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PNLD literário 2023: o que são trava-línguas e dica de obra

17 de setembro de 2024
E-docente
PNLD 2023 literário - o que são trava-linguas

Já tentou dizer rápido e sem errar um trava-língua? Essas frases misteriosas são capazes de embolar até a língua mais ágil! Descubra o que são trava-línguas, por que eles são tão divertidos e como eles podem te ajudar a melhorar sua dicção. Para se divertir ainda mais, não deixe de conferir o “Armazém do Folclore”, uma obra repleta de trava-línguas e outras brincadeiras com a língua que vão te desafiar e encantar. Confira a seguir:

O que são trava-línguas?

No trabalho pedagógico com a literatura, alguns gêneros textuais costumam estar presentes em boa parte da educação básica, enquanto outros se destacam em segmentos específicos. No Ensino Médio, por exemplo, é mais comum a leitura de novelas, romances ou textos poéticos de maior complexidade; enquanto no Ensino Fundamental, prevalecem textos com maior apelo lúdico, como parlendas, mitos, lendas e, ponto central deste texto, o trava-línguas. 

Um trava-línguas é um texto de curta extensão, que utiliza palavras e expressões específicas para tornar sua leitura propositalmente mais desafiadora. Esse gênero textual se assemelha muito a um jogo verbal, no qual a dificuldade reside exatamente em proferir sequências de fonemas muito parecidos, organizados por meio de rimas e pela repetição de consoantes e vogais iguais em boa parte das palavras que compõem a expressão. Dentre os trava-línguas mais populares, sem dúvida, temos as orações ” o rato roeu a roupa do rei de Roma” ou ainda “três pratos de trigo para três tigres tristes”. 

Os trava-línguas são um gênero muito associado ao repertório da cultura oral de um povo, às vezes em diálogo com o folclore de determinada região, assim como ocorre com mitos e lendas, ditados populares, parlendas ou adivinhas. 

Justamente por esse modo de transmissão oral, difundido de geração a geração, não é possível identificar a autoria original desses textos nem a localidade ou época exata de seu surgimento. Ainda assim, podemos afirmar que a engenhosidade por trás de cada trava-línguas reflete a criatividade humana em sempre explorar as possibilidades linguísticas de que dispõe além da mera comunicação trivial. 

Uso Conotativo do idioma

No uso conotativo do idioma, empregado na composição dos trava-línguas, podemos destacar algumas figuras de linguagem muito recorrentes em composições poéticas. Entre elas, as aliterações, em que há repetição de sons consonantais; das assonâncias, em que o fonema repetido é o vocálico; ou nos usos de paronomásias, com o uso de palavras parecidas, mas de sentido distinto; e de homonímias, com palavras escritas da mesma maneira, mas de significados diferentes.  Todos esses recursos costumam ser usados para ampliar o valor expressivo do texto e, consequentemente, no caso dos trava-línguas, aumentar a complexidade da leitura. 

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Já que os trava-línguas são gêneros textuais de dimensão reduzida, mas que podem carregar um alto nível de dificuldade, a depender dos múltiplos recursos linguísticos utilizados em sua composição, podemos, então, afirmar que sua exploração no contexto pedagógico tem todas as possibilidades para ser muito proveitoso, principalmente com alunos mais jovens. 

Língua Portuguesa: o uso de trava-línguas nos Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental

Tanto nas etapas iniciais do Ensino Fundamental, quanto nas etapas finais, o trabalho com trava-línguas pode ser uma oportunidade para que o estudante desenvolva sua atenção ao texto oral, sem depender do suporte escrito, aprofundando sua percepção aos fonemas de realização semelhante. Principalmente na etapa inicial de alfabetização, em que os alunos ainda costumam confundir a representação gráfica dos fonemas, cometendo trocas de letras na produção escrita, a leitura e declamação de trava-línguas pode trazer mais leveza para um momento que, muitas vezes, é cercado por ansiedade e pressa por parte daqueles que desejam rapidamente dominar o sistema escrito. 

Além do trabalho com a oralidade e o estímulo à consciência fonológica, é importante registrar os trava-línguas por escrito. Isso pode incentivar a turma a levantar hipóteses e colaborar na escrita coletiva mediada pelo(a) docente. Posteriormente esse texto pode ser colocado em um local acessível na sala de aula, para que todos possam consultá-lo e comparar as representações gráficas das palavras já reconhecidas com aquelas que ainda estão aprendendo. 

Pelo seu caráter muito próximo da cultura folclórica, as práticas envolvendo trava-línguas também possibilitam a realização de atividades de pesquisa sobre as diferentes manifestações culturais das regiões geográficas que compõem o Brasil, possivelmente com investigações sobre quais produções poéticas são mais populares em cada localidade. Dependendo do nível de letramento dos estudantes, uma proposta de produção textual de trava-línguas pode engajar os alunos em torno de uma atividade que exigirá bastante criatividade. 

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Esses textos podem ter um tema comum para facilitar a coesão entre as produções e, posteriormente, serem expostos em locais de grande circulação da escola, complementando murais que abordam a riqueza das manifestações culturais brasileiras. 

Nesse caso, é importante destacar que valorizar as práticas escolares que transformam o aluno de mero receptor de conhecimento em um produtor de textos carregados de subjetividade e elaboração estética, é fundamental. Essas produções não devem, necessariamente, estar sujeitas à pressão de processos avaliativos. Ao se reconhecer como alguém que não só consegue compreender textos literários, independente de sua extensão, mas também como alguém capaz de produzir literatura, o aluno tem sua autoestima intelectual ampliada, o que favorece sua participação em futuras atividades de maior dificuldade e potencializa sua iniciativa diante de desafios pedagógicos propostos ao longo de sua trajetória escolar. 

Se a atividade de produção individual de trava-línguas for muito avançada para a turma, uma atividade que também levará em conta a criatividade dos alunos é a ilustração desses textos de modo inventivo, o que permite um diálogo com a disciplina de artes e a descoberta de variadas técnicas de ilustração. 

O trabalho com trava-línguas, portanto, nos mostra que a participação desse gênero na escola é capaz de ir muito além do que a simples presença em um momento de brincadeira; podendo, além disso, se desdobrar em oportunidades de explorar diversos usos linguísticos e ampliar os saberes que envolvem a cultura, a história e a arte de um povo.

DICA DE ESPECIALISTA 

Por Kamil Giglio 

Armazém do Folclore 

Em “Armazém do Folclore”, Ricardo Azevedo apresenta uma coletânea de variados textos que exaltam a riqueza da cultura popular brasileira e levam o leitor encontrar um pouco do nosso imenso e instigante imaginário popular.   

Ao ler sobre o folclore, aprendemos sobre a humanidade, damos asas à imaginação e alimentamos a criatividade. Com um repertório tão rico de textos é possível trabalhar conjuntamente com a leitura, algumas atividades lúdicas, como por exemplo, iniciar uma aula  com os advinhas dando dicas com desenhos no quadro, elaborar uma canção com o trava-línguas, criar desenhos para representar os seres fantásticos, fazer teatro de fantoches com os contos, explorar e inventar as frases feitas, brincar com as palavras inventando novas línguas, ou se deliciar proporcionando momentos divertidos ao convidar os estudantes para ajudar na elaboração das receitas culinárias.   

Minicurrículos 

Diego Domingues

Graduado em Letras Português – Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com Especialização em Educação de Jovens e Adultos pela mesma instituição e Especialização em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/FFP); e Doutor em Linguística Aplicada pela UFRJ. Atualmente, é professor de Língua Portuguesa e Literatura em turmas do Ensino Médio do Colégio Pedro II e integrante do grupo Práticas de Letramentos no Ensino de Línguas e Literaturas (PLELL).  

Kamil Giglio 

 Doutor e mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC/Brasil – Hochschule RheinMain/Alemanha). Professor de Ensino Superior (instituições nacionais e internacionais) com ampla experiência na formação de professores da rede básica de educação pública brasileira. Possui experiência em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com projetos nacionais e internacionais (União europeia, África e América do Sul) e trabalha, atualmente, no Núcleo de Produção de Conteúdo e Formação das editoras Ática, Saraiva e Scipione para a rede pública.

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