Qualidade de vida no trabalho do professor: novos caminhos
Como está seu dia a dia? Levantar de manhã e sair para o trabalho é uma tarefa muito difícil? Sabemos como a nossa profissão de professor nos exige dedicação, empenho, perseverança. Então, vale uma reflexão: você está satisfeito com o que faz? Descubra no texto abaixo como melhorar a qualidade de vida no trabalho do professor:
Se pararmos para pensar na vida que sonhamos quando éramos crianças ou adolescentes, lembramos de que imaginávamos uma vida de alegria no trabalho, desempenhando funções com que havíamos sonhado. Aquele “o que você vai ser quando crescer?” nos movia a partir dos nossos sonhos e, inocentes que éramos, não podíamos prever as dificuldades que a vida viria a nos impor. Mas quantos de nós somos felizes na profissão ou conhecemos alguém que o seja?
A preocupação com a qualidade de vida no trabalho vem ganhando mais atenção ultimamente, já que problemas de saúde mental têm atormentado diversos profissionais de diversas áreas. Quantos de nós temos colegas que precisam de remédios psicoterápicos em seu dia a dia? Com a intenção de ampliar a discussão a esse respeito, trazemos este texto como uma extensão do artigo escrito por mim, aqui mesmo, no Blog E-docente, intitulado Qualidade de vida no trabalho do professor: dicas úteis, o qual pode ser acessado no link contido no título.
O que estamos fazendo?
Nesse meu artigo de março, eu trago 15 pontos com os quais devemos nos preocupar em nosso dia a dia, buscando soluções que promovam uma melhora na nossa qualidade de vida. Analisando esses pontos, percebemos que temos mais controle sobre alguns, menos sobre outros. Retomando:
Então, quais dessas dicas vocês têm conseguido colocar em prática? Elas são muito fora da sua realidade? Importante ressaltar que elas vêm não para que mais uma pressão seja criada sobre o seu dia a dia, mas para que cada um as analise e veja em quais pontos é possível avançar.
Ciente de que o contexto em que cada um de nós vive cria problemas diversos e consequentes soluções também diversas, busco, aqui, trazer mais dicas em busca dessa melhoria em nossa saúde mental, principalmente, a fim de que tenhamos uma vida profissional mais próximo àquela que pensamos quando ingressamos na universidade.
Desligue do que faz mal a você
Uma coisa no trabalho docente é inevitável: a necessidade de estarmos sempre atentos ao que acontece ao nosso redor, a fim de desenvolver aulas que estejam contextualizadas e sejam mais atrativas para nossos alunos. Porém, com a infinidade de opções midiáticas que temos atualmente, precisamos nos cuidar para que a busca por informações não seja excessiva.
Parto aqui de uma experiência pessoal, mas que vejo replicada em diversos pares docentes. Muitos são os podcasts, canais de YouTube e outras mídias que nos trazem informações das mais diversas. Caso consigamos consumi-los moderadamente, ótimo; mas, se percebermos que estamos nos viciando nesses canais, é hora de parar, refletir e filtrar o que é realmente necessário. São tantas notícias ruins veiculadas, tanto nas mídias tradicionais quanto nas alternativas, que precisamos nos blindar para que não nos contaminemos com essa negatividade, que pode influenciar diretamente no nosso dia a dia pessoal e profissional.
Aceite sugestões
Outro ponto importante para que tornemos nossa vida como docentes mais leve é estar aberto a sugestões, tanto de profissionais que estejam ao nosso redor no dia a dia da escola quanto daqueles que estejam fora, mas que têm algum tipo de experiência com crianças e adolescentes (ou com pessoas que frequentam o EJA). Não centralizar toda a responsabilidade no desenvolvimento das aulas pode nos ajudar decisivamente na melhoria de nossa saúde mental e na condução de nossa profissão.
Crie parcerias com alunos
Em consonância com a dica anterior, temos aqui uma rica opção para nós, professores, que está bem à nossa frente e, muitas vezes, não percebemos. Atuar junto aos alunos, pedindo sugestões de encaminhamento dos conteúdos, pesquisando quais são os assuntos que mais os interessam, solicitando uma atuação mais ativa na construção das aulas e até na condução das mesmas será de grande valia tanto para nós quanto para eles, que estarão muito mais integrados ao que lhes é oferecido. Como pares mais experientes, agiremos como condutores do processo educacional, mediando a forma como o aprendizado ocorre e possibilitando maior autonomia entre os alunos.
Exija-se menos
Cada vez mais, por conta do dinamismo do mundo interconectado, sofremos diversos tipos de pressão, tanto pessoal quando profissionalmente, que acabam nos fazendo nos sentirmos insuficientes, incompletos. Parece que sempre estamos devendo algo e atrasados com nossos compromissos. Então, é importante que consigamos desacelerar, não deixando de cumprir nossas tarefas do dia a dia, claro, mas sem aquela exigência de sermos perfeitos, supercompletos em tudo. Sejamos compreensivos e amorosos conosco como muitas vezes somos com os outros.
Viva mais o real, menos o digital
Mensagens, propagandas, séries, estudos, trabalhos. Hoje quase tudo está presente na virtualidade e pode ser acessado digitalmente. Ao mesmo tempo que conseguimos acessar tudo mais facilmente, percebemos que não conseguimos mais viver sem essa tecnologia. Ou seja, o que nos encanta também nos aprisiona. Então, por mais difícil que seja por conta de toda a dinâmica que temos no nosso dia a dia, tente viver mais o real, aquilo que o mundo nos oferece fora das telas.
Avançam discussões sobre a importância de a educação se desconectar e voltar a dar mais importância a tarefas analógicas, com maior concentração e livre das ininterruptas notificações que cismam em roubar nossa atenção, tanto no desenvolvimento de tarefas profissionais quanto pessoais, como mostra a reportagem do link a seguir: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2024/10/09/sem-celular-na-escola-alunos-citam-crises-de-abstinencia-melhora-nas-notas-e-mais-socializacao-como-a-saida-de-um-vicio-diz-professora.ghtml. Então, essa é uma boa hora para desviarmos os nossos olhos das telas e voltarmos a direcioná-los aos outros olhos humanos.
Conclusão
Não pretendi com este texto trazer soluções infalíveis para todos, até porque cada um tem a sua trajetória e passa por dificuldades bem específicas na vida. A ideia foi tentar, com minha experiência de quase vinte anos como professor, trazer dicas de como lidarmos com percalços pelos quais passamos corriqueiramente.
Quando trabalhamos com educação, costumamos pensar muito no outro, em como ele está, se consegue aprender, se está tendo bom trato social etc. Mas, muitas vezes, esquecemo-nos de nós mesmos, da nossa saúde, do nosso bem-estar. Buscar uma melhor qualidade de vida não é egoísmo. Muito pelo contrário. Quando estamos bem, conseguimos irradiar tranquilidade, confiança, e temos a chance de chegarmos mais perto daquilo que sonhávamos quando nos perguntavam, ainda crianças, o que queríamos ser quando crescêssemos.
Referências
RIBEIRO, Tiago. Qualidade de vida no trabalho do professor: dicas úteis, Blog E-docente, 12 mar. 2024. Disponível em: https://www.edocente.com.br/blog-qualidade-vida-professor/. Acesso em: 17 out. 2024.
TENENTE, Luiza; REIS, Silvana. Sem celular na escola: alunos citam ‘crises de abstinência’, melhora nas notas e mais socialização; ‘como a saída de um vício’, diz professora, G1, Educação, 9 out. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2024/10/09/sem-celular-na-escola-alunos-citam-crises-de-abstinencia-melhora-nas-notas-e-mais-socializacao-como-a-saida-de-um-vicio-diz-professora.ghtml. Acesso em: 21 out. 2024.
Minicurrículo
Tiago da Silva Ribeiro é professor do Magistério Superior no Instituto Nacional de Educação de Surdos nas disciplinas de Língua portuguesa e Tecnologias da informação e comunicação. Tem experiência em turmas do Ensino Fundamental e Médio, além de já ter atuado na modalidade on-line como mediador, orientador de trabalhos finais de curso, desenhista educacional, professor-autor e coordenador de curso. Seu Doutorado em Letras é pela PUC-Rio e teve como tema de trabalho o Internetês. Acredita que a busca por uma melhor qualidade de vida não é apenas uma busca pessoal, mas uma condição essencial para um desempenho profissional mais eficiente.