 na redação do Enem, produção textual que contou com apenas 12 notas máximas, dos mais de 3 milhões de textos produzidos no processo de 2024.

O papel do professor de ensino médio como agente tranquilizador

É justamente nesse mar de ansiedade que o professor que atua no Ensino Médio, principalmente na 3ª série, pode desempenhar um necessário papel de agente tranquilizador. Essa responsabilidade envolve, inicialmente, desmistificar a prova, analisando regularmente com os alunos questões do Enem e pontuando com eles como o conteúdo visto ao longo do percurso escolar costuma ser cobrado, muitas vezes, através da leitura atenta e da interpretação minuciosa dos enunciados. Isso leva o aluno a entender que a compreensão dos saberes escolares vai muito além da mera memorização de dados, envolvendo a produção crítica de relações significativas entre aqueles conhecimentos, ou seja, envolve desenvolver um olhar que extrapole os limites tradicionais das disciplinas escolares, dando mais sentido ao que é lido e discutido em sala de aula.

Contribuições interdisciplinares e repertório sociocultural

Na mediação dos conteúdos das disciplinas, o docente pode lembrar os alunos da importância do repertório sociocultural para a construção da redação.

Seja qual for o curso ao qual o aluno irá concorrer, a escrita de uma boa redação é imprescindível, logo os saberes vistos, por exemplo, em filosofia, literatura, geografia e história podem dialogar em argumentações que envolvam temas sociais de relevância nacional, como geralmente são os temas da redação.

Leia mais: A ênfase no trabalho com textos argumentativos no Ensino Médio 

Tal relação de saberes pode, inclusive, incentivar docentes de diferentes disciplinas a criar projetos interdisciplinares que auxiliem os estudantes a perceberem melhor as relações entre esses conhecimentos.

Espaços de escuta e acolhimento emocional

Nesse percurso, é fundamental também que os alunos sejam ouvidos com atenção e empatia. Isso significa deixar um pouco de lado o corrido currículo e criar momentos para que eles possam falar de modo mais espontâneo sobre seus anseios, compartilhando planos e desejos sobre a construção de suas vidas futuras.

Leia mais: Os desafios da formação do professor de Ensino Médio

Esses espaços de diálogo são importantes, pois podem promover suporte emocional aos alunos e chances da criação coletiva de estratégias para lidar com a pressão da prova.

Organização de rotina e hábitos de estudo

Outra ação que pode colaborar para tranquilizar o aluno é a promoção de uma roda de conversa sobre a organização de uma rotina de estudo, que, se realizadas desde o primeiro ano do Ensino Médio, pode ser muito benéfica para os estudantes até mesmo em suas futuras práticas acadêmicas. Essa rotina envolve desde a organização adequada do próprio material escolar à estruturação do tempo de estudo ao longo da semana, ações que podem desenvolver no aluno um senso de planejamento bastante útil na vida profissional. Considerando sempre, é claro, que essa rotina tem que ser construída de forma responsável, sem que se sobreponha ao essencial momento de lazer e descanso dos jovens.

Reforço final: o Enem é só uma etapa, não um fim

Por último, embora possa parecer redundante, cabe reforçar que “uma prova é só uma prova”, já que o resultado não representa um ultimato. Ao longo do ano, o aluno tem diversas possibilidades de reclassificação e de mudança de opção de curso, isto é, se a nota obtida no exame não for suficiente para entrar na universidade pretendida, ele pode considerar outras instituições ou até mesmo outros cursos de áreas de seu interesse, possibilidade essa que não havia antes da criação do SISU. Além disso, a nota do Enem também pode ser usada para conseguir bolsas parciais e até integrais em muitas universidades privadas de qualidade, o que expande as opções de acesso à disposição do aluno.

O papel transformador do professor de ensino médio

Sem jamais desmerecer as preocupações discentes, podemos concluir que professores que atuam com adolescentes precisam ter a sensibilidade em entender que a preparação para o Enem pode ser não só uma etapa desafiadora, mas bastante amedrontadora para muitos. Ainda assim, quando o docente demonstra segurança e acredita no potencial de seus alunos, ele ajuda a diminuir suas aflições, criando um ambiente seguro e favorável ao aprendizado de cada um deles.

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Minibiografia do autor

Com sólida formação em Letras (Português — Literaturas) pela UFRJ, Diego Domingues dedica sua carreira à pesquisa e ao ensino de Língua Portuguesa. Possui doutorado em Linguística Aplicada e mestrado em Educação, aprofundando seus conhecimentos em letramentos e em educação de jovens e adultos. Sua experiência como professor no Colégio Pedro II, aliada à sua participação no grupo de pesquisa PLELL, demonstra um compromisso com a formação de leitores críticos e engajados.

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