PNLD literário 2023: o que é o gênero novela e dicas de obras
Personagens complexos, enredos envolventes e reviravoltas inesperadas: essas são apenas algumas das peças que compõem o quebra-cabeça das novelas. Mas o que torna esse gênero tão viciante? Desvende os elementos que nos fazem maratonar as tramas e nos apaixonar pelos personagens, explorando desde a construção narrativa até o impacto cultural das novelas. Neste artigo, iremos analisar os elementos que tornam o gênero novela tão especial e cativante:
O que é o gênero novela?
No Brasil, quando ouvimos falar em “novela” a primeira referência que costuma vir à mente é aquele tipo de produção televisiva de ficção, organizada em capítulos que são exibidos quase que diariamente pelas emissoras. Nessas produções, as telenovelas, acompanhamos o desenvolvimento de uma trama que reúne diferentes núcleos de personagens em torno de um tema principal. Geralmente os enredos mais comuns abordam as dificuldades que algum casal precisa enfrentar para ficar junto ou o percurso do(a) protagonista para alcançar um determinado objetivo pessoal. Embora essa definição seja a mais popular atualmente, é importante lembrar que esse tipo de produção audiovisual foi precedido por outro gênero igualmente popular em sua época, mas realizado somente em áudio, trata-se da radionovela, que, por sua vez, remonta a um gênero literário já explorado há muito tempo por grandes autores nacionais.
Leia mais: Literatura: geração plural de novos autores e espaços na mídia
As novelas, enquanto gênero textuais, podem ser definidas basicamente como uma narrativa ficcional em prosa, um pouco mais longa do que um conto e mais curta que um romance. Nelas, os elementos e as etapas da narrativa são desenvolvidos a partir de uma trama mais sucinta, devido justamente a sua extensão reduzida. No enredo de uma novela, acompanhamos um grupo conciso de personagens que irá realizar suas ações em espaços pouco detalhados, em um tempo predominantemente cronológico. Ainda que alguns autores possam subverter essas características básicas, dando mais ênfase ao tempo psicológico ou enriquecendo a narrativa com múltiplos pontos de vista ou eventos mais complexos, é mais comum encontrarmos novelas com tramas curtas, centradas no desenvolvimento de poucos conflitos.
Leia mais: Conheça a história do ensino de literatura no Brasil
Vale lembrar que não podemos desmerecer uma característica importante de muitas novelas ao longo de várias gerações, a capacidade de ser acessível a um amplo público-leitor, atendendo a demanda por entretenimento. Em certos espaços, ainda temos vozes que desmerecem alguma obra literária por seu apelo popular, como se o fato de dialogar com as massas diminuísse o valor da narrativa. Longe de reforçar uma percepção elitista, temos que reconhecer que nenhuma obra literária deveria ser limitada a paradigmas críticos ou compreensões acadêmicas restritas. Em um mundo ideal, quanto mais leitores, com seus diferentes repertórios, uma obra alcançar, melhor.
Exemplos de obras do gênero novela
O fato de algumas das grandes obras da literatura brasileira serem novelas demonstra as notáveis possibilidades desse gênero narrativo. Entre essas obras, que exploram desde os temas mais mundanos aos mais herméticos, podemos mencionar, por exemplo, Noite na taverna, de Álvares de Azevedo; O alienista, de Machado de Assis; A Hora e Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa; A hora da estrela, de Clarice Lispector; ou ainda Um copo de Cólera, de Raduan Nassar.
Na literatura clássica internacional, as novelas também têm grandes representantes, que continuam a cativar leitores por gerações e a inspirar novas produções em diversas mídias além do campo literário. Dentre as célebres novelas estrangeiras, podemos citar Noites Brancas, de Fiódor Dostoiévski; O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson; A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói; e A metamorfose, de Franz Kafka.
Quando pensamos em práticas pedagógicas, principalmente para o Ensino Fundamental, a leitura de novelas pode ser uma boa oportunidade para expandir a diversidade de gêneros lidos e aprofundar o estudo das características dos textos narrativos. Como sua complexidade vai um pouco além do que encontramos nos contos, ler esse gênero possibilita que os estudantes tenham contato com obras que exigirão um pouco mais de concentração para que todas as etapas do enredo sejam compreendidas plenamente.
Além de considerar o trabalho com a leitura e interpretação de novelas em sala de aula, também temos a oportunidade de incentivar a produção textual a partir das discussões sobre a obra lida. O(a) docente pode propor que sejam escritas resenhas críticas que tenham como público-alvo possíveis leitores da mesma idade dos alunos, ou seja, pode ser solicitada uma produção textual que desenvolva, em linguagem infanto-juvenil, um texto argumentativo. Esse tipo de prática torna a escrita mais significativa, pois seu objetivo dialoga com a realidade linguística do jovem, considerando uma situação comunicativa mais verossímil.
Outra atividade que pode ser produzida a partir da leitura das novelas é a dramatização de passagens da história que mais chamaram a atenção dos alunos. As turmas podem ser organizadas em grupos, e cada grupo deve trabalhar na transposição dos trechos escolhidos para o gênero dramático. Devido à já mencionada característica sucinta das novelas, é possível, dependendo da etapa de escolaridade da turma, pensar na adaptação dramática não apenas de trechos, mas de uma obra inteira.
Embora, se comparado a outros gêneros bastante produtivos da literatura nacional, como poemas, romances, crônicas e contos, a novela tenha historicamente ganhado menos destaque, é inegável a multiplicidade de possibilidades de abordagem envolvendo esse gênero, fator que só evidencia como o trabalho com textos literários pode ser produtivo, ampliando saberes e reverberando positivamente na vida de todos os envolvidos.
DICA DE ESPECIALISTA
Por Kamil Giglio
A chave do corsário
Dica: Em “A chave do corsário” a autora Eliana Martins apresenta uma narrativa em dois tempos distintos: uma na atualidade, com as aventuras de Joni e seus companheiros, e outra no século XVIII, com a trama histórica da tentativa de invasão francesa na Baía de Guanabara em 1710, comandada por Jean-François Duclerc. Nessa novela, a autora combinou elementos históricos (as invasões francesas ao Brasil), turísticos (os pontos visitados pelos personagens para desvendar o mistério) e humanos (autoconhecimento, sentimentos e emoções com as angústias de Joni sobre seu relacionamento com as pessoas que ama). Isso permite que o livro seja trabalhado com abordagens de diferentes áreas do conhecimento (história, geografia, língua portuguesa, arte e filosofia) e auxilie os estudantes a buscarem entender quem somos e qual é o nosso papel no mundo. Para complementar essa proposta, é possível mesclar ou aprofundar essa jornada de autoconhecimento com o material disponibilizado pelo MEC que traz um kit de atividades socioemocionais. Acesso em: https://www.gov.br/mec/pt-br/brasil-na-escola/kit-de-atividades-sis-completo.pdf.
Clique aqui para saber mais informações
Minicurrículos
Diego Domingues
Graduado em Letras Português – Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com Especialização em Educação de Jovens e Adultos pela mesma instituição e Especialização em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/FFP); e Doutor em Linguística Aplicada pela UFRJ. Atualmente, é professor de Língua Portuguesa e Literatura em turmas do Ensino Médio do Colégio Pedro II e integrante do grupo Práticas de Letramentos no Ensino de Línguas e Literaturas (PLELL).
Kamil Giglio
Doutor e mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC/Brasil – Hochschule RheinMain/Alemanha). Professor de Ensino Superior (instituições nacionais e internacionais) com ampla experiência na formação de professores da rede básica de educação pública brasileira. Possui experiência em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com projetos nacionais e internacionais (União europeia, África e América do Sul) e trabalha, atualmente, no Núcleo de Produção de Conteúdo e Formação das editoras Ática, Saraiva e Scipione para a rede pública.