Saiba como o professor pode aumentar a sua produtividade: uma abordagem humana
Você que é professor, assim como eu, pode começar a ler este texto, já se perguntando: “aumentar minha produtividade??? Como fazer mais do que eu já faço? Será que teremos dicas de como aumentar o dia para 48 horas em vez de 24???”. Essa preocupação é justa. Sabemos que as demandas dos professores sempre foram enormes, dentro e fora do ambiente escolar, e parecem que só aumentam com o advento das novas tecnologias.
Fique tranquilo. A ideia aqui é justamente buscar caminhos para que consigamos nos organizar e tenhamos uma produtividade mais eficaz, até mesmo diminuindo esse ritmo tão alucinante que muitos de nós vivemos. Acreditamos que aumento de produtividade não é aumento de carga de trabalho, até porque temos uma abordagem humana, em que a educação é feita por pessoas e para pessoas, não por máquinas incansáveis que precisam apenas entregar mais e mais resultados.
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Veremos a seguir algumas dicas simples que partem de alguém com quase 20 anos de experiência no magistério. Claro, cada um tem a sua própria organização, seu próprio contexto; por isso, não pretendo trazer todas as soluções possíveis nem defender a ideia de “se eu consigo, você consegue”. Gostaria apenas de compartilhar experiências que podem ser úteis a mais pessoas que dividem comigo a vida do magistério.
Evitando o adoecimento
Antes de entrarmos na discussão sobre aumento de produtividade, é necessário fazer um alerta. Percebemos ao nosso redor professores que adoecem por inúmeros motivos e que demandam uma atenção de saúde pública que, infelizmente, não têm. O trabalho de Liciane Diehl e Angela Helena Marin (2016), intitulado “Adoecimento mental em professores brasileiros: revisão sistemática da literatura”, faz um apanhado de trabalhos científicos que investigam esse adoecimento e nos traz alertas sobre a necessidade de intervenções voltadas para o tratamento da saúde mental dos professores. Em suas considerações finais, elas destacam que:
O principal adoecimento mental investigado foi a síndrome de burnout, já o estresse, a ansiedade, o esgotamento e problemas relacionados ao sono são os sintomas que mais apareceram nos estudos com professores.
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Ou seja, a questão da produtividade precisa ser problematizada, considerando-se esse contexto, contudo não com uma preocupação voltada a torná-la mais eficaz, o que, muito provavelmente, geraria ainda mais trabalho. O foco aqui é a nossa saúde, a busca por uma melhor qualidade de vida.
Mas, então, como conseguir essa “produtividade” sem nos pressionar ainda mais no dia a dia?
Tente definir metas e organizar seu trabalho de acordo com o tempo disponível
Um ponto importante para que consigamos aproveitar melhor nosso tempo é a organização de nossas metas, dividindo claramente nosso tempo para as tarefas domésticas, para as demandas profissionais e para os momentos de lazer.
Conseguindo essa organização, precisamos ser intransigentes quanto ao seu cumprimento, já que sabemos de nossa “permissividade” para trabalhar cada vez mais, negligenciando pontos que julgamos secundários, menos importantes; aqueles que podem “ficar para depois”.
Estar bem em todas essas áreas é uma condição mínima para que consigamos ter uma melhor produtividade não só profissional, mas também na área pessoal. Tudo está interligado.
Utilize as novas tecnologias como aliadas
Quando pensamos em computadores, smartphones, normalmente nos vem à cabeça mais trabalho, já que ficamos mais tempo conectados às demandas profissionais. Porém, é possível utilizar essas tecnologias para que tenhamos menos tarefas no dia a dia (como deveria ser sempre).
Trocas de materiais com outros professores, curadoria de conteúdo digital, criação de alertas que auxiliem na organização do dia a dia, utilização da inteligência artificial no desenvolvimento de materiais específicos às suas demandas. São vários os caminhos para que não nos sobrecarreguemos tentando sempre criar material didático a partir do zero.
Busque parcerias, valorizando o trabalho colaborativo
Ainda aproveitando a questão do uso das novas tecnologias, aproveite as redes que podem ser criadas a partir delas. São muitas as parcerias possíveis, tanto com docentes quanto com discentes. Reconhecer as necessidades e as expectativas dos alunos é essencial para que consigamos traçar planejamentos direcionados a eles e, quando permitimos que os próprios dividam conosco a montagem dessas aulas, maior ainda é a chance de que consigamos atingir os nossos objetivos, além de descentralizarmos tarefas e retirarmos mais uma carga que temos no dia a dia.
Reserve um tempo para formação contínua
Na organização das suas metas, não negligencie sua formação, pois é por meio dela que você conseguirá ascender profissionalmente. Além de se aprimorar, ampliar seu conhecimento e aumentar seu salário (geralmente, há ganhos financeiros de acordo com a formação), você sentirá uma satisfação pessoal por estar se desenvolvendo academicamente. Todos esses pontos também ajudarão a aumentar a sua produtividade.
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O bom uso das novas tecnologias também auxiliará nessa formação, já que hoje em dia é possível frequentar cursos semipresenciais e buscar conteúdos on-line, que otimizam nosso tempo.
Tenha válvulas de escape
Em inevitáveis momentos de estresse que possam aparecer, busque realizar atividades que lhe satisfaçam, que lhe retirem do contexto gerador dos problemas. Pode ser um momento com a família, uma prática de esporte, um cinema, o que melhor lhe aprouver. No entanto, permita-se criar ocasiões em que você se sinta renovado, pronto para voltar à rotina, disposto a se doar e a criar as melhores condições de trabalho tanto para você quanto para os outros com quem você irá lidar.
Conclusão
Não é fácil, eu sei. Ninguém, por vontade própria, se coloca em meio a um turbilhão de tarefas, muitas vezes até adoecendo. Se existissem soluções milagrosas, todos já as teríamos adotado. Temos rotinas, e cada um sabe do que precisa para conseguir pagar as contas no final do mês. Porém, é importante ter contato com pessoas que compartilham do nosso dia a dia e que podem contribuir de alguma maneira com dicas dentro da nossa realidade, das nossas possibilidades, não com ideias mirabolantes e que não levam em conta o que acontece de verdade na nossa profissão.
Precisamos ter a noção de que não somos máquinas, respeitando nossa condição humana, nossos limites, e priorizando o que nos faz viver, não apenas sobreviver. Não podemos negligenciar nossa saúde. Atentar para os pontos trazidos neste texto, além de aumentar a nossa produtividade, poderá reduzir nosso estresse e nos fazer dar atenção a tudo que importa nessa vida, pois, além de professores, somos pais, mães, filhos, filhas, amigos. Humanos.
Referências
DIEHL, Liciane; MARIN, Angela Helena. Adoecimento mental em professores brasileiros: revisão sistemática da literatura, Estudos Interdisciplinares em Psicologia, vol.7, n.2, Londrina, dez. 2016. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-64072016000200005. Acesso em: 24 out. 2024.
Minicurrículo
Tiago da Silva Ribeiro é professor do Magistério Superior no Instituto Nacional de Educação de Surdos nas disciplinas de Língua portuguesa e Tecnologias da informação e comunicação. Tem experiência em turmas do Ensino Fundamental e Médio, além de já ter atuado na modalidade on-line como mediador, orientador de trabalhos finais de curso, desenhista educacional, professor-autor e coordenador de curso. Seu Doutorado em Letras é pela PUC-Rio e teve como tema de trabalho o Internetês. Tenta sempre aliar produtividade e humanidade, olhando atentamente para cada um como indivíduo, diferente dos outros, e que igualmente tem limites diferentes.