Para além da sala de aula: como explorar ao máximo a potência dos Espaços Não Formais de Aprendizagem?
Eu sei que você, professor e professora, sabe que processos de aprendizagem vão muito além dos limites da sala de aula e, certamente, ao longo de sua trajetória, já experienciou vivências em Espaços Não Formais de Aprendizagem, como museus, parques, centros culturais, bibliotecas e até mesmo a própria comunidade e/ou o entorno escolar. Esses locais oferecem oportunidades que enriquecem o processo educativo e conectam os/as estudantes com uma realidade que faz parte do mundo ao redor.
Por mais interessantes e envolventes que as aulas na sala regular possam ser, a possibilidade de vivências em espaços de aprendizagem externos à escola sempre desperta nos/as alunos/as grande entusiasmo. A atmosfera de novidade toma conta, e cresce na turma uma euforia diante do novo. O próprio deslocamento, por si só, já é motivo suficiente para a animação se instalar na turma e fazer com que os/as estudantes se entreguem para a proposta.
Desvendando os Benefícios dos Espaços Não Formais
É sempre importante lembrar que, dada a própria natureza diferenciada desses ambientes, com experiências práticas, interativas, envolventes e dinâmicas, o Currículo Escolar é complementado através da possibilidade de um trabalho interdisciplinar, estimulando aprendizados coletivos. Habilidades como curiosidade, senso crítico, criatividade e criticidade são estimuladas e promovem um aprendizado mais significativo e prazeroso. Além disso, os Espaços Não Formais de Aprendizagem incentivam a autonomia e a investigação, ao mesmo tempo em que aproximam a educação de aspectos do passado, presente e futuro.
Porém, para que toda essa potencialidade possa ser de fato bem aproveitada, tudo dependerá de um planejamento cuidadoso dos/as professores/as e da equipe pedagógica. É fundamental que um trabalho anterior à vivência seja realizado, preparando o alunado para o que será vivido. Além disso, o próprio roteiro da vivência precisa ser cuidadosamente delineado pela equipe da escola e pelos/as responsáveis pelos locais que os/as estudantes visitarão, de forma que os objetivos de aprendizagem sejam definidos e as estratégias ajustadas. No retorno ao espaço escolar, o resgate do experienciado é essencial para o fechamento adequado da vivência educacional.
O Antes: A Importância dos Espaços Não Formais na Educação
Falar sobre a importância do planejamento para profissionais da educação é como chover no molhado, né? Todos/as nós sabemos o quanto é essencial ter tudo muito bem alinhado com o Currículo Escolar, aos objetivos de aprendizagem para o que será vivenciado e às estratégias didático-pedagógicas. Isso não seria diferente para as atividades em Espaços Não Formais de Aprendizagem, obviamente. É necessário pensar na estruturação de um trabalho prévio com a turma, para que os/as estudantes compreendam os objetivos diante do que será vivenciado na aula externa ao espaço escolar e entendam que esse momento é destinado à aprendizagem, e não se trata de uma excursão de lazer. A proposta de trabalho para tudo o que será vivido precisa ser trabalhada dentro da sala regular, com bastante critério e rigor pedagógico.
Leia mais: Inclusão escolar e saúde mental no processo de aprendizagem
É fundamental que a equipe responsável pela atividade faça uma visita prévia ao local algumas semanas antes de sua realização, para verificar as condições reais de recepção do grupo de estudantes. Isso vale, inclusive, para locais que recebem visitas frequentes. Uma ligação telefônica, por mais prática e conveniente que seja, não oferece a dimensão necessária para garantir a qualidade do momento.
Os espaços passam por mudanças devido a inúmeros fatores, e é crucial que a equipe saiba exatamente o que os/as estudantes encontrarão. Se for um museu, por exemplo, é interessante conhecer as exposições em cartaz, compreender suas propostas e avaliar se estão alinhadas aos objetivos de aprendizagem planejados para a vivência.
Se o espaço for um zoológico, estação ecológica ou outros locais abertos, como feiras livres, praias, prédios ou bairros históricos, é importante verificar as condições climáticas, as regras específicas de cada local, os pontos para estacionamento do ônibus e mapear espaços seguros para refeições. É importante definir o que será consumido, garantir a qualidade do alimento e escolher o local apropriado para esse momento. Da mesma forma, é essencial planejar a logística para abastecimento de garrafas de água, uso de vestimentas e calçados adequados, protetor solar e boné. Orientações sobre o uso de objetos pessoais, tais como celulares, material escolar e mochilas também precisam ser discutidas.
Outro ponto importante é considerar como o deslocamento pode influenciar o aproveitamento da experiência. Deslocamentos muito longos tendem a causar cansaço nos/as estudantes e reduzir o rendimento durante a vivência. Além disso, o horário de partida e chegada na escola deve ser alinhado com as famílias, garantindo a segurança dos/as estudantes. Também é necessário considerar possíveis atrasos no trânsito e tentar estruturar um roteiro que evite os horários de pico.
Leia mais: Recomposição da aprendizagem em Língua Portuguesa: o que é? Como se faz?
É indispensável solicitar às famílias dos/as estudantes, por escrito, a autorização para participação na atividade. Nesse documento, recomenda-se incluir todas as informações que as famílias precisam saber antes do deslocamento. Esse planejamento cuidadoso é essencial para garantir que a vivência seja segura, bem organizada e aproveitada ao máximo por todos/as os/as participantes.
O Durante: Explorando a Variedade de Espaços Não Formais de Aprendizagem
Chegar ao espaço a ser visitado, com tudo bem organizado e pensado nas etapas anteriores, torna o processo muito mais tranquilo. Esse é o momento de viver a experiência com o alunado, aproveitando ao máximo cada minuto. É importante que os/as estudantes estejam equipados com o material necessário para registrar o que será vivenciado, bem como instruídos sobre o que precisam observar, questionar ou pesquisar.
Recomenda-se o uso de um caderno pequeno ou uma caderneta específica para esse momento, de forma que o/a aluno/a possa fazer anotações com facilidade. O uso do caderno regular da sala de aula não é indicado, pois, além de ser maior e mais pesado, dependendo da atividade, pode correr o risco de molhar ou ser extraviado. É fundamental reforçar com os/as estudantes a importância do silêncio para ouvir atentamente o que será dito e para seguir rigorosamente as regras de cada local.
Esse momento é extremamente rico para estimular a escuta atenta e o aperfeiçoamento de um olhar sensível sobre o que está sendo vivido. Isso deve ser incentivado sem limitar a curiosidade e a possibilidade de questionamentos durante a vivência.
Leia mais: O protagonismo do estudante no processo de aprendizagem
É importante que os docentes e a equipe pedagógica tenham em mente que visitas a locais externos à escola, especialmente em locais que possuem equipes de monitores/as, não são momentos de “descanso” da rotina de trabalho escolar. Pelo contrário, trata-se de um momento que exige cuidado redobrado, garantindo que a turma viva a experiência com segurança e qualidade.
O depois: Conectando a Escola aos Espaços Não Formais
A organização dessas vivências é sempre tão demandante que muitos professores/as acabam colocando um ponto final após o retorno da atividade, sem fazer um resgate do vivido ou explorar outras possibilidades de aprendizado com o que foi observado, vivido e/ou pesquisado.
É importante que na aula posterior à vivência, o resgate seja feito com o grupo-classe através de rodas de diálogo, leitura compartilhada dos cadernos de campo, escrita de textos a partir do experienciado, criação de cartilhas ou jornal com a produção feita pelos/as estudantes, partilha das experiências através de exposições na escola, dentre outras atividades.
Não perca a possibilidade de transbordar experiências de aprendizagem com o que foi vivido. Muita coisa pode ser resgatada, tanto em um trabalho individual como interdisciplinar ou com demais profissionais da escola, como psicólogos/as, assistentes sociais e/ou pedagogos/as.
E para concluir a experiência…
Para finalizar, destaco a possibilidade de vivências também em espaços virtuais, como visitas a museus online, participação em eventos por meio de plataformas digitais, webinars, entre outros. Há inúmeras formas de explorar tanto ambientes presenciais quanto digitais, proporcionando ao alunado experiências diversificadas de aprendizagem.
Leia mais: Caderno Pedagógico – 6ª edição
Consultar os/as estudantes sobre os locais que despertam seu interesse é uma estratégia extremamente eficaz. Muitas vezes, o alunado pode sugerir locais que não estão entre as escolhas iniciais do/a docente, mas que podem oferecer ricas oportunidades de aprendizado. Manter uma postura aberta para compreender esses interesses e explorar as possibilidades pedagógicas nesses ambientes é uma forma de tornar a experiência ainda mais significativa e alinhada às expectativas dos/as estudantes.
A preparação cuidadosa antes, o envolvimento atento durante e o resgate reflexivo depois permitem que essas vivências potencializem o aprendizado, transformando-as em oportunidades enriquecedoras de desenvolvimento para os/as estudantes. Esses momentos fortalecem a conexão entre teoria e prática, promovendo o desenvolvimento de habilidades que vão além dos conteúdos curriculares, ampliando a formação integral dos/as alunos/as.
REFERÊNCIAS
CHINELLI, Maura Ventura; DE AGUIAR, Luiz Edmundo Vargas. Experimentos e contextos nas exposições interativas dos centros e museus de ciências. Investigações em Ensino de Ciências, v. 14, n. 3, p. 377-392, 2016.
DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. C. A. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2007.
JACOBUCCI, D. F. C. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação da cultura científica. Revista Em Extensão, Uberlândia, v. 7, p. 55-66, 2008.
MARANDINO, Martha. Educação em museus: a mediação em foco. 2008.
QUEIROZ, Ricardo et al. A caracterização dos espaços não formais de educação científica para o ensino de ciências. Revista Areté | Revista Amazônica de Ensino de Ciências, [S. l.], v. 4, n. 7, p. 12-23, abr. 2017. ISSN 1984-7505.
ROCHA, S. C. B. da; TERÁN, A. F. O uso de espaços não-formais como estratégia para o ensino de ciências. Manaus: UEA Edições, 2010.
Minibiográfia do autor
Danilo de Carvalho Leandro é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É professor da UFPE desde 2016, atuando no Colégio de Aplicação da UFPE e na Pós-graduação em Ensino de Biologia do Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão/UFPE. Acumula experiência na Gestão Acadêmica, Escolar e atua como docente e pesquisador na área de metodologias e estratégias didáticas para o ensino de Ciências e Biologia. Em paralelo ao campo da educação, realiza pesquisas em Entomologia e Saúde Pública, estudando mosquitos de importância médica e arboviroses. Atualmente realiza pós-doutorado na Texas A&M University, College Station, Estados Unidos.