Gerenciamento de tempo: como executar suas tarefas com eficiência
O excesso de estímulos e distrações no cotidiano dos alunos, assim como a grande diversidade de ritmos de aprendizagem e repertórios socioculturais, torna o gerenciamento do tempo em sala de aula não apenas desejável, mas indispensável para que as práticas pedagógicas ocorram de forma adequada.
Cada professor(a) traz para a sala de aula sua bagagem de experiências, metodologias de ensino, hábitos e convenções. Alguns preferem usar o quadro para sistematizar o conhecimento, enquanto outros dedicam mais tempo à exposição oral, e há aqueles que equilibram esses dois momentos de mediação. Existem professores mais metódicos, que gostam de planejar todo o percurso do ano letivo com antecedência, assim como há aqueles que preferem focar apenas nos tópicos principais de cada etapa e desenvolvê-los de forma mais espontânea, conforme as demandas de cada turma.
Embora exista uma grande diversidade de posturas docentes na organização do tempo em sala de aula, há pontos de insatisfação que parecem ser comuns a praticamente todos os professores. Muitos, ao analisarem a rotina escolar, queixam-se do excesso de conteúdos e do tempo insuficiente para abordá-los. Além disso, há também a insatisfação com o excesso de burocracia, que parece consumir preciosos minutos destinados ao ensino.
Considerando essa multiplicidade de posturas e o consenso em torno dos desafios relacionados à organização dos conteúdos no tempo escasso disponível, um ponto nos parece essencial: a busca por equilíbrio entre o que é necessário e o que é possível realizar em cada turma. Com isso em mente, ao longo do texto discutiremos algumas abordagens que devem ser desenvolvidas para evitar frustrações na organização do trabalho docente e a sobrecarga dos estudantes.
Avaliando a trajetória e evitando redundâncias
Pode parecer um movimento simples, mas a avaliação diagnóstica no início do ano letivo ou entre bimestres é uma ferramenta importante, embora muitas vezes subestimada, para analisar a coerência entre o planejamento do professor e o desenvolvimento dos alunos em relação a determinado conteúdo. Com frequência, as atividades avaliativas são vistas apenas como processos burocráticos para gerar as notas exigidas a cada etapa do ano letivo. No entanto, a avaliação diagnóstica vai além disso, permitindo ao professor traçar com mais confiança o percurso de desenvolvimento dos saberes esperados para o ano escolar, identificando de antemão as verdadeiras demandas da turma e os conteúdos que já são conhecidos.
Nas primeiras aulas de uma disciplina, antes de apresentar um conteúdo ou propor algum tipo de trabalho, é fundamental que o docente identifique o real nível de desenvolvimento dos alunos naquela matéria. Um erro comum nesse primeiro contato é presumir que a maioria dos estudantes já domina os conteúdos esperados para aquela etapa, o que nem sempre é verdade. Aplicar uma atividade básica para sondar o nível da turma e, a partir disso, planejar os próximos passos ajuda a evitar redundâncias ou antecipações equivocadas, que podem desperdiçar tempo desnecessariamente.
Os limites do currículo escolar
Vinculado a esse processo de diagnóstico, está a importância de estruturar um planejamento flexível para cada etapa do ano letivo. Antes do início das aulas, o docente geralmente já sabe com quais turmas irá trabalhar e, com base nos documentos curriculares da instituição, pode antecipar os conteúdos que deverá ministrar e se planejar para o percurso de ensino a ser desenvolvido. No entanto, em algumas instituições, o currículo acaba sendo mais uma lista de conteúdos agrupados do que um guia que realmente auxilie o trabalho do professor.
A organização desse conjunto de saberes costuma se basear em uma idealização do processo escolar, assumindo que o percurso das aulas será puramente linear, sem considerar a necessidade de revisões, retomadas, aprofundamentos ou o ensino de conteúdos anteriores que podem estar defasados na turma. Esse tipo de documento pode acabar incentivando um ensino apressado, marcado por ansiedade e indiferença à realidade dos alunos.
Leia mais: 5 cursos livres essenciais para professores e educadores
É importante lembrar que a autonomia intelectual e profissional do docente lhe permite intervir na organização curricular, adaptar abordagens, propor encaminhamentos diferentes, rever percursos e até priorizar certos conhecimentos em detrimento de outros. Uma das dificuldades em lidar com o tempo em sala de aula é partir do pressuposto de que tudo o que está, por exemplo, no livro didático ou no currículo deve ser coberto ao longo do ano, sem considerar que cada turma tem seu próprio ritmo, demandas específicas e necessidades que não podem ser limitadas por qualquer documento.
Gerenciamento de tempo em sala de aula: não se mede pelo relógio
Até agora, vimos que a abordagem inicial dos conteúdos de um componente curricular deve, prioritariamente, partir de uma compreensão da turma em que o conhecimento será mediado. Caso contrário, corre-se o risco de desperdiçar tempo valioso em atividades que podem ser insuficientes ou além da capacidade de compreensão dos alunos. Conhecer o ponto de partida antes de iniciar a trajetória é essencial.
Também vimos que, ao longo dessa trajetória, o docente deve reconhecer sua autonomia na organização dos conteúdos a serem trabalhados. A pressa desmedida para cumprir metas curriculares irreais gera apenas ansiedade e compromete o principal objetivo da escola: garantir que os alunos aprendam e se desenvolvam com qualidade.
O próximo ponto que vale a pena abordar é a organização do tempo cotidiano dentro da sala de aula. Para isso, é sempre relevante lembrar algo que todo professor, do mais inexperiente ao mais experiente, já sabe: o tempo de aula não é o mesmo que o tempo do relógio.
Planejar uma aula com eficiência significa considerar que, além do ensino de conteúdo, há uma série de ações e eventos que permeiam o tempo em sala. Os primeiros minutos geralmente marcam a transição entre professores ou a chegada dos alunos, seja de casa ou do recreio, e, portanto, é necessário levar em conta que parte desse tempo será dedicada à organização do espaço de trabalho. O mesmo se aplica aos minutos finais, frequentemente utilizados para registrar presenças, entregar trabalhos ou corrigir deveres de casa. Além disso, há os imprevistos, como falta de água, avisos da direção ou do grêmio, avaliações externas, ou demandas de outras disciplinas que acabam ocupando o tempo de uma aula subsequente.
Leia mais: Qualidade de vida no trabalho do professor: Dicas úteis
Todo esse entendimento reforça o título desta seção, já que, embora uma aula dure teoricamente 50 minutos, na prática, esse tempo pode ser bem menor.
Para contornar essas situações, o docente pode adotar práticas mais dinâmicas, como revisões de conteúdo que incentivem a participação ativa dos alunos como mediadores do conhecimento, trabalhos em grupo que otimizem o tempo de aula e permitam que mais alunos se expressem, pesquisas que antecipem conceitos necessários para a matéria a ser abordada, ou o uso de recursos tecnológicos que tornem as explicações mais envolventes. Esses são apenas alguns dos muitos caminhos possíveis para aproveitar ao máximo tanto o tempo em sala de aula quanto o tempo de estudo fora do ambiente escolar.
Respeitar o ritmo dos envolvidos é essencial
Sabemos que a escola é um ambiente complexo, permeado por inúmeras exigências e expectativas. No entanto, ao nos aproximarmos da conclusão deste texto, há um ponto que não pode ser esquecido: o respeito aos envolvidos no processo de aprendizagem, ou seja, o respeito tanto ao tempo do aluno quanto ao tempo do professor.
Práticas pedagógicas eficientes partem, como vimos, de um planejamento coerente, da flexibilidade para adaptar o currículo às especificidades do público-alvo, de um gerenciamento de tempo que leva em conta as imprevisibilidades do cotidiano e de uma abordagem dinâmica que busca otimizar os tempos de estudo disponíveis. Além disso, o respeito ao tempo de cada participante no processo de aprendizagem é cada vez mais crucial em um mundo onde todos parecem estar acelerados, mas, paradoxalmente, sem tempo.
Se a turma precisar de mais aulas para elaborar um novo conhecimento ou se o professor considerar necessário dedicar mais tempo à leitura atenta de uma obra ou ao estudo aprofundado de um tema, essas necessidades devem ser respeitadas.
Leia mais: Docência e curadoria: o novo papel do professor na gestão de materiais pedagógicos
A fugacidade do tempo moderno pode nos levar à percepção equivocada de que tudo precisa ser mais sintético, superficial e resumido, e que não se pode mais perder tempo com detalhes, escuta ou reflexão cuidadosa. Em oposição a essa visão, é importante reafirmar a relevância da escola como um espaço onde o diálogo pode ser cultivado e onde, com o gerenciamento de tempo adequado, podemos construir um ambiente formativo mais inclusivo e igualitário para todos.
Minicurrículo do autor
Graduado em Letras – Português e Literaturas pela UFRJ, possui especialização em Educação de Jovens e Adultos também pela UFRJ e em Língua Portuguesa pela UFF. É mestre em Educação pela UERJ/FFP e doutor em Linguística Aplicada pela UFRJ. Atualmente, leciona Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio do Colégio Pedro II e participa do grupo de pesquisa Práticas de Letramentos no Ensino de Línguas e Literaturas.